*por Vítor Antunes
Desde que chegou à Globo, Vitória Strada não viveu coadjuvantes em novelas da casa. Nas três nas quais trabalhou – “Tempo de Amar“, “Espelho da Vida” e “Salve-se Quem Puder“, foi protagonista. Não faz muito tempo, a atriz deixou a emissora carioca e passou a alçar novos voos. Um deles, o teatro. Junto a Isabel Fillardis e Emiliano d’Ávila, Vítoria está no elenco de “Abismo de Rosas“, peça de Cláudio Simões, com colaboração de Emiliano, que, além de ator trabalha como produtor e na direção. “Abismo” também traz uma novidade: Trata-se da primeira peça de Vitória Strada. A atriz só havia trabalhado em cinema e na TV. “Quando eu estreei senti a ansiedade e nervosismo que o teatro traz. É uma energia muito grande, emocionante”. Ainda sobre esse tema, a atriz fala sobre preconceito a atrizes, que como ela, chegaram na carreira por outros meios diferentemente do teatro e das escolas do gênero. “Não vejo problema. Minha única batalha é o estudo. Este deve acompanhar o dia a dia do ator, que deve estar sempre estudando, observando tudo. Mas é preciso ficar atento porque o mercado tem que colocar pessoas que chamem público, sim, mas que se dediquem e admirem a profissão como ela merece. O público é inteligente e cada vez mais quer ver boas atuações e artistas se entregando”.
Além dessa questão, outras pontuam a biografia de Vitória, como o fato de ser uma mulher LGBT. Perguntamos se ter sempre a sua sexualidade trazida à pauta a incomoda ou se ela acredita ser importante tornar-se voz ativa da causa. “Enquanto eu for voz ativa, quero que meu diálogo sobre isso seja sempre natural. Meu discurso, acima de tudo, é sobre sermos seres humanos e podermos amar. Não admito que julguem o amor do outro. Não se pode impedir de viver o amor ou se apaixonar por que a sociedade diz que deveríamo-nos apaixonar de modo diferente. Gosto de falar sobre esse assunto, por conta de ser uma mulher bissexual e haver muito preconceito. Há quem diga que por eu ter terminado um relacionamento com uma mulher eu não posso me interessar por um homem , ‘por estar usando indevidamente a bandeira’, ou dizendo que é ‘só uma fase’. Não quero que deslegitimem a minha história”.
Além de lidar com o preconceito da sociedade em geral, é preciso lidar com o preconceito dentro da comunidade LGBT – Vitória Strada
MULHER, MULHER
Depois de haver assumido sua bissexualidade, Vitória Strada é perguntada com recorrência sobre esse assunto. Falar sobre a agenda LGBT, para Vitória, “Ajuda a se fazer ter respeito um pelo outro. Já vi gente questionando as minhas escolhas, ou ainda a clássica pergunta sobre ‘o que eu gosto mais’ [se de homem ou mulher]. Eu não tenho uma bússola, nem tenho porcentagens. O ser humano vai vivendo e a vida vai levando. As pessoas são apaixonantes e é isso. A minha capacidade de me apaixonar não nega as possibilidade de afeto”, filosofa.
Para a atriz, a representação das pessoas LGBT no audiovisual “cada vez mais mostra esses personagens, mas precisamos ter mais. Essas pessoas precisam existir na TV. Precisamos ter representatividade e representação frente a outros modelos de relação. Na peça, a minha personagem, por exemplo, se relaciona com a de uma mulher que descobre sua homossexualidade de forma tardia, mais madura. O público que vai ver sai achando lindo esse casal. E na peça não há uma questão panfletária na abordagem dos assuntos. A plateia é pega nesse sentimento sem perceber. É importante haver uma montagem que não fale apenas com quem já faz parte da comunidade ou do assunto, mas com quem também não quer necessariamente falar sobre isso, é de outra geração, não tem entendimento, nem vivências”.
Precisamos quebrar preconceitos sobre o amor. Ele tem tantas formas e cada um encontra sua forma de amar. O sentimento é muito bonito para ser reduzido a caixinhas. E o Brasil é plural. É preciso ter uma tela colorida e com mais cor possivel – Vitória Strada
Segundo a atriz, não apenas esses assuntos devem ser abordados com profundidade e recorrência, mas outros também: “É preciso haver diálogos importantes e sobre a história do ser humano. Não só questões afirmativas, mas também outras, questionamento mesmo. Há colegas que se interrogam sobre engravidar ou não, por exemplo. Pensam se essa é uma vontade própria ou se estão sendo pressionadas a querer. Ou ainda até que ponto almejamos por algo, achamos que gostamos ou temos aquilo por colocado. É preciso sair do lugar comum que nos colocam”. E ela prossegue, falando da questão feminina. “A maioria das mulheres foi criada com várias afirmações, de modo que descobrir o nosso potencial é difícil”.
DE VOLTA AO COMEÇO
Vitória Strada começou a carreira como modelo, quando acabou sendo convidada a fazer um filme, “Real Beleza“, de Jorge Furtado, que estreou em 2015. Depois, em 2017, foi convidada a protagonizar “Tempo de Amar. Esteve na Globo entre aquele ano e 2022, quando seu contrato com a casa não foi renovado. Agora lança-se num novo desafio: Fará a sua primeira peça de teatro. “Essa peça chegou para mim num momento certo. Eu tinha acabado de sair da Globo e estava em busca de coisas que eu gostaria de fazer. A correria de uma novela acaba não permitindo esse tempo. Por fim, fui chamada a fazer esta montagem de “Abismo de Rosas“. O texto é muito bom, e fala de uma maneira cômica sobre assuntos importantes. Começamos nessa empreitada pouco tempo antes da estreia. É uma peça difícil, um formato diferente, um desafio por si só encontrar essa linguagem, esse tom, o tamanho [da atuação]”. E ela exemplifica: “Para aparecer na câmera há um diálogo próximo, o mínimo que a câmera vê, ela capta. Diferente do teatro, onde é preciso encontrar outro tom corporal, de voz, de expressão”, assinala.
A montagem retoma uma característica da atriz que foi percebida em “Salve-se Quem Puder“: Sua veia cômica. “Comédia é uma coisa que eu nunca tinha feito e me apresentou pro mercado de uma forma diferente. Gostei, por gostar de experimentar coisas novas, histórias diferentes. Eu havia feito duas mocinhas de novelas de época e depois veio essa personagem cômica. Gosto de me testar, afinal o mercado também compreende que estou disposta a fazer coisas novas”. Ela prossegue dizendo que “no teatro, eu temia que a personagem pudesse ficar caricata. Um desafio encontrar esses tons, mas a equipe que está comigo é muito disponível”. A trama de “Abismo de Rosas” é uma peça policial que tem três atores em cena – além de Vitória, Isabel Fillardis e Emiliano d’Avila e diz respeito a uma trama criminal que ocorre num dia dos namorados. “Fazemos muitos personagens, há trocas de roupa muito intensas e tivemos que entender essa dinâmica, junto às marcações de palco, de música e luz. São 34 cenas e eu estou em praticamente todas. Na estreia recebi uma chuva de adrenalina e vi que o projeto saiu do forno e alcançou nosso objetivo de fazer o público rir, se divertir e pensar”, analisa.
O OFÍCIO
Inicialmente modelo, Vitória, assim como Sílvia Pfeifer e Alexia Dechamps foram alvo de preconceito por não haverem passado por uma escola formal de atores. Hoje são alvo de crítica os influenciadores digitais: “Quando entrei na Globo havia algum estranhamento, como ‘de onde veio essa menina?’. Diante dessa pressão, decidi que deveria dar o melhor de mim, já que antes da minha primeira novela eu só tinha feito um filme. Acima de tudo gosto de atuar, viver, trabalhar muito. Amo viver meus personagens – e essa é uma coisa que trabalho na terapia. Preciso me sentir feliz sozinha, sem personagens. Estou focando minha careira agora em papéis que me desafiem. Quero fazer filme, série, não abandono as novelas, pois gosto muito. Mas quero fazer outros horários, trabalhos densos, com outra característica.
Sobre fé, Vitória, que fez uma novela espírita, diz que “tem muita, ainda que não me ache religiosa. Fé é importante, o problema [da religião] é o fã clube. Por isso eu não vou para um lugar especifico. Confio na minha intuição, na vibração, na energia do bem e assim me cuido, me preservo”, finaliza.
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