Na primeira noite de desfiles da 24ª edição do Minas Trend, evento promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas (FIEMG), o vanguardismo e originalidade permearam a passarela para contar as inspirações para um Verão 2020 repleto de novos horizontes ensolarados. Fátima Scofield cortou a fita da passarela com uma coleção que exaltou uma das maiores riquezas desse país: a floresta amazônica. Em seguida, o coletivo do Trendbijoux by Sindijoias/MG mostrou toda a força dos acessórios com as marcas Atelier Chilaze, Lázara Design, Mariana Amaral e Hector Albertazzi. Encerrando a noite, a Skazi surfou na onda do empoderamento feminino desde o início do século 20 com a história de mulheres pioneiras e que deixaram uma chancela de mostrar aos homens que todos nessa vida podem ter um lugar ao sol com igualdade e sem distinção de sexo. O fashion show foi embalado pela banda mineira Jota Quest.
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FÁTIMA SCOFIELD
Como uma grande defensora do nosso verde, Fátima Scofield mergulhou na floresta amazônica para semear sua coleção Verão 2020. E, seguindo a trilha dos expedicionários naturalistas, o alemão Alexander von Humboldt (1769-1859), e o francês Aimé Bonpland (1773-1858) realizou uma profunda pesquisa em parceria com biólogos especializados nas espécies presentes na Floresta. O livro Pororoca: A Amazônia no MAR, de Paulo Herkenhoff serviu ainda de fonte de profunda análise para a equipe de estilo da marca. O livro documenta todo o conjunto de obras do Fundo Amazônico da Coleção MAR, ainda em formação, e já com mais de 450 obras relativas à arte da Amazônia reunidas ao longo desses seis anos de existência do museu – o MAR foi inaugurado em 2013 no dia do aniversário da Cidade Maravilhosa, 1º de março).
Foi a partir dessa jornada pelos rios e matas da Amazônia que as criações de Fátima Scofield riscaram a catwalk na noite de terça-feira. O estilista da marca, Daniel Corrêa, conversou com o site HT e nos contou tudo sobre essa coleção. “Eu queria falar de algo ligado ao nosso Brasil, mas sem parecer clichê. Tínhamos um desejo de revistar os clássicos da marca dando vida às peças que trazem um novo olhar como flores desabrochando”. O criador parte desse conceito para ressignificar os elementos. “A nossa proposta é uma moda mais clean e com uma modelagem ímpar e repleta de composição de cores”, ressaltou. Estudando a publicação de Herkenhoff, Daniel se apaixonou por uma espécie de orquídea batizada Brassia, que foi um elemento muito enfatizados na coleção que, ora aparecia nas estampas, ora nas formas das peças. “A leveza dessa espécie nos guiou aos shapes da estação que se destacam em saias longas, midis, volumes, uma alfaiataria e drapeados feitos manualmente trazendo uma silhueta bem feminina e sofisticada”. Ainda no backstage, a stylist Renata Corrêa mostrou o processo de desabrochar de uma flor que começa com um botão e vai abrindo e exalando um perfume dos anos 50, o que nos lembrou o New Look criado por Christian Dior, em 1947.
E como na natureza tudo está sempre em plena mutação, o designer optou por tecidos com diferentes caimentos, como o crepe, o cetim duchese, o chifon de seda, a organza de seda, o gerogette e a seda nas cores azul hortênsia, amarelo canário, lilás, lima, malva, opala, pink cherry, verde jade, vermelho camélia. Uma cartela mesclada pela delicadeza das flores e a força da natureza.
A beleza do desfile, assinada por Ricardo dos Anjos, injeta uma fragrância 50’s. “Optei por ressaltar a feminilidade em focada no Lady Like. Trouxemos uma pele bem feita, bem natural ‘de bonita’ e um cabelo divido ao meio ou na lateral”, contou.
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TRENDBIJOUX BY SINDIJOIAS/MG
Desfilando pela quarta vez, no Minas Trend, o coletivo Trendbijoux by Sindijoias/MG reuniu marcas repletas de identidade e personalidade, como Atelier Chilaze, Hector Albertazzi, Lázara Design e Mariana Amaral. O fashion show contou com a coordenação de Carlos Penna e styling de Mariana Sucupira, e teve como base roupas da label Por, feitas especialmente para a apresentação. Trata-se de um projeto slow fashion, em edição limitada, assinado por Carlos Penna e Bárbara Monteiro. “Criamos duas modelagens (uma calçola e uma blusa) para servir de moldura para os acessórios, protagonistas do desfile. Os tons neutros a opção para não contrastarem em demasia com as criação desses quatro grandes nomes”, revelou Carlos Penna.
O Atelier Chilaze mostrou uma coleção forte e inovadora nessa estação. O conceito de upcycling permeou o processo criativo das irmãs Sandra e Claudia Chilaze. A linha “Velhos Amigos” é uma prazerosa memória afetiva da coleção de 2013 apresentada no Le Bon Marché, em Paris, ratificando a proposta atemporal e eclética da marca. “Começamos essa coleção quebrando todas as peças antigas que estavam em nosso estoque e fomos alinhavando ideias, tal qual uma fábula. Essa energia nos contagiou, pois era pura lembrança de dias felizes”, ressaltou a empresária Claudia Chilaze.“Queríamos propor também um alerta sobre o descarte de resíduos na natureza. Nós precisamos cuidar do meio ambiente. Acabamos ressignificando materiais antigos para criar um novo olhar para peças contemporâneas”, comentou Claudia. Além dos elementos recriados com resina, as irmãs criadoras adicionaram couro, madeira, contas e cordas. O resultado? Peças fortes, elegantes e com uma leitura muito pessoal. Puro handmade, digno de ser consumido e celebrado no nosso país e no mundo. “Essa coleção foi como encontrar os amigos para um papo, falar de histórias já contadas e vividas e ter enorme prazer em cada palavra. É um encontro, uma saudade sem nostalgia. Um elo passado, presente e futuro”, conclui Claudia Chilaze. Só para lembrar a vocês, o Atelier Chilaze foi criado nos anos 40, em pleno Centro do Rio de Janeiro, e está na terceira geração de empreendedoras. Prova tácita de que com perseverança, resistência e união é possível fazer moda nesse país.
“Pela segunda vez levamos muita alegria e colorido para a passarela do Minas Trend. Estamos sempre nos reinventando para continuarmos pioneiros e inovadores. O amor é um caminho muito forte na nossa marca”, ressalta Claudia que a cada coleção faz questão de mergulhar em pesquisas para inserir novos materiais em suas criações.
Hector Albertazzi desfilou a coleção Tom com inspiração na MPB e na força da mulher brasileira. “A atualização, a reciclagem de ideias, e a pesquisa são a base das minhas coleções. Nelas, busco encantar e envolver as mulheres em um universo onírico, repleto de glamour, mas, ao mesmo tempo, moderno e atual. Uma cor, uma forma, um sentimento, uma sensação: são essas as ferramentas que utilizo, sempre, como ponto de partida”, contou o joalheiro.
Uma linha ‘monocromática’, pois o designer que é especialista em galvanoplastia, um processo para recobrimento metálico de objetos. O resultado? Um dourado batizado de “Ouro Vintage”, e que é uma de suas marcas registradas. Hector criou e ainda cria peças memoráveis, pelas quais as mulheres se apaixonaram devido toda energia e cuidado que envolve o processo criativo. “Minha maior vontade é fazer com que as mulheres brilhem cada vez mais!”, frisou.
O desfile da grife de acessórios Lázara Design teve um significado especialíssimo. Lázara Ferreira, exemplo de empreendedora, comemorava 25 anos da marca. “É muito gratificante uma boda de prata por um trabalho. Foram muitos momentos de percalços e doação total. No mercado, a trajetória é complexa e precisamos nos doar de corpo, alma e mãos para exercermos um ofício nesse país”, desabafou. A coleção batizada Revival é uma celebração de uma caminhada de vida, com releituras de peças icônicas da história da marca. “Foi importante olhar para a nossa própria história para seguirmos em frente”. Palmas para Lázara, que estava lindíssima em fotos de preview com suas criações. Discreta, sempre esteve com a mão na massa, mas merece todos os holofotes nesta data significativa.
A linha de Verão 2020 trouxe pérolas, a menina dos olhos da marca, resgatando o glamour e o excesso dos anos 80; os colares curtos com várias voltas de couro, trabalhados em vários modelos de elos de metal, uma referência as valorosas mulheres africanas; as franjas em strass colorido, que estão em alta novamente; e os muranos, cristais coloridos, metais e fios encerrados, releitura da peça que lançou a marca mercado. Uma outra novidade nessa apresentação foram os headbands (faixas de cabeça) e as tornozeleiras.
A designer Mariana Amaral fez sua estreia na passarela do Minas Trend. “Hoje é a realização de um sonho trazer a minha marca homônima Mariana Amaral para os holofotes da semana de moda autoral mais importante do país. Estou com o coração a mil. Transmitimos através de acessórios, não só nosso conceito de moda, que remete às principais tendências que são o alvo das nossas pesquisas e inspirações, mas também a imagem da mulher que queremos alcançar: a que preza pela igualdade, sororidade, empoderamento, empatia, pluralidade ao conciliar casa e trabalho e liberdade de ver um céu azul”, explica a designer.
Segundo a catarinense, a coleção é super imponente. Criamos peças com muito brilho e correntes. Todas as criações são produzidas à mão. É uma técnica que nós valorizamos como identidade do trabalho desenvolvido. Meu processo criativo é muito orgânico, ele vem das minhas percepções. Geralmente eu espalho todos os materiais sobre uma mesa e vou sentindo as peças e montando os protótipos”, conta a empresária.
Encerrando a primeira noite de desfiles, a mineira Skazi fez um verdadeiro show na passarela. Para tal empreitada, convidou os conterrâneos da banda Jota Quest pela trajetória e energia. Segundo o diretor-criativo da marca, Eduardo Amarante, a coleção Verão 2020 mostra a força e o empoderamento feminino em um esporte que ainda tem a predominância do sexo masculino. A marca mineira convidou a banda Jota Quest para assinar a trilha sonora ao vivo em sintonia com uma coleção que surfa nas ondas da Austrália em meados de 1914. Foi naquela década que o mundo conheceu a primeira mulher a praticar o surf: Isabel Letham (1899-1995). Essa mensagem de liberdade, empoderamento e ousadia serão os conceitos que a marca levará para a passarela do Verão 2020. A trajetória da renomada instrutora de natação é uma homenagem à presença feminina no surf e a Skazi irá fincar essa bandeira nas ‘areias de BH’. A marca lembrou também de Margot Rittscher, uma nova-iorquina que se mudou para Santos aos 15 anos. Todos os dias, ela contemplava o mar da sua janela. Até que seu irmão, Thomas, construiu uma “tábua de andar sobre as águas” e lá foi Margot para o mar. Consagrou-se a primeira mulher a surfar no Brasil nos idos de 30. Surfou até os 60 anos. Mulher à frente do seu tempo também foi executiva de uma companhia de navegação e a primeira mulher do Porto de Santos a cuidar do carregamento e da estivagem de café. Seu pedido antes de morrer aos 96 anos foi que as cinzas fossem jogadas ao mar.
“Com o passar dos anos, o surf transformou-se numa manifestação cultural, fazendo parte do lifestyle de quem pratica ou simplesmente simpatiza. A figura feminina sempre esteve e estará presente em qualquer manifestação cultural. No surf, elas também fazem bonito”, explicou. A coleção traz uma alfaiataria leve que faz um link com as pranchas cortando as ondas. “É uma coleção que tem cheiro de mar e perfume de vento”, pontuou. Adoramos a novidade proposta nesta edição para o Verão 2020: apresentamos cinco looks masculinos”. A linha surfa entre os tons de amarelo, azul, rosa, preto e branco. As matérias-primas utilizadas na coleção são: o linho, o rayon e o jeans que foram beneficiados com tie-dye e uma estamparia no linho.
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“A beleza da coleção foi pensada como um banho de mar: cabelos frisados, make molhadinho, com uma pele bem feita e “cor de saúde” remetendo ao bronzeado e ao calor do verão. Queríamos trazer esse cheiro de praia para a coleção”, conta Ricardo dos Anjos.
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