Kadu Moliterno volta às telonas como presidente Naya em ‘Nióbe’: ‘Intrigas e corrupção no jogo pelo poder’


Aos 51 anos de carreira, o ator, que acaba de gravar o longa do diretor Fernando Mamari, retratando as descrenças da sociedade nos poderes constituídos do país, e a série ‘Chuteira Preta’, de Paulo Nascimento, sobre o universo do futebol, conta como foi surfar em diferentes ondas ao longo de sua trajetória, cheia de escaladas que lhe renderam papéis icônicos, como o inesquecível Juba, de ‘Armação Ilimitada’, que irá virar filme. Vem saber!

Kadu Moliterno interpreta o presidente Naya, em ‘Níobe’, de Fernando Mamari (Foto: Carol Mamari)

*Por Rafael Moura

“Voltar a fazer cinema foi uma experiência maravilhosa”. Assim Kadu Moliterno começa esse papo com o site Heloisa Tolipan. O ator, que teve um hiato desde 2004, quando atuou no filme ‘Tainá 2 – A Aventura Continua’ e, na TV, desde 2019, ao integrar o elenco da novela ‘Topíssima’, da Record, estará no longa ‘Níobe’, direção de Fernando Mamari, e na série ‘Chuteira Preta’, de Paulo Nascimento, para o canal Prime Box Brazil. “Eu gostaria de ter voltado com o filme ‘Armação Ilimitada – O filme’, que já está no forno para ser rodado, mas não conseguiu sair por conta da pandemia”, revela.

Em ‘Níobe‘, Kadu interpreta o presidente Naya em uma narrativa repleta de intrigas, traições e corrupção no jogo pelo poder. A história se passa em um único dia, quando um encontro promovido por um influente empresário reúne um presidente da República, seu mais graduado general, um deputado corrupto, seguranças e prostitutas de luxo. “O filme toca na ferida da política brasileira de uma maneira muito sensível e especial. O momento é perfeito para o lançamento de um filme com essa temática. O curioso é que eu li o texto, me apaixonei. E, quando eu vesti a roupa, já me senti encarnando o presidente Naya”, conta.

Para o diretor Fernando Mamari, o longa aborda as escalas de poder numa sociedade em que algumas poucas pessoas podem decidir o futuro de milhares. “O filme trata da descrença da sociedade nos poderes constituídos do país, onde os jogos escusos parecem ocupar posição central em todas as bandeiras, analisa Mamari.

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Kadu Moliterno e Roberto Pirillo durante as gravações do longa 'Níobe', de Fernando Mamari (Foto: Carol Mamari)

Kadu Moliterno e Roberto Pirillo durante as filmagens do longa ‘Níobe’, de Fernando Mamari (Foto: Carol Mamari)

Kadu nos conta sobre esse um ano e meio de pandemia e como lidou com a questão do isolamento social. “Eu tenho levado muito a sério todos os protocolos de segurança. Fiquei cuidando da casa e descobri muitas experiências novas. Foi um período de estudo, muita louça lavada e aprendi até a cozinhar. Sofria um pouco por não poder ver minha mãe com 96 anos e minha família. Foi um momento triste e estar podendo voltar a trabalhar é uma felicidade enorme, principalmente entendendo a falta que o trabalho faz nas nossas vidas, na nossa construção como ser humano”, reflete ele, que ainda está preparando um monólogo para o teatro.

O ator abre o coração e fala sobre a fase foi de instabilidade financeira para os trabalhadores da arte e do entretenimento. “Toda pessoa que trabalha com arte ficou com problemas financeiros por conta desse período. Muitos venderam seus bens para conseguir pagar as contas. Nesse período, eu fiz comerciais e divulgação de produtos pelas redes sociais. Foi uma crise mundial que atingiu a todos e comigo não foi diferente”.

A pandemia acabou ressaltando ainda mais a falta de investimento na área cultural, que se mostrou de suma importância durante o isolamento social. O setor cultural ocupava, em 2018, mais de 5 milhões de pessoas, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), representando 5,7% do total de ocupados no país, tendo movimentado R$ 226 bilhões. “A falta de investimento na arte é a falta de investimento na educação, na vida. Existe um desprezo grande pela vida. Um absurdo. Não se investir em arte, diversão e entretenimento é muito triste, ainda mais nesse momento de isolamento vimos a enorme importância dessas áreas. Espero que o teatro, cinema e as TVs abertas e fechadas possam voltar com tudo trazendo emprego para muitos”, pontua.

Kadu estreou na TV em 1970, em As Pupilas do Senhor Reitor, com o personagem Pedro das Dornas, acumulando inúmeros papéis ao longo dos 51 anos de carreira. “Para você ver, eu fiz minha estreia na televisão em 1970. Estou com 51 anos de carreira. Desde o primeiro protagonista, na Record, em 1972, em O Príncipe e o Mendigo, no qual interpretei dois personagens, foi um grande desafio e orgulho. Depois vieram as novelas Paraíso, de Benedito Ruy Barbosa, Anjo Mau, Dono do Mundo, Memorial de Maria Moura e, claro, o Armação Ilimitada, que me deixa extremamente orgulhoso (foi um dos maiores sucessos da década de 80). Então, mesmo com 51 anos de carreira, não pararia nunca de trabalhar”, afirma.

Kadu Moliterno ao longo de 51 anos de carreira acumula muitos papéis de sucesso na TV (Foto: Reprodução Instagram)

Fenômeno de uma geração, Armação Ilimitada foi um seriado voltado para o público adolescente da Rede Globo, entre 1985 e 1988, e que misturava aventura e esportes além de outros temas típicos da Zona Sul do Rio de Janeiro. O projeto de Kadu e De Biase, que haviam trabalhado juntos na novela ‘Partido Alto’, em 1984, teve sua ideia concretizada por Daniel Filho, que apostou e investiu no seriado. Após o encerramento, a dupla Juba e Lula voltou à programação, com um spin-off ‘Juba & Lula’, em 1989. O sucesso foi tremendo que foi reprisado em 2005, comemorando os 40 anos da Rede Globo, no canal Multishow, e, em 2011 e 2012, pelo Canal Viva. Essa dupla poderá ser vista em breve nos cinemas, com um filme de Pedro Amorim, e um grande elenco: Luisa Arraes, Jonas Torres, Catarina Abdala, Ney Latorraca, Marcelo Adnet, Nara Gil e Andréa Beltrão. “Esse projeto deu uma pausa, mas em breve vocês poderão matar saudades dessa dupla nos cinemas. Estou muito ansioso para essa estreia”, conta.

Kadu Moliterno no intervalo das filmagens do longa ‘Níobe’, de Fernando Mamari (Foto: Paula Coelho)

Moliterno ainda tem um projeto de voltar à televisão como apresentador de um programa de esportes radicais, um universo no qual ele é craque. “Esse projeto de apresentar um programa de esportes radicais foi criado por mim, como uma maneira de viver e ocupar a minha mente durante a pandemia. Levei para várias TVs fechadas e todas falaram que é uma ideia incrível, mas que o momento é difícil por conta de investimentos e dos protocolos de segurança. Então, eu coloquei na gaveta e quem sabe se aparecer algum investidor, ele volta à tona. Eu sempre gostei de esportes, tenho uma vivência grande nesse universo e um conhecimento sobre o assunto”, enfatiza.

Finalizando esse papo, o ator se revela muito otimista para o futuro do Brasil e das artes e torce para que tudo possa melhorar e retomar as nossas vidas.”Estou contando os dias para essa Covid ir embora e ansioso para ver a estreia de “Níobe” nos cinema, porque vai ser um filme espetacular e promete mexer muito com a cabeça de todos no Brasil e até no mundo”.