Rodrigo Veronese, galã de ‘Paraíso Tropical’, quer voltar à TV enquanto investe em canal sobre música e Anos 80


Rodrigo Veronese é um dos nomes importantes de “Paraíso Tropical”, novela de 2007 atualmente em reprise no “Vale a Pena ver de Novo”. Há 16 anos fora das novelas, o artista pondera sobre a profissão de ator e seus reveses, mas gostaria de voltar ao gênero ou retornar como apresentador de programas musicais. Inclusive, em se tratando de música, ele está à frente do “80 por segundo” canal no YouTube/Instagram sobre música dos Anos 1980. “Sinto que o streaming trabalha com mais pessoas que são jovens e têm menos experiência enquanto atores. Eu acho que hoje a profissão de ator se reduziu. Ninguém mais quer saber se você é um bom ator, mas quantos seguidores você tem e se consegue decorar texto, nem que seja para fazer o mesmo personagem. Os atores com quem me relaciono são aqueles que prezam pelo respeito e pelo bom trabalho, pelo fazer de verdade e dar a alma”, analisa

*por Vitor Antunes

Mais uma das novelas exibidas no Vale a Pena Ver de Novo, “Paraíso Tropical” está se aproximando do seu fim, e será substituída pelo arrasa-quarteirão “Alma Gêmea“, de Walcyr Carrasco. Enquanto a novela espírita não é levada ao ar, o público se delicia com a Copacabana sedutora, de Gilberto Braga (1945-2021). Dentre alguns dos nomes que se revelaram com a trama, um deles foi o de Rodrigo Veronese. Sem fazer uma novela completa na Globo desde 2008 – casa na qual sua última participação foi na temporada 18 de “Malhação“, Rodrigo colhe os louros da reprise de “Paraíso Tropical” e objetiva, assim, voltar a trabalhar para o gênero. “Estou fazendo o fluxo de volta para retornar às novelas. As pessoas que eu conhecia até a pandemia, os produtores de elenco não estão mais no mesmo lugar, mas pulverizados por conta do streaming. Eu quero muito fazer vínculos, e assim, voltar à TV, ou como ator ou como apresentador”, diz ele. Veronese comanda no Instagram e no YouTube o canal “80 por Segundo”, no qual revisita a música pop dos Anos 1980.

Para o ator, rever a si depois de tantos anos, já que a novela é de 2007, é um quê de estranheza. “Tenho a sensação de que estou vendo outra pessoa, que não sou eu. Naquele momento eu estava com 36 anos, tinha outros ideais, hoje estou mais amadurecido. Tenho um estranhamento ao me ver, é difícil me conectar com aquele personagem

Ainda que não seja adepto daquela lógica de ‘aconselhamento aos jovens’, penso que se eu tivesse aos 36 a cabeça que tenho hoje, aos 53, faria muita coisa diferente – Rodrigo Veronese

Segundo Rodrigo relata, a chegada à Globo foi um alumbramento. “Na época foi algo como poder estar com pessoas maiores que eu, ainda que eu tivesse experiência em trabalhar em novelas em São Paulo, fazendo Record e SBT desde muito novo e ter feito esses trabalhos me deu uma cancha, me possibilitou ver que eu podia. Por vezes via a mim como time pequeno que ia jogar uma partida com outro maior”, comparou. E prosseguiu: “Para mim, o que mais pesava era trabalhar fora de São Paulo. Essa mudança para uma emissora de grande porte como a Globo foi importante, assim como deixar a casa, a cidade… Não havia zona de conforto”. Porém, para o ator, o grande diferencial em fazer a trama das 21h, indubitavelmente, foi “ter chegado a ela como convidado. Isso tem um valor importante por que consegui o que poucos conseguiram, que é estar numa novela das 21h com destaque, numa novela do Gilberto Braga, com direção dos maiores e um elenco brilhante. É um privilégio do qual muitos colegas não puderam ter”.

Rodrigo Veronese quer voltar À TV. Sucesso de “Paraíso Tropical” trouxe-o de volta à evidência (Foto: Divulgação)

INTENSIDADE CANCERIANA

Não há dúvidas. Àqueles que acreditam, minimamente que seja, em horóscopo e astrologia, não há como não ver em Rodrigo seu signo solar: câncer. Intensidade, paixão e muita sinceridade… Está tudo ali. Que se ressalta à beleza, hoje ornada com alguns – muitos – fios prateados, se comparado com o jovem adulto que conquista o coração de Ana Luísa (Renée de Vielmond) em “Paraíso Tropical“. A maturidade trouxe, além de tudo, a consciência do tempo: “Na minha vida hoje tudo está caminhando. Em passos mais longos, em passos mais curtos, mas tudo caminhando”.

Ainda que as novelas sejam um objetivo, ele não descarta a possibilidade de chegar através do streaming. O teatro, ainda que seja outra porta, não é uma linguagem a qual ele dialogue bem. “Teatro nunca foi a minha praia, nunca me senti em casa. Mas quanto aos streamings, gosto. Me vejo nas séries, esse formato é muito mais familiar, gosto demais. Antigamente, eu tinha uma grande troca com os produtores de elenco da TV. Já com o streaming, eu me sinto sem comunicação, sem saber ao certo para onde ir, onde estar…”, comenta.

Sinto que o streaming trabalha com mais pessoas que são jovens e têm menos experiência enquanto atores. Eu acho que hoje a profissão de ator se reduziu. Ninguém mais quer saber se você é um bom ator, mas quantos seguidores você tem e se consegue decorar texto, nem que seja para fazer o mesmo personagem. Os atores com quem me relaciono são aqueles que prezam pelo respeito e pelo bom trabalho, pelo fazer de verdade e dar a alma – Rodrigo Veronese

Rodrigo Veronese com Renée de Vielmond em “Paraíso Tropical” (Foto: Divulgação/Globo)

O recuo de Rodrigo da televisão aconteceu quando do nascimento do seu filho, Gael, em 2009. Neste momento ele optou por licenciar-se um pouco para dar atenção ao, então, bebê e por agir em favor da licença paternidade. O mercado e a imprensa entendeu esse afastamento como uma ruptura. “A licença paternidade não era algo tão discutido e quando me separei o meu filho era muito novinho. Eu não queria ser pai apenas como a um departamento financeiro, e ao trabalhar excessivamente perder a vivência com meu filho. Obviamente esta foi uma tentativa de estar mais próximo a ele, já que eu teria gravações no Rio enquanto ele morava em São Paulo. A imprensa absorveu isso de uma forma diferente e não entendeu. Passou a leitura de que eu não queria trabalhar e isso me colocou numa geladeira, cabendo a mim, ver as portas fechadas, numa época em que se discute uma sociedade não patriarcal. Espero que se debata mais a questão da licença paternidade”, desabafou.

Para Veronese, a paternidade é um ensinamento diário. “Ela me faz repensar que o mundo, crer que meu filho, apesar de viver num tempo de tanto absurdo, terá capacidade de adaptação. Ele me trouxe valores, menos rebeldia, mais responsabilidade e compreender que mais que falar o certo é preciso fazer o que é certo. O rebelde contesta, vai na contramão e segue. Ele me faz ter muito cuidado, muita curiosidade, acompanhar as questões sociais em alta… Quero que ele me veja como a um pai sensível, com visão democrática e que abraça as mudanças e tem amor ao próximo. Ele me enriquece demais a visão que o filho passa paro pai é importante assim como o contrário. Não existe paternidade no pedestal. Eu me sinto um ser humano melhor por ver na paternidade a arte da troca”.

Aliás, entre as profundidades e contundências pontuadas com a sutileza, Veronese relembra o processo que moveu contra o SBT, o que para ele foi um desrespeito. O ator estava contratado pela emissora paulista e gravando a novela Cristal há 30 dias quando foi dispensado e perdeu o protagonismo masculino para outro ator. Essa judicialização pode ter colaborado de alguma forma para a ausência das telas? “Não. Eu me senti ofendido e magoado enquanto ser humano por ser algo feito às minhas costas. Foi algo que passou. Eu sempre fui muito bacana e amigo de muita gente, um cara profissional, nunca fui um ator-problema, mas alguém que se posicionou frente a um problema”.

Rodrigo Veronese e Gael, em 2009 (Foto: Reprodução)

RETRATOS E CANÇÕES

Um dos maiores sucessos da dupla Sullivan e Massadas – famosos hitmakers brasileiros -, “Retratos e Canções” é uma música ícone de Sandra de Sá, lançada em 1986. Os anos 1980 foram pródigos de músicas que se perpetuam Para Rodrigo, “música tem a ver com memórias afetivas. Não sou profissional da música, mas ela para mim compõe boas memórias”. Por esta razão, ele abriu no YouTube e no Instagram o canal “80 por Segundo”, resgatando músicas, pop icons e memórias oitentistas. Seu sonho é ter um programa musical na TV. “Uma das coisas que motivaram esse carinho pelos Anos 1980 foram os videoclipes que rolavam na MTV Brasil e na MTV gringa, que traziam conteúdo”.

Para cada Taylor Switft atual, havia uma constelação: George Michael, um Michael Jackson, uma Madonna, ainda que houvesse apenas o LP, e a TV para difundir essa música. Havia, também, muita transgressão – Rodrigo Veronese

Para Rodrigo, “as músicas dos anos 1980 são ainda muito vivas e fazem parte da vida tanto de quem é jovem, como de quem é mais maduro. Não creio ser um olhar nostálgico esse, mas uma constatação. Aquela década veio depois de uma ditadura, de uma forte repressão, e que explodiu em criatividade e liberdade de expressão. Até hoje, se alguém coloca um Eurythmics na pista, a galera explode em alegria”. A propósito, em se falando de música, se houvesse uma que pudesse defini-lo seria “Andar com fé”. “Esse é o meu estado. Busco a fé e ando com ela”, finaliza.

Rodrogo Veronese e o “80 por Segundo” (Foto: Divulgação)