“É um filme que aborda o machismo de forma explícita”, diz Flávio Bauraqui que está em “A Vida Invisível”


O ator, que está no elenco no filme de Karim Aïnouz, foi mestre-de-cerimônias na cerimônia de abertura do 29º Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema, conversou com o Site HT sobre cinema, cultura popular, representatividade e revelou que vai mostrar a verve cantor em show no Rio

Para o Site HT, o ator falou sobre o seu personagem no filme “A Vida Invisível“, de Karim Ainouz (Foto: Rogério Resende)

*Com Iron Ferreira

A gente acompanha uma vida toda a trajetória profissional do mega ultra ator Flávio Bauraqui. Ele está em Fortaleza acompanhando a 29o Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema e foi um dos anfitriões da grande noite de abertura com a première de “A Vida Invisível”, filme dirigido pelo cearense Karim Aïnouz, premiado na mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes e escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para tentar uma vaga no Oscar 2020. O filme baseado no livro “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, da pernambucana Martha Batalha, é o terceiro trabalho de Bauraqui com o diretor e amigo Karim Aïnouz. Em conversa com o Site Heloisa Tolipan, o ator, que fez sua estreia no cinema em 2002, com o aclamado filme “Madame Satã”, também dirigido pelo cineasta, falou sobre o seu aual personagem na produção que vai ganhar o mundo.

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“O personagem Macedo seria, nessa história, uma possibilidade de resolver a questão da protagonista. Ele poderia, de alguma forma, tentar achar a sua irmã. Ele retrata, pra mim, esse perfil de homem que tenta resolver as coisas mas que não possui talento para tal. Eu percebo que muitos homens tentam subjugar as qualidades femininas e apagar aquilo que elas fazem de melhor. Todos os personagens masculinos desse filme acabam impedindo as irmãs de viverem suas vidas. E essa produção estimula as pessoas a pensarem sobre essa questão. Ao assistir ao filme, eu lembrava da época em que meu padrasto batia na minha mãe”, revelou.

O diretor e o elenco subiram ao palco para prestigiar o lançamento de “A Vida Invisível” (Foto: Rogério Resende)

O artista comentou sobre a sua relação com o diretor e a forma como ele transformou a sua vida. Foi através do personagem Tabu, em “Madame Satã”, que Flávio descobriu o seu amor pelo cinema e pela atuação: “O Karim me proporcionou um dos melhores presentes da minha carreira: “Madame Satã”. Foi um processo muito profundo de aprendizagem e foi através desse filme que eu entendi, de fato, o que era cinema. Ele vive dizendo que eu sou o amuleto dele. É um dos melhores diretores desse país. Possuímos um processo criativo muito parecido, o que potencializa a nossa parceira. Admiro muito ele e o seu trabalho. Ele mora dentro do meu coração”.

Flávio ainda levantou a questão da falta de representatividade dos negros nas artes em um país tão diverso e plural como o Brasil e ainda afirmou que há uma organização social forte desse grupo que pretende resistir aos preconceitos, sempre de maneira pacífica.

“Acho que ainda precisamos de mais negros ocupando espaços, tanto na dramaturgia quanto no geral. Eu penso que existe ação e reação. Tudo que está acontecendo está provocando uma resposta e uma união entre nós negros. Ano passado, as peças de teatro mais assistidas no Rio de Janeiro foram feitas por negros. É uma questão de reconhecimento. É triste quando você abra uma revista, assiste a uma televisão ou a um filme e não se enxerga em nenhum lugar. Eu e Lázaro Ramos, por exemplo, tivemos a sorte de sermos reconhecidos. Porém, somos um ponto fora da curva. Não consigo entender como um povo tão miscigenado como o brasileiro não possui representação na mídia. Agora é um momento em que estamos muito unidos. Não somos poucos, estamos nos organizando e iremos resistir, sem violência”, desabafou.

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Flávio Bauraqui falou sobre a falta de representatividade do negro nas artes (Foto: Rogério Resende)

Bauraqui concluiu ressaltando a importância de um evento como o Cine Ceará para a indústria nacional do audiovisual, especificamente para as produções nordestinas, que vem conquistando cada vez mais espaço. Filmes como “Pacarrete”, do cearense Allan Deberton, que venceu oito Kikitos no 47º Festival de Cinema de Gramado, ajudam a mostrar a força proveniente da cultura.

“O Festival é maravilhoso. Vamos combinar que aqui no Nordeste as pessoas batem um bolão! A força cultural nordestina é visceral, não foi plastificada. É um Brasil que merece ser encarado como inspiração. O resto está bastante massificado. Durante a abertura do festival, eu pude perceber que isso aqui é o Brasil genuíno. Só tenho a agradecer pelo convite de fazer parte da história desse evento que tanto contribuiu com o audiovisual nacional”, comentou.

O artista ainda nos contou sobre as principais novidades sobre sua verve cantor. Assinando apenas Bauraqui, ele fará o seu primeiro show solo no Rio de Janeiro, no dia 6 de outubro, no espaço Ladeira das Artes, com participações dos músicos Pedro Itan e Ricô. Só para lembrar: Bauraqui já nos mostrou o múltiplo talento interpretando Cartola em um musical. O repertório contará com releituras e composições próprias, como a faixa “Mentiras Digitais“, parceria com Miguel Jorge que foi composta durante uma viagem de metrô.

“Eu estava no Rio, voltando pra casa de metrô, quando percebi que tinha um homem vendendo fones de ouvido. Ao ouvir ele falar sobre a qualidade daqueles produtos, eu percebi que aquilo era uma mentira. Uma mentira digital e que durava três dias. A canção veio na minha cabeça na hora. Quando eu cheguei em casa, a música já estava pronta. Essa faixa acabou inspirando outras músicas que estarão no meu show. Esse espetáculo já vem sendo preparado há algum tempo. Ele é relacionado com os meus pensamentos e no meu lugar de fala. Ele foi todo montado em aguçar as sensações das pessoas, traduzindo a minha essência como cantor”, frisou.