O quarto dia do 46º Festival de Cinema de Gramado foi marcado por lágrimas, reflexões sobre a vida e sobre a verdade dos fatos. A noite foi marcada pela presença elenco estrelar do longa Simonal com Isis Valverde, Caco Ciocler e Fabrício Boliveira, que levaram muitas palavras empoderadoras para o tapete vermelho trazendo luz sobre a luta cotidiana do negro no Brasil. O lado mais emotivo ficou por conta da homenagem ao ator Edson Celulari, que chorou com os depoimentos e lembranças de sua trajetória ao receber o Troféu Oscarito. Além disso, o longa estrangeiro Recreio fez o público refletir sobre os caminhos que estão tomando na vida, assim como o curta Minha Mãe, Minha Filha que trouxe luz para o Alzheimer. As reflexões não pararam por aí. O segundo curta da noite falou sobre o feminicídio e o espaço oprimido da mulher na sociedade. Vem entender!
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O que teria acontecido com a história da música brasileira se Wilson Simonal não tivesse saído dos holofotes? Esta é uma pergunta que, talvez, ninguém consiga responder. No entanto, o longa Simonal vem trazer a história nua e crua deste cantor e músico que teve a sua carreira destruída por mentiras. “O Simonal é um personagem controverso e carrega uma história sensacional de vida. Foi um grande artista que teve uma ascensão vertiginosa e uma queda triste que acabou ocasionando o seu esquecimento. Esta é uma ótima oportunidade de mostrar este cantor de novo”, comentou o diretor Leonardo Domingues. Dessa forma, a montagem trata-se de uma biografia deste cantor brasileiro dos anos 60 e 70, um artista que alcançou a fama mas viu tudo indo por água à baixo ao ser acusado de dedo-duro durante a ditadura militar. “Para mim, revivê-lo é algo muito forte, porque foi um cantor sensacional injustiçado por causa de uma fake news. Tem uma geração inteira que o acusou sem nem saber. E algumas destas pautas estão no mundo até hoje como delação, inverdades e racismo. Realmente, parece que isto não ficou só no passado. Fico até inseguro de pensar o que aconteceria se o mesmo rolasse comigo. Até que ponto as pessoas de verdade gostam da gente e acreditam no nosso trabalho”, explicou Fabrício Boliveira.
Além da história potente, o próprio elenco já garante um show à parte. Todas as atenções de Gramado se voltaram para o tapete vermelho do Palácio dos Festivais no momento que a equipe de Simonal desfilou. Mas não era para menos, afinal, tínhamos ninguém menos que Fabrício Boliveira, Caco Ciocler e Isis Valverde em um mesmo lugar. O longa contou com um elenco estrelar e talentosíssimo o que, obviamente, se mostrou na tela. “Este é realmente um filme muito grande com um elenco igualmente enorme. A escolha dos atores foi aos poucos. Comecei pelo Fabrício Boliveira, porque precisava saber quem seria o Simonal e ele foi uma escolha natural. Acho que os dois se parecem em termos de simpatia. A Isis Valverde apareceu logo depois e não vi problema em repetir o casal, já que os dois trabalharam juntos em Faroeste Caboclo. Foi um processo tranquilo”, explicou o diretor. Além desses três, ainda temos Leandro Hassum, Silvio Guindane, Bruce Gomlevsky, João Velho, Fabricio Santiago, Mariana Lima, Dani Ornelas, Leticia Isnard e João Sabiá.
Por falar em talento e fama, a trajetória de mais uma celebridade foi relembrada nesta noite de segunda, mas, dessa vez, o homenageado foi um ator. Edson Celulari foi condecorado com o Troféu Oscarito e, antes da entrega do prêmio, ele foi agraciado com imagens de toda a sua carreira e ainda uma mensagem especial de sua colega Soledad Villamil. “Você sabe que eu não te admiro somente por ser um excelente ator, mas também pelo grande ser humano que és”, garantiu a atriz em vídeo. Ao subir ao palco para receber o troféu, o artista não conseguiu conter a emoção. “Este prêmio não é só para mim, ele valoriza a classe como um todo. Acredito que este reconhecimento de hoje me levará para mais 40 anos de sucesso e buscando parceiros, sejam eles nacionais ou internacionais. Estou muito feliz e honrado. Estou pronto para o futuro e, dessa vez, não só como ator, mas também como diretor. Aguardem!”, profetizou o artista.
Enquanto Edson sabe muito bem o que quer fazer, pode haver algumas pessoas um tanto perdidas e esta foi a pauta do longa estrangeiro de ontem. O que você está fazendo para ser feliz? Está satisfeito com a vida que leva? Pretende continuar fazendo isso para sempre? Estas e mais algumas questões existenciais são postas à prova durante um feriado em uma casa de campo no filme Receio. O longa argentino é mais um dos concorrentes na mostra livre estrangeira. “É um prazer estar aqui. Eu estive com o meu primeiro filme neste festival e ganhei um prêmio. Então, para mim, é como voltar a minha casa. Espero que eu vá igualmente bem neste ano”, relembrou o diretor Hernán Guerschuny.
A narrativa conta a história de três casais na fase dos quarenta que decidem viajar juntos. O que parecia ser divertido se transforma completamente em dias de discussões e reflexões. “As pessoas repensam algumas instituições como o matrimônio e a família, além de refletir como somos escravos da estrutura que criamos”, comentou a também diretora, Jazmín Stuart, e o ator Juan Minujín logo completou: “Esta temática, na minha opinião, pode aparecer no pensamento de qualquer um que esteja nesta fase”. A montagem reuniu artistas de peso do cinema internacional.
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Os dilemas da vida não param por aí. Na verdade, eles continuam no curta-metragem Minha Mãe, Minha Filha, de Alexandre Estevanato. A trama traz uma reflexão sobre uma das doenças mais cruéis da humanidade: alzheimer. “Estima-se que um milhão e meio de famílias sofram com esta enfermidade, mas sinceramente acho que este número é bem maior. Este filme é um grito para levantar o debate sobre isso”, comentou o diretor. A sua mulher Cintia Sumitani é também a roteirista desta narrativa e comentou que esta história saiu de uma vivência pessoal. “Escutei muito a minha mãe e a minha sogra que, em um determinado momento de suas vidas, precisaram cuidar de pessoas que desenvolveram este mal. Por isso queria dedicar esta exibição às grandes mulheres que abdicam da própria vida para fazer este papel e cuidar de familiares queridos e outros nem tão amados assim”, lamentou Cintia.
Enquanto os pacientes que sofrem Alzheimer se calam pela doença, outros já nasceram sem o poder de fala. E é exatamente este fato que o curta Aquarela foca. O longa fala sobre a inferioridade feminina em uma sociedade machista, no qual as mulheres são caladas todos os dias. “A nossa ideia é denunciar esta violência e foi inspirado em uma matéria que lemos em 2013. Mesmo tendo se passado quatro anos desde então, ainda é um tema que precisa ser falado, afinal, a cada duas horas, no Brasil, uma mulher é assassinada”, denunciou o diretor Al Danuzio. A trama conta a história de Ana que, ao ver o marido na cadeia, acaba sendo a provedora da sobrevivência da família. “Este filme fala de liberdade e da falta dela. Afinal, quantas coisas nós temos que passar apenas por sermos mulheres?”, questionou a protagonista Luna Gandra. Temas urgentes e necessários definiram a noite desta segunda-feira no Festival de Cinema de Gramado.
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