O cancioneiro gaúcho declara que o Rio Grande é ‘do Sul, Céu, Sol, Sul, terra e cor’ e que ‘onde o que se planta cresce’, mas, acima de tudo, o que mais ‘floresce é o amor’. Sob esse prisma, a 14ª edição da Zero Grau – Feira de Calçados e Acessórios, promovida pela Merkator Feira e Eventos em um dos grandes destinos turísticos do Brasil, Gramado, na Serra Gaúcha, fará história como o maior evento do setor calçadista no Rio Grande do Sul desde que o estado atravessou, em maio, um dos piores eventos climáticos registrados nas últimas décadas. O que vimos nos meses subsequentes foi a resiliência, a união e a determinação de 11 milhões de gaúchos para a reconstrução de suas vidas. Nosso país é o quinto maior produtor mundial de calçados e o Rio Grande do Sul, o maior empregador do setor. E, entre os dias 18 e 20 de novembro, a Zero Grau, referência da economia ativa do setor, reunirá, no Serra Park, 150 expositores, 240 marcas + grupos Estação Moda RS e Três Coroas Shoes, que somam 46 empresas focadas na moda autoral, repleta de saberes ancestrais dos gaúchos e cujo “feito à mão” ainda é o grande protagonista.
Conversamos com Roberta Pletsch, diretora de Relacionamento da Merkator, empresa que fomenta, através de suas feiras, a comercialização do que há de mais inovador e tecnológico no mercado, funcionando como uma conexão entre compradores do Brasil de Norte a Sul e do mundo. Ela ressalta a resiliência do gaúcho e a força empreendedora na retomada da produção nos polos calçadistas do Rio Grande do Sul. “Estamos orgulhosos em sermos a primeira feira em nosso estado depois da tragédia que nos abateu. Ao lado dos produtores de calçados estamos também oportunizando crescimento para o turismo na Serra Gaúcha já que teremos um número expressivo de lojista nacionais com mais de 1.000 CNPJs e cerca de 100 importadores de quatro continentes”, pontua. A Zero Grau, voltada para o Outono-Inverno 2025, receberá 8 mil visitantes, impulsionando as negociações entre os principais players das indústrias, o varejo nacional e importadores.
Foi muito trabalho, parcerias estratégicas, muita troca ouvindo o mercado. Passa um filme na cabeça, e vem uma vontade de celebrar tudo isso, nunca esquecendo o caminho que trilhamos até aqui. Também tenho um orgulho muito grande da equipe que temos, que joga junto, chamamos de família Merkator, porque é assim mesmo, na união, vestindo a camisa. É um privilégio termos junto de nós esses profissionais – Roberta Pletsch
A paixão de Roberta em promover feiras reunindo as indústrias calçadistas, movimentando o mercado nacional e gerando milhões para as exportações brasileiras, é uma história que atravessa gerações, tecida com amor, trabalho árduo e raízes familiares. “Desde pequeninha acompanhava meu pai nas montagens das feiras. Promover e organizar cada edição está no meu DNA”. Ela sempre ressalta que o pai, Frederico Pletsch, diretor da Merkator, é exemplo de perseverança, crença no setor calçadista e garra ao idealizar duas das maiores feiras do Brasil: a Zero Grau e o Salão Internacional do Couro e do Calçado (SICC), principal plataforma de lançamento e negociações das coleções Primavera-Verão. “Ele acreditou em um sonho e foi lá e fez, mostrando para todos que era possível”, reforça. Nascido em Novo Hambugo (RS), Frederico recebeu, em 2019, o título de “Cidadão Gramadense” pelo empreendedorismo na cidade, proporcionando empregos diretos para fornecedores locais, impostos públicos, geração do turismo de negócios, visibilidade do município no Brasil e em mais de 40 países. Em recente entrevista, pedi a ele que fizesse uma análise de sua trajetória de vida: “O meu maior legado é, além de colaborar com o setor calçadista, realizar as feiras em uma das cidades mais bonitas do Brasil: Gramado”.
ALINHAVANDO FUTURO (OS)
Na esperança de novos tempos com a retomada do girar a roda da economia no Rio Grande do Sul, Roberta Pletsch revela que a palavra-chave desta edição da Zero Grau é “futuro“, que vem sendo desenhado pela força do povo gaúcho. É importante relembrar que, em maio, quando o estado se viu diante de uma tragédia provocada pelas chuvas, a Merkator precisou cancelar a realização do Salão Internacional do Couro e do Calçado (SICC). “Toda a estrutura da feira estava sendo montada no Serra Park, em Gramado, as passagens aéreas dos lojistas compradas e estadias pagas nos hotéis da cidade, quando começou aquela chuvarada. Cidades destruídas, mortes, desespero. Só quem estava aqui podia entender. Ao mesmo tempo, começou uma onda de solidariedade vinda de todo o país. Foi reconfortante”.
Ficamos tristes diante da tragédia, obviamente. Víamos fabricantes chorando e nos solidarizamos com eles. Então, alinhamos sentimentos de emoção, persistência e força de vontade, e, mesmo diante de um cenário cheio de incertezas, o lado humano pesou muito nessa hora. Todos fizeram uma corrente de ações para a ajuda mútua – Roberta Pletsch
Segundo a diretora de Relacionamento da Merkator, diante daquele cenário era difícil prever se haveria a feira Zero Grau este ano, especialmente em razão do fechamento do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Só em 21 de outubro, com cerca de 80% da capacidade operacional, o aeroporto, principal hub do transporte aéreo da região Sul, retomou a operação de voos comerciais. “Nós só tínhamos o aeroporto de Caxias do Sul, que é pequeno e sofre com a neblina, ou então pegar a estrada até Florianópolis (SC). A logística para a viabilização da feira nos preocupava muito. Pessoalmente, eu me questionava se as operações dos voos no aeroporto de Porto Alegre seriam retomadas a tempo da feira, mas hoje estamos aliviados”, afirma Roberta, ressaltando também o retorno da produção nas indústrias. “A gente tem um cluster coureiro-calçadista muito forte”, frisa.
A realização da Zero Grau conta com o apoio do Sindicato da Indústria de Calçados de Estância Velha, Sindicato da Indústria de Calçados de Ivoti, Sindicato da Indústria de Calçados de Igrejinha, Sindicato da Indústria de Calçados de Novo Hamburgo, Sindicato da Indústria de Calçados de Parobé, Sindicato da Indústria de Calçados de Sapiranga e Sindicato da Indústria de Calçados, Componentes para Calçados de Três Coroas. Frederico Pletsch e Roberta são exemplos de empreendedorismo, mas sempre reconhecem o feedback de quem os apoiou. “Foram as parcerias que nos ajudaram a decolar. Por isso somos muito fiéis a quem nos deu valor. Temos enorme carinho por quem sempre acreditou em nós”, diz Roberta Pletsch.
A mobilização foi tão grande para a realização da Zero Grau com os lançamentos das coleções Inverno 25 quanto o esforço dos players das indústrias, varejistas e compradores internacionais que reconhecem o papel importante. E os Pletsch e todo o setor calçadista seguem esperançosos no aquecimento do mercado brasileiro de calçados. “A previsão para este ano é de um crescimento de até 3% no setor, o que deve resultar em cerca de 893 milhões de pares produzidos. E me chama muita atenção a venda de calçados para a Argentina em um crescente nos últimos meses. Já nas exportações, projetamos uma desaceleração de até dois dígitos”, aponta Roberta Pletsch.
Obviamente houve uma redução na produção deste ano, comparada aos outros anos, mas, assim como o Rio Grande do Sul foi atingido e retomou as rédeas da própria vida, nós também. Somos guerreiros e precisávamos fazer a Zero Grau acontecer, não só por nós, mas, principalmente, para impulsionar a economia gaúcha. Há toda uma cadeia que se movimenta para além da feira: as equipes de limpeza, o pessoal do estacionamento, a gastronomia – bares e restaurantes – e toda a rede hoteleira de Gramado e arredores, que até influencia o Natal Luz. Tudo se contagia – Roberta Pletsch
Roberta reforça que a Zero Grau “tem o objetivo de fomentar as exportações. Então, essas indicações dos importadores se reverte em subsídio e é feita pelos fabricantes de calçados. Daí, eu acredito que o sucesso das feiras resida na nossa expertise em organizar e promover o evento e a do fabricante em indicar os lojistas do mercado nacional e internacional através destas plataformas de lançamentos”.
A Feira de Calçados e Acessórios vai proporcionar aos lojistas uma imersão no projeto eMerkator Talks, com palestras que potencializam vendas e fidelizam clientes para as empresas. “A grade de assuntos do eMerkator Talks foi especialmente pensada para entregar conteúdo de qualidade ao visitante do evento. Nossa feira é completa. Aqui o público, além de comprar calçado, vem buscar informações relevantes que vão ajudá-lo na sua rotina de trabalho: escolher corretamente a renovação do seu estoque, aprender novas técnicas para aplicar na sua loja e ampliar seu faturamento quando retornar de Gramado”, diz Roberta Pletsch, acrescentando: “em suma: um manancial de informações sobre inovação, tendências e tecnologia. Muitos participantes da feira indicam que as palestras impactaram suas trajetórias. Houve relatos, por exemplo, de lojistas que transformaram a filosofia de seus empreendimentos após uma determinada palestra. Alguns implementaram sistemas de gestão de estoque, enquanto outros começaram a investir no treinamento dos funcionários para um atendimento ao cliente mais qualificado. Esse retorno positivo é um dos nossos principais argumentos”.
Nesta edição, a Linx SetaDigital apresentará, a partir de segunda-feira, dia 18, Acelere o giro de estoques ampliando sua vitrine no digital, com Rafael Reolon e Juan Franchesch. Na sequência, 16h, A era do cashback e fidelização de clientes no varejo calçadista, na análise de Thiago Marcon. Por fim, às 18h, Cravo & Canela apresenta: Viva o NOVO de novo, com Ina Rocha. Já na terça-feira (19), às 11h, Fernanda Lemes fala sobre Desafios Diários: O Segredo para aumentar as suas vendas. Às 13h, Linx SetaDigital apresenta Inovação: Como descobrir o potencial da sua loja com tecnologia, com o talento de Luiz Fernando de Obrego. Por sua vez, às 15h, o Grupo Boticário apresenta Bate Papo sobre tendências do canal departamento, debatido por Carolina Fernandes e Adriano Pereira. Dando continuidade, às 17h, Mariza Dias fala sobre o Crescimento Através da Imagem do Negócio. Para fechar o dia, às 19h acontece o 2º Prêmio Destaque Exclusivo Zero Grau.
No último dia, na quarta-feira (20), às 11h, Linx SetaDigital expõe levanta a análise sobre Novas tecnologias e o impacto na eficiência da sua loja, com a presença de Nathan Polet. Concluindo os trabalhos, às 12h, Fernanda Lemes fala sobre o tema Desenvolva talentos e acelere resultados.
Um espaço foi destinado a uma exposição de peças acervo do Museu Nacional do Calçado e a apresentação do livro Aos Seus Pés, de Cristiano Prodanov, Camila Brum e Ida Helena Thon. “Eles vão contar a história do calçado através de oito modelos e desse livro que é maravilhoso. O acervo do museu tem peças exclusivas, como um sapato de Ayrton Senna (1960-1994), tênis de Gustavo Kuerten… Acho que o pessoal vai se encantar. O lojista estará lá, e nada melhor do que também conhecer a história do calçado”. No local também vão estar disponíveis para visitação, os oito calçados que se encontram no livro e a mala de “caixeiro viajante”- representante comercial hoje, com formas de madeira antigas, banners da história e um conjunto de malas, onde serão levados um pé-de-moleque e alguns objetos de sapateiro.
Participar da Feira Zero Grau permite a exposição e a socialização da história do cluster coureiro-calçadista, fator econômico fundamental para o crescimento de toda uma região. Contando esta micro-história, através de exemplos físicos, numa feira desta amplitude, conseguimos agir como veio comunicante entre as gerações passadas e as que virão – Ida Helena Thon, diretora e curadora do MNC
CONSTRUÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DE LEGADO
Para Roberta Pletsch, o trabalho é mais do que negócios – é uma forma de honrar a história de sua família e de cada geração que contribuiu para o setor. “Meu avô tinha uma fábrica de calçados. Quando ele faleceu, meu tio-avô assumiu os negócios e convidou meu pai para atuar como representante. Então, não tem como não ser apaixonada pelo setor coureiro-calçadista que é tão importante para o Brasil”, afirma.
Quem vê esta mulher assertiva e determinada nem imagina que por muito pouco não seria uma empresária, mas sim uma jogadora de tênis. “Eu jogo tênis desde meus quatro anos. Com 14 anos representei o Brasil no Equador, e, depois no Mundial do Japão, com 16 anos. paralelamente, cursei a faculdade de Turismo. Todas tranformações muito importantes e amadurecidas”, conta Roberta.
Antes mesmo de ingressar na faculdade, eu já dava aula de tênis para as crianças, sempre trabalhei. Meu pai ensinou a ter independência – Roberta Pletsch
O setor calçadista brasileiro navega em um terreno econômico de constantes oscilações, refletindo a própria complexidade de um Brasil onde a moeda flutua e a inflação ainda preocupa. Na opinião de Roberta Pletsch, os desafios são encarados com resiliência e uma crença profunda no poder da união como catalisadora de mudanças. “A economia brasileira depende muito do dólar. Se um fabricante de calçados erra uma coleção, a fábrica quebra. Considero que a união não é apenas uma ação solidária, mas uma estratégia fundamental para o fortalecimento do setor e da economia como um todo”.
Ser referência no competitivo mercado calçadista não é fácil, mas para Roberta Pletsch, o caminho começa com um produto que ofereça excelência em design, qualidade e conforto. “Primeiro de tudo, acredito que seja importante alinhar esses três princípios. Isso é fundamental. Claro que depois fazer um baita de um branding da marca”, ou seja, para se destacar, é preciso construir uma identidade sólida que inspire confiança e fidelidade.
Mesmo com os desafios, Roberta encontra nas feiras, como a SICC e a Zero Grau, a motivação para continuar promovendo o crescimento do setor. “É muito, muito bom. Passamos por uma pandemia que se estendeu por dois anos e, agora, a enchente no Rio Grande do Sul, mas mantivemos a persistência. Só quem viveu o que nós vivemos entende a importância de se fazer um evento como esse. Nós somos realmente uma equipe muito capaz. E é claro que ainda temos sonhos a desejar e a realizar, como o de aumentar o nosso portfólio”.
Roberta simboliza uma empresária que acredita que a superação e o sucesso vêm da soma de união, inovação e uma profunda conexão entre as pessoas. Em suas palavras, transparece um ideal de persistência e esperança, tornando-se um reflexo dos desafios e das delícias de empreender no Brasil. Afinal, “só vive quem peleia”.
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