*por Vítor Antunes
Galã dos anos 1970 e 1980, Robeto Pirillo esteve em sucessos como “Escrava Isaura” (1976) e “A Gata Comeu” (1985). Atualmente compõe o elenco de duas séries do Globoplay: “Betinho. No Fio da Navalha“, sobre o sociólogo Herbert de Souza (1935-1997) e “A Divisão“, que aborda sobre a ascensão do crime organizado no Rio e Janeiro nos anos 1990. Sobre o projeto que trata do estabelecimento do poder paralelo, Pirillo acredita ser este um tema atual e necessário: “O crime organizado vem crescendo assustadoramente”, e ressalta que a abordagem a esta temática, tanto pelo poder estabelecido como pelos jornalistas é equivocado. “A política e a imprensa não estão tratando do assunto seriamente. Na verdade estão passando pano”, dispara.
Ao falar sobre “Escrava Isaura“, ator revela-se grato a Gilberto Braga (1945-2021) e Herval Rossano (1935-2007), respectivamente, autor e diretor da trama que revelou Lucélia Santos no papel protagonista. Ainda constando como uma das novelas mais vendidas do Brasil, mesmo às raias do seu cinquentenário, o ator é crítico ao valores que, costumeiramente são direcionados aos artistas para quando as novelas são vendidas para o exterior: “Os valores que chegam para nós são irrisórios”. Fruto de uma geração na qual os atores eram contratados a longo prazo, Roberto não problematiza os atuais contatos por obra. “O custo para se manter atores com altos salários se tornou inviável”. acredita.
ENTRE OS ARTISTAS E AS CELEBRIDADES
Diante do fato de ter sido galã durante boa parte da sua juventude e referenciado por sua beleza, Pirillo não fica olhando-se muito no retrovisor da vida. “Tudo tem seu tempo. O que não podemos é ficar rotulados com perfis de A ou B. A meta é renovar sempre e tentando se encaixar em outros tipos”. Em plena atividade, ele gravou neste primeiro semestre duas séries para o Globoplay.
O ator é um bicho que treinou a sua alma para vibrar por outras almas – Roberto Pirillo
Uma das novelas às quais Roberto Pirillo esteve no elenco foi “Celebridade”. Nesta, havia uma discussão sobre as pessoas que querem ter os seus cinco minutos de fama. Hoje, com as redes sociais é o número de seguidores que define o sucesso ou não de uma carreira artística. São muitos os que dizem ser atores, especialmente por serem populares nas redes ou nos realities. Algo que Roberto refuta. “Quando alguém diz: ‘Quero ser ator’, não é algo fácil assim. Afinal, existem dois elementos fundamentais: talento e vocação. Sem esses princípios não há caminho a seguir. Acredito que existem muitos talentos soltos por aí, que ainda não tiveram uma oportunidade”, pondera. Destaca ser alguém que zela por sua profissão ainda que não tenha a formação acadêmica. “Sou autodidata. Minha escola foi ter o privilégio de ter trabalhado com grandes mestres, como Ziembinski (1908-1978), Mazzaropi (1912-981), Dercy Gonçalves (1907-2008), Bibi Ferreira (1922-2019), Sérgio Britto (1923-2011), entre tantos outros.
Hoje quem tem 1 milhão de seguidores no Instagram, ou por que esteve no BBB, se sente apto para seguir a carreira de ator – Roberto Pirillo
A prática do star-system que a Globo adotava, era, de alguma forma semelhante à Comédie Française: contratos de longo prazo, bem pagos e de exclusividade. Filosofia que perdurou até meados dos anos 2010 e tem mostrada ser algo do passado. Muitos grandes nomes foram dispensados da casa e agora são todos contratados por obra. Pirillo não problematiza esta questão. “Nos anos 1970 e 1980, as audiências com novelas eram de 60, 70 pontos. Isso fez a Globo propor contratações de longo período com muitos nomes. A estratégia era segurar alguns artistas relevantes. O panorama atual mudou essa proposta. O custo para se manter atores com altos salários se tornou inviável”, pontua.
Uma das novelas com essa elevada audiência e unanimidade foi “Escrava Isaura“. A trama de 1976 foi um fenômeno de audiência na época e revelou um grande nome: O da atriz protagonista, Lucélia Santos. Por anos, a novela mais vendida do Brasil no mundo. “Escrava Isaura” abriu o mercado internacional da Globo. A novela atingiu índices de audiência impressionantes. Não só aqui, mas em diversos países, como na China. “Porém, os valores que chegam para nós, são irrisórios, diferentemente de atores americanos que são beneficiados por um logo tempo de trabalhos em séries ou streamings”, analisa.
Sobre a trama setentista, ele diz que “foi um trabalho árduo, mas gratificante. Lucélia[Santos e eu estávamos em cartaz no Rio, eu no Teatro Ipanema, e ela no Teatro Leblon. Nos deslocávamos do Rio para Conservatória – interior fluminense – para gravar externas numa fazenda. O sono era curto, coisa de 3 ou 4 horas. Mas estávamos sempre prontos para viver esses dois personagens icônicos. Foi uma novela de grande repercussão”.
E uma novela que tratava sobre escravidão e liberdade numa época de ditadura, passou por seus reveses. “O tema era polêmico, tendo como fio condutor a paixão doentia de um senhor, Leôncio, vivido por Rubens de Falco (1931-2008) por Isaura, uma escrava branca que enfrenta preconceitos e luta pela liberdade e pelo seu grande amor. Foi um marco nessa minha trajetória”.
Outra personalidade que o artista exalta é Mazzaropi. O cineasta dirigiu quatro filmes que contaram com Pirillo em seu elenco. Para o ator, o falecido artista “foi um grande empreendedor. Criou sua própria produção, distribuição, além de criar seus roteiros e dirigir seus longas, dando oportunidade a muita gente. Ele arrastava multidões com seus filmes. As estreias de seus filmes tinham um clima hollywoodiano. Participei de quatro filmes, e foi uma grande experiência. Sempre enalteci sua brasilidade. Trata-se um ícone do cinema brasileiro”.
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