Os desfiles da segunda noite da 24ª edição do Minas Trend, evento promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas (FIEMG), foram marcados pelo handmande do Coletivo Alagoas, com as marcas Aquas Beachwear, Alana Tenório, Caleidoscópio, Carol Paz, Estúdio Monteferro, Endy Mesquita, Leila Monteiro, Maneka, Manu Mortari e Sandra Cavalcante; por uma reflexão transcendental de Patrícia Motta, pela beleza e preciosidade dos cristais de Denise Valadares e a estreia de Raquel de Queiroz que resgatou suas memórias de infância em sintonia com uma apresentação emocionante e ovacionada com a direito a cantora Elba Ramalho assinando ao vivo a trilha sonora.
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COLETIVO ALAGOAS
Um sino de boi anunciava a passagem do Coletivo Alagoas pela passarela do Minas Trend. O boi simboliza bondade, calma e força pacificadora. E foi com esse badalar que poderia prever uma chuva criativa no sertão de dez marcas alagoanas: Aquas Beachwear, Alana Tenório, Caleidoscópio, Carol Paz, Estúdio Monteferro, Endy Mesquita, Leila Monteiro, Maneka, Manu Mortari e Sandra Cavalcante. Todas mergulharam nas páginas de Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos para mostrar uma coleção permeada pelo handmade e na força do povo nordestino, ao som de A morte do vaqueiro, de Luiz Gonzaga e depois de Lilith, de Ava Rocha.
O romance publicado em 1938, retrata a vida miserável de uma família de retirantes sertanejos obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos castigadas pela seca. “Foi uma responsabilidade enorme. Primeiro que estamos falando de um estado tão rico e grandioso culturalmente. Neste caso trabalhamos em conjunto com dez marcas, que frisaram a união em uma coleção, mas repleta de identidade. Foi praticamente uma prova de matemática. Nos debruçamos nos detalhes e o resultado final foi surpreendente”, contou animado o stylist Davi Leite. A beleza assinada por Ricardos dos Anjos apresentou um cabelo preso numa das laterais em ondas, inspirado em Maria Bonita e uma pele bem feita, levemente alaranjada, fazendo uma alusão à poeira do solo árido do sertão.
O site HT conversou com o presidente do Sindivest de Alagoas, Francisco Acioli, e descobriu duas grandes novidades, em primeira mão. “O sucesso desse coletivo é tão grande que na edição de outubro, do Minas Trend, o Sindivest de Alagoas estará com 16 marcas na feira de negócios”. O presidente ainda nos contou que em 2020, entre janeiro e fevereiro o Sindivest Alagoas irá inaugurar a primeira loja corporativa, nos moldes de uma collab, para fomentar ainda mais as vendas das marcas associadas. “Estou contando em primeira mão para vocês essa notícia. Ela vai ficar no bairro de Jatiuca, perto do Maceió Shopping”, revelou.
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Uma criação surpreendente. Foi lindo ver o desenho da renda que a Aquas Beachwear aplicou em suas peças para o desfile coletivo. A estilista Kelly Acioli nos contou que a marca vai apostar para o Verão 2020 em peças exclusivas e em edição limitada. “Queremos um produto mais exclusivo, com mais identidade. Minha inspiração foi a garra do sertanejo e no mandacaru, o principal sustento do nordestino”disse a estilista já apontando para o slow fashion. “Desde o começo foi emocionante saber que iríamos homenagear este ilustre alagoano, Graciliano Ramos. Buscamos em nossas raízes, e a alma de tudo está na força do nordestino que tira leite de pedra”.
A marca de acessórios Alana Tenório Brand, da estilista Alana Tenório, desfilou a coleção Dias de Sol fazendo um síntese da relação da arte e moda. “Eu considero o trabalho manual uma verdadeira arte, que felizmente está começando a ser valorizada no Brasil, principalmente por conta de eventos como o Minas Trend. Em especial, nesta edição, em que o feito à mão chegou com muita força. É uma arte de vestir e posso dizer que me sinto extremamente honrada de fazer parte dessa apresentação aqui no Minas Trend. É de grande importância que a moda brasileira possa ecoar para o mundo. Iremos mergulhar em todo o nosso universo criativo, mostrando a beleza e valorizando a arte do nosso Nordeste”, ressaltou Alana ao site HT.
As designeres Renata Fontan e Janine Mailda, da Caleidoscópio criaram acessórios inspirados em personagens do livro de Graciliano Ramos. “Idealizamos três looks para o desfile. Um inspirado no vaqueiro fazendo uma alusão ao gibão. O segundo se perdeu na barra do vestido de ramagem de Sinhá Vitória, que ela usava com muita alegria em ocasiões especiais como o Natal. E o último que contemplou o pôr do sol com nuances de dourado e preto, depois de um dia difícil é chegada a hora de descansar”, explicou Renata Fontan, acrescentando: “Quando o Ronaldo Fraga sugeriu esse tema, nós pensamos em voltar à infância através do livro”explicou a designer Renata Fontan. A marca usa e abusa da mistura de materiais, como o couro, metal, renda, banho de ouro e até Swarovski.
Com uma visão romântica da história de Graciliano, a estilista Carol Paz, da marca homônima, contou que ama misturar diferentes materiais em suas criações e que isso reflete bastante o seu DNA. “As peças desse desfile têm muitos metais de alta fusão, cristais Swarovski, pedras naturais. Homenagear Graciliano foi um imenso prazer devida sua tamanha importância como escritor. O livro em especial me toca bastante por contar uma história de determinação e resistência do povo nordestino”, ressaltou a criadora.
As experimentações de Fernanda Ferro para o Estúdio Monteferro foram de grande destaque nesse desfile coletivo. A marca de jóias artesanais, feitas à mão, é muito apreciada por suas criações primorosas. “Eu amo criar produtos artesanais com um pegada cosmopolita. Gosto dessas misturas, aparentemente distantes, como a textura da madeira com os cristais, as pedras nobres com rústico. Eu adoro trabalhar com pedras brasileiras, porque é o que temos de mais precioso. São cores que só existem aqui no Brasil, cada gema é única”, pontuou a criadora.
O Ateliê Endy Mesquita trouxe um lado western para o desfile do Coletivo Alagoas. A designer de acessórios Endy Mesquita mergulhou em paraíso alagoano, a Barra de Santo Antônio, que é considerada uma das dez melhores praias do Brasil. “Eu acabei olhando para muitos elementos nesse pedaço intocado do Brasil, para as falésias que margeiam as belas praias da região”, disse. E isso resultou em belas tramas nos tons pastéis e alaranjados. Uma coleção que promete ser hit nos balneários brasileiros.
A marca de acessórios Leila Monteiro Brand, da designer Leila Monteiro pegou o rosário e trouxe a fé do sertanejo como fonte de inspiração para o desfile. “O sertanejo tem muita fé. Usa muito um rosário no pescoço. Criamos correntes e fomos adicionando diferentes pingentes e cristais para permear essa fé do sertanejo. Fizemos até um body chain, um acessórios vestível que vai de ombro a ombro, que foi a materialização da nossa inspiração”. A estilista contou ainda que foi uma grande responsabilidade essa homenagem. “Fiquei emocionada com essa homenagem pelo porte do romancista. Sua importância para os nordestinos é imensa, porque ele narra a alma do nosso sertão através do livro”, contou ao site HT.
“É sempre muito bom falar do nosso nordeste”, disse a designer da Maneka, Lara Amorim. “Nós trouxemos em nossas peças e na coleção a esperança de dias melhores, com leveza e paz. No desfile, nós mostramos a renda singeleza, que é um trabalho feito em parceria com a Associação de Rendeiras de Paripueira. Nós escolhemos as mandalas para trabalhar por ter muitos pontos. A trama acabou virando estampa dentro da coleção em algumas peças”, explicou Lara. A estilista nos contou ainda sobre a valorização do handmade. “Hoje está sendo mais valorizado. Eu estou na moda há 25 anos e tempos atrás nem se falava nisso. Essa associação de mulheres que eu trabalho, elas ficam eufóricas quando conseguem visualizar aquele trabalho modesto que elas fazem em uma peça ou em um desfile do Minas Trend, porque tudo é feito com muito esmero; É muito bom e esse processo ajuda na valorização da mão de obra e na autoestima das artesãs. Lembrando que a Maneka é uma marca plus size. “Nós ainda fazemos a renda em tamanho dobrado, porque a moda democrática. Poucos fazem esse estilo na numeração maior, o que é um grande diferencial nosso”.
A marca Manu Mortari une em suas coleções tendências e tecnologias. A designer que se declarou fã de Graciliano Ramos, escolheu à personagem Sinha Vitória, de Vidas Secas, como sua musa para criar peças que poderiam estar em qualquer resort do planeta. “O principal motivo dessa coleção é provocar novas emoções e despertar um novo olhar para a cultura”, explicou a estilista. Uma moda descomplicada que é pé-na-areia, boho, ecochic, que traz uma energia. “A coleção Vitória foi inspirada na obra do meu ‘crush’ Graciliano Ramos, autor de Vidas Secas. Eu nem consigo descrever a minha emoção”. Como boa nordestina, a estilista não poderia deixar de lado os patchworks e os famosos grandma squares (o crochê da vovó). A cartela de cores veio da natureza alagoana, nos tons verde lodo, tons de terra, preto, branco e o colorido que fica entre a palheta de roxo e vermelho.
“Minhas peças encaixaram facilmente na temática”, contou a estilista Sandra Cavalcante que já trabalha com trama raízes, que fazem uma alusão ao manguezal do sertão. “Tudo foi feito em cima da renda filé e toda a trama que faço. Nós misturamos o filé, crochê, pedraria e uma peça pode levar 30 dias para ser confeccionada, depende de sua complexidade”, contou a designer que fez um alerta sobre os produtos handmade. “Precisamos valorizar mais o custo de produção das peças feitas à mão. Essa consciência precisa ser difundida e entendida”, disse Sandra.
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PATRÍCIA MOTTA
Antes de seu desfile, a estilista Patrícia Motta recebeu o site HT no backstage para nos contar todos os detalhes sobre a coleção batizada Cura. “Inspirada na natureza do criar, nós partimos dos quatro elementos: terra, fogo, água e ar. Cada um deles representa um bloco da coleção que traz muito crochê e rechilieu misturados ao couro”, explicou a criadora. A trilha da apresentação foi feita para harpista Ana Luiza Cicarini, que com apenas 12 anos encantou a plateia com um som transcendental nos levando ao nirvana.
A expert em couro levou uma reflexão para sua passarela. Que além de vestir o corpo, Patrícia parecia querer a alma da platéia que ficou encantada com a destreza da jovem harpista. Os shapes da coleção ficam entre a feminilidade dos anos 60, trazendo comprimentos mais curtos na ‘linha A’, que transitam com os clássicos anos 50 que fazem parte do DNA da marca.
Ricardo dos Anjos nos contou que a beleza desse desfile foi apenas um rabo de cabelo baixo, uma pele saudável com uma interferência de tintas plásticas nas cores da coleção – azul, verde, preto, branco e vermelho. A moda de Patrícia Motta contou ainda com peças customizadas por Rafael Motta, filho da estilista que é artista plastico e aquarelou ramos de flores em jaquetas e vestidos. Os looks tinham volumes localizados como na barras das saias, quase uma cauda sereia e nos ombros.
DENISE VALADARES
A beleza dos cristais foi a inspiração da estilista Denise Valadares para a estação Verão 2020. Ela fez uma viagem entre os anos 70’s e 80’s. Uma coleção com muitos volumes nas saias, nas cinturas com pepluns e até uma interpretação da manga presunto que flertam com a delicadeza do folk e do romantismo quase barroco. Uma coleção, em parceria com o stylist Alberth Franconaid, cheia de texturas e muito brilho, no tons de palha, off-white, lilás, amarelo gema, rosa pink. “Essa coleção foi um grande exercício criativo. Os cristais e as pedras preciosas serviram de inspiração. Suas facetas nos ajudaram a moldar os shapes dessas verdadeiras armaduras femininas que valorizam a força da mulher”, contou a estilista Denise Valadares.
O handmade foi a palavra-chave da coleção que mostrou peças em algodão, laise e seda. “Nessas quatro anos de mercado conseguimos nos posicionar e apresentar a força do nosso trabalho manual, tão tradicional e importante aqui em Minas”, disse Denise. A beleza de Ricardo dos Anjos foi um toque final com uma pele bem feita, sem muita cor e um cabelo natural.
RAQUEL DE QUEIROZ
“Essa coleção tem muita história envolvida, principalmente pela minha paixão com desenho e costura desde pequena. Até hoje, eu tenho meu caderno de poesias que foi a grande inspiração desse verão. Eu tinha um desejo antigo de falar da minha história e abrir as páginas desse caderno para vocês”, revelou a estilista Raquel de Queiroz ao site HT. O desfile contou com uma convidada mais do que especial nessa passarela que foi ovacionada pela plateia: Elba Ramalho. A cantora assinou a trilha do desfile com um repertório escolhido pela própria Raquel. A marca é especializada em roupas de festa e tem uma produção 100% manual e algumas peças podem levar de 30 até 60 dias para ficarem prontas, afinal, as roupas são verdadeiros bordados em forma de poesia.
Com uma cartela de cores suave e aconchegante, nos tons de azul, verde e terrosos a grife mostrou uma grande variedade de shapes: curtos, mini, midi, longos e franjas que é carro-chefe marca. Com muita transparência com adornos barrocos. Até um rufo, uma gola que foi sucesso no século XVI, foi vista na passarela para falar de uma nostalgia que cai como uma braço caloroso, assim como a voz de Elba Ramalho que levantou a plateia no final da apresentação ao som de Frevo Mulher, de Zé Ramalho.
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