*Por Iron Ferreira
Formada em cinema e teatro, a carioca Julia Stockler possui uma expressividade artística bastante abrangente, mostrando todo o seu talento nas mais diversas plataformas. Na televisão, a atriz participou das séries “Só Garotas“, do Multishow, “Gilda“, do Canal Brasil, e “Jungle Pilot“, do Universal Channel. No teatro, dirige o espetáculo “Gravidades”, em cartaz no Laura Alvim, escreveu as peças “O que acontece quando a coisa acaba“, “Vem, Meteoro” e “Boa Noite, Professor“, além de ser professora na escola de formação de atores O Tablado. No cinema, o mais recente trabalho é no elenco de “A Vida Invisível“, de Karim Aïnouz.
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O longa, que foi selecionado pela Academia Brasileira de Cinema para concorrer a uma vaga no Oscar 2020 e que venceu a mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes, só chega aos cinemas no dia 31 de outubro e narra a história de duas irmãs que são separadas pelo pai e forçadas a se distanciarem. Em meio a uma sociedade conservadora dos anos 50, as duas lutam para retomar as rédeas de suas vidas e se reencontrarem. Presente na cerimônia de abertura do 29º Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema para prestigiar a exibição especial do filme, a atriz conversou com o site Heloisa Tolipan sobre o processo de construção de Guida Gusmão, sua personagem.
“A Guida é uma mulher muito forte. Ela sofre com toda a pressão machista que existia naquela época. Não foi fácil construí-la, tive que mergulhar no universo opressor da década de 50. Ela mantém uma profunda ligação com a irmã, mesmo após tantos anos”, frisou.
Em cena, a artista contracena com Carol Duarte, que interpreta Eurídice Gusmão, a protagonista e irmã de Guida. Segundo ela, a contribuição da atriz para o projeto foi essencial, tornando a química das duas, em tela, ainda mais real: “A Carol sempre foi solicita comigo, embora a gente não conhecesse o trabalho uma da outra. Para o papel, era necessário que a gente tivesse algum tipo de afinidade. O mais engraçado nessa história toda é que a gente realmente possui muitas coisas em comum e acabamos ficando muito próximas, mesmo após a finalização das filmagens. A verdade é que a gente se apaixonou. Se não fosse ela, esse filme não seria possível”.
A produção é baseada no livro “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, da pernambucana Martha Batalha. Julia afirmou que decidiu fazer parte do filme pela forma como ele ajuda a promover a reflexão sobre a história de muitas mulheres que foram silenciadas ao longo de suas vidas. De acordo com ela, é necessário que haja união para deter o avanço das atitudes machistas.
“Eu acho muito importante falarmos sobre o apoio entre nós mulheres. O filme, de forma subjetiva, também fala sobre isso. São mulheres que tem suas vidas silenciadas por homens e que acabam sendo obrigadas a se alinharem diante de uma sociedade patriarcal. Quando todas nós nos dermos conta da nossa força, será mais fácil lutar contra tudo isso”, disse.
Assista:
A atriz ainda nos contou um pouco sobre o processo de seleção para fazer parte do elenco. Por ainda não possuir um reconhecimento midiático expressivo, ela não acreditou que teria chances de conseguir o papel: “Eu recebi um e-mail dizendo que era para mandar um vídeo de três minutos. Eu achei que não fosse passar por não ser uma atriz famosa. Uma semana depois, após ter chegado de uma festa às seis horas da manhã, decidi fazer o vídeo e mandar. Após isso, me chamaram para fazer a segunda e terceira fase do teste. Passado um tempo, eu já estava descrente de que seria selecionada. Quando encontrei com o Karim, ele me recebeu com um abraço e perguntou se eu aceitava viver a Guida Gusmão”.
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Embora “A Vida Invisível” seja apenas o seu terceiro trabalho no cinema, ela revelou que se sentiu bastante tranquila ao ser dirigida por Karim Aïnouz. A artista elogiou o profissionalismo do cineasta, que busca extrair o máximo de verdade e emoção dos atores: “Trabalhar com o Karim é maravilhoso. É diferente de tudo o que eu já presenciei. Ele nos da liberdade para construir em cima do que ele propôs. Muitas das cenas foram acontecendo no calor do momento e de acordo com o que íamos sentindo. Ele faz questão de imprimir sentimentos em seus filmes”.
Vivendo uma ótima fase em sua carreira, a atriz irá fazer sua estreia na televisão aberta em “Éramos Seis“, nova novela das 18h da TV Globo, escrita por Angela Chaves e baseada no livro homônimo da autora paulista Maria José Dupré (1898-1984). Na trama, Julia irá interpretar Justina, que sofre de um distúrbio mental e é filha de Emília, personagem de Susana Vieira. “Conheci a Susana nesta novela e está sendo um presente conviver com ela. Uma atriz intuitiva e generosa que me acolheu com o coração aberto. Com sua seriedade profissional, eu tenho certeza que trilharemos juntas uma linda jornada. A Justina é um personagem que está me ensinando novos ângulos para olhar o mundo. Através de um universo particular e extremamente sensível, transita no seu imaginário construindo maneiras próprias de se comunicar com as pessoas”, contou.
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