Roberto Pirillo: ‘Um país se faz com História. Ignorar nossa memória é sepultar vidas’


O ator, que se destacou em diversas produções da teledramaturgia, como o grande sucesso ‘Escrava Isaura’, 1976 e ‘Ciranda de Pedra’,1981, além do advogado Merival, que está na edição especial de ‘Império’, da TV Globo, está no elenco do longa ‘Níobe’, do diretor Fernando Mamari, um filme que no centro de sua narrativa traz elementos como intrigas, traições e corrupção no jogo pelo poder. “O ator é um ser impaciente, está sempre procurando novos desafios. E é isso que nos dá força para continuar nessa batalha. Nós treinamos nossa alma para viver outras almas”, frisa

Roberto Pirillo vive o General Honório, no longa ‘Níobe’, do diretor Fernando Mamari (Fotos: Carol Mamari)

*Por Rafael Moura

O paulistano Roberto Pirillo, ao longo de 55 anos de carreira, acumula 46 trabalhos de muito sucesso, nas telinhas e telonas. Atualmente, na reprise de “Império”, o ator que ganhou o título de galã nos anos 70, por conta do personagem Tobias Vidal, em ‘Escrava Isaura’, 1976, na TV Globo, acaba de adicionar mais um papel em sua carreira e que promete dar muito o que falar: o general Honório, no longa ‘Níobe’, do diretor Fernando Mamari. “Um país se faz com História. Ignorar nossa memória é sepultar vidas e trajetórias. Estar nesse longa e viver o general Honório foi uma experiência singular. Toda a trajetória do longa é impactante, fiquei muito orgulhoso e honrado pelo convite. O personagem tem peso e sangue nos olhos. Sua rivalidade com o presidente Naya, vivido por Kadu Moliterno, evidencia seu desejo de colocá-lo fora do jogo. Foi desafiador e emocionante participar dessa produção, principalmente por causa do momento em que estamos vivendo: a pandemia da Covid-19 e do desafio de dar vida e esse novo papel, que promete ser um grande sucesso, afinal ela tem muita ligação com os dias atuais”, conta.

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Os atores Roberto Pirillo e André Ramiro no elenco do filme ‘Níobe’, do direto Fernando Mamari

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O filme ‘Níobe‘ conta uma história que se passa em um único dia, quando um encontro promovido por um influente empresário reúne um presidente da República, seu mais graduado general, um deputado corrupto, seguranças e prostitutas de luxo. Em estilo noir, a obra se passa nos dias de hoje, porém contém elementos visuais dos anos 50, ambientando as escalas de poder numa sociedade em que algumas poucas pessoas podem decidir o futuro de milhares. No longa, Pirillo contracena um grande elenco como: André Ramiro, Bárbara França, Timóteo Heiderick, Kadu Moliterno, Breno de Filippo, Charles Paraventi, Mario Hermeto.

O ator e dublador, que iniciou sua carreira em 1965, conta com muito orgulho sobre os anos à frente das câmeras. “Fiz alguns trabalhos que me deram muito orgulho, tanto na TV como no teatro. Posso dizer que foram bons momentos. O ator é um ser impaciente, está sempre procurando novos desafios. E é isso que nos dá força para continuar nessa batalha. Nós treinamos nossa alma para viver outras almas”, frisa.

O advogado Merival vivido por Roberto Pirillo, na novela ‘Império’, de Aguinaldo Silva

Pirillo ‘está no ar’ com o advogado Merival, na edição especial da novela ‘Império’, 2014, de Aguinaldo Silva. Para ele, relembrar esse trabalho sete anos depois traz grande saudade e emoção. “Eu vejo com muitas saudades, foram de tantos colegas talentosos. A trama do Agnaldo foi brilhante, e ele me deu a oportunidade de viver um personagem de peso, pois, a maioria dos casos jurídicos da novela estavam nas mãos do advogado. Então, a minha participação foi muito intensa. Adorei dar vida ao Merival. Agradeço muito ao autor”, relembra.

O último trabalho, na TV, desse grande ídolo foi em 2019, em ‘Espelho da Vida’, de Elizabeth Jhin, uma história de amor, mistério e vidas passadas, interpretando o delegado Gilson, do qual lembra com muitas saudades. “Voltar para TV está sempre presentes nos meus planos, mas não depende só da minha vontade. Estou sempre à disposição para novos trabalhos e desafios”, afirma, acrescentando: “Trabalhar nesse ramo sempre foi uma incógnita. Hoje você está com trabalho, amanhã tem que ter sorte, esperança. Para quem está com contrato de dois ou três anos, sempre traz uma estabilidade, um conforto. Mas, a preocupação está sempre presente. Será que vou renovar meu contrato? Contas, boletos, não têm pandemia! Mas, a paixão pela arte nos fortalece diariamente. Esperança e fé sempre estiveram presentes nesses meus 55 anos de estrada”.

Roberto Pirillo ao longo de 55 anos de carreira, de muito sucesso, acumula 46 trabalhos entre a TV e Cinema (Foto: Divulgação/TV Globo)

A primeira vez que pisou em um palco profissionalmente foi em 1965, na peça ‘Roleta Paulista‘. Já em 1968, integrou o elenco da polêmica peça ‘Dois Perdidos numa Noite Suja‘, de Plínio Marcos, que virou filme em 2004, com Roberto Bomtempo e Débora Falabella. O autor que sempre pautou o universo da marginalidade,  enfrenta longa luta contra a censura ao longo dos anos 1960 e 1970, tornando-se um símbolo de resistência. Seu maior sucesso no teatro, junto ao público foi com a comédia ‘Trair e Coçar é só Começar‘ em que permaneceu atuando durante 14 anos consecutivos.

Sua estreia nas telonas foi em 1966, no filme ‘O Corintiano‘, de Mazzaropi, com quem trabalhou também em ‘O Jeca e a Freira‘ (1967), ‘Betão Ronca Ferro‘ (1970) e ‘Jeca Contra o Capeta‘ (1976). Na TV, Glória Magadan lhe deu seu primeiro papel, Juca, na novela ‘E Nós, Aonde Vamos?‘, na TV Tupi, em que atuou ao lado de Leila Diniz, que fazia sua última novela. Em seguida, transferiu-se para a Globo, onde atuou em Minha Doce Namorada (1971), novela que deu a Regina Duarte o título de ‘Namoradinha do Brasil’. Roberto é um dos atores que ajudaram e ajudam a contar a história e as memórias da arte brasileira.