“O filme retrata a cultura patriarcal de maneira visceral”, diz Carol Duarte sobre ‘A Vida Invisível’


Em conversa exclusiva com o Site HT, a protagonista do mais novo longa do cineasta cearense Karim Ainouz contou tudo sobre o processo de construção de sua personagem e a dobradinha com Fernanda Montenegro

 

*Com Iron Ferreira

Embora tenha começado, em 2008, a carreira no teatro foi através da televisão que a atriz Carol Duarte ganhou o público, ao viver o transexual Ivan na novela “A Força do Querer”, escrita por Glória Perez e exibida, em 2017, pela Globo. Após uma passagem modesta por “O Sétimo Guardião”, de Aguinaldo Silva, como Stefânia, ela voltou aos holofotes por interpretar Eurídice Gusmão no filme “A Vida Invisível”, do cineasta cearense Karim Aïnouz, que venceu a mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes e foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para tentar uma vaga no Oscar 2020. A artista esteve presente no 29º Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema para a première nacional do longa, e conversou com o Site Heloisa Tolipan sobre o processo de construção da sua personagem.

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A atriz falou ao Site HT sobre o processo de construção de sua personagem (Foto: Rogério Resende)

“A Eurídice é uma mulher que fica. A Guida vai embora e a invisibilidade dela está dentro de casa. Ela não fala, vive constantemente sufocada. Como construir isso? Ela não foi uma pianista, não teve um casamento bem sucedido e talvez não quisesse ser mãe. Essas questões me comoveram muito. Eu lembrava muito da minha avó ao interpretar a Eurídice. Foi uma vida apagada, dentro de casa e cuidando dos filhos. Ela pedia permissão para o meu avô. Ela era uma mulher invisível. O amor que ela tinha pela irmã era lindo, se elas tivessem vivido juntas, talvez a vida dela fosse diferente. O filme retrata a cultura patriarcal de maneira brutal…visceral”, frisou Carol.

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Ela ainda revelou que não esperava ser escalada para a produção, que foi inspirado no livro “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão“, da autora Martha Batalha, afinal, tinha acabado de fazer um papel muito melodramático na novela: “Eu mandei um vídeo de três minutos mostrando o meu rosto, sem falar nada. Quando me ligaram pedindo que eu fizesse a Eurídice, fiquei muito emocionada. Quando eu soube que se tratava de um melodrama, fiquei um pouco ressabiada, talvez por preconceito meu. Eu tinha acabado de fazer um papel super melodramático em uma novela. Porém, depois que li o roteiro, me apaixonei pela história na hora”.

Julia Stockler, Karim Aïnouz e Carol Duarte na cerimônia de abertura do Cine Ceará (Foto: Rogério Resende)

No filme, a artista contracena com Julia Stockler, que interpreta Guida Gusmão, a irmã de sua personagem. Ao HT, ela falou como a parceria com a atriz carioca, que foi escalada para viver a filha de Susana Vieira na próxima novela das 18h da TV Globo, intitulada “Éramos Seis”, a ajudou: “Como eu e a Júlia iríamos fazer dois papéis muito intensos e cheios de drama, era necessário que a gente se aproximasse bastante. A minha personagem lida com a ausência da irmã a todo o momento, e para isso, nós precisamos nos conectar de uma forma mais intensa. A Júlia me ajudou muito em todo o processo de construção da personagem e se não fosse por ela, eu acho que não teria saído tudo perfeito. É uma atriz incrível que me ajudou desde o primeiro momento”.

Carol ainda fez questão de elogiar e agradecer a dama da dramaturgia brasileira, o ícone Fernanda Montenegro. Fernanda, que também está no elenco de “A Vida Invisível”, e foi responsável por homenagear o amigo e diretor Karim Aïnouz com o Troféu Eusélio Oliveira durante a cerimônia de abertura do Cine Ceará, interpreta a segunda fase de Eurídice. “Fiquei muito feliz em dividir essa personagem com a Fernanda. Poder viver isso em uma fase jovem da carreira, como eu consegui, é de uma honra sem precedentes. Ela é incrível em cena, possui uma verdade incomparável. Tenho muito orgulho de ter dividido a Eurídice com ela”, comentou.

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Elenco de “A Vida Invisível” apresentando o longa no palco do Cine Ceará (Foto: Rogério Resende)

A atriz concluiu dizendo que espera que o filme possa inspirar as pessoas, contribuindo para que a sociedade reflita sobre o machismo e a forma como ele é tóxico: “Espero que esse filme possa mostra para as pessoas como o machismo e o patriarcado são nocivos. São duas mulheres que tem suas vidas apagadas contra suas vontades. É muito triste saber que muitas mulheres viveram e vivem essa situação todos os dias. Espero que o filme do Karim, que conta a história de uma maneira magistral, desperte essa consciência nas pessoas”.