Remakes são garantia de sucesso? Relembre 7 novelas baseadas em versões passadas e não repetiram bons resultados


Em busca de captar a atenção dos espectadores, uma onda de remakes  invade a televisão brasileira. Pelo menos três das próximas novelas da Globo são remakes – “Elas por Elas”, “Renascer” e “Vale Tudo”. Sucessos irrefutáveis nas exibições originais, as tramas têm encontrado resistência entre os telespectadores mais tradicionalistas. Afinal, um remake é ou não garantia de sucesso? “A Viagem” e Mulheres de Areia” – esta última atualmente em nova reprise, representam as obras bem sucedidas. Por outro lado, muitas delas não foram bem na remontagem. “Vale Tudo”, por exemplo, foi refeita para o público latino e fracassou. Na segunda quinzena de setembro estreia “Elas por Elas”, de Cassiano Gabus Mendes, que será reescrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson. Relembre outras sete novelas que, refeitas sob a mesma expectativa, fracassaram na audiência e tornaram únicas as suas obras originais.

Seria possível emplacar um sucesso da década de 80 em 2023? É isto que perpassa a mente do público noveleiro, à espera da estreia de “Elas por Elas”, dia 25, na Globo. A novela é o remake de um dos maiores sucessos televisivos de Cassiano Gabus Mendes (1929-1993), de 1982, e substitui “Amor Perfeito” na faixa das 18 horas no canal. A adaptação e atualização da trama ficou a cargo de Thereza Falcão e Alessandro Marson, e mantém o mesmo enredo: o encontro de amigas que não se viam há anos. Já o cenário da trama muda de São Paulo para o Rio de Janeiro, onde elas vão se esbarrar cotidianamente. Em busca de captar a atenção dos espectadores, uma onda de remakes invade a televisão brasileira. Alguns encaram positivamente, ansiosos pela nostalgia de se reviver uma mesma narrativa interpretada por outros artistas. Outros têm uma percepção menos otimista e esperam por uma novela que acaba por estragar uma história de sucesso. Apesar disso, não é um trabalho simples produzir uma segunda versão de um produto audiovisual – sobretudo quando ele foi muito aclamado no passado.

Algumas releituras fizeram sucesso, como  foi “Pantanal”, adaptado por Bruno Luperi, para a Globo no ano passado, e baseada na novela de Benedito Ruy Barbosa exibida pela TV Manchete em 1990. Em face dessa boa repercussão, haverá uma releitura de “Renascer”, exibida originalmente em 1993 e que substituirá o atual cartaz das 21h, “Terra e Paixão”. Segundo antecipado por “Veja”, outro sucesso icônico terá um remake em breve, “Vale Tudo“, de Gilberto Braga (1945-2021), Leonor Bassères (1926-2004) e Aguinaldo Silva, exibida em 1988.

Pensando nisso, selecionamos sete remakes de novelas que não conquistaram o coração dos espectadores. Atualmente, um desses está sendo levado ao ar pelo Canal Viva e trata-se de “O Sexo dos Anjos“, exibida entre 1989 e 1990 , pela Globo, versão que foi adaptada pela própria autora do  texto original, Ivani Ribeiro (1922-1995) e baseada em “O Terceiro Pecado”, da TV Excelsior (1968). Relembre este e outros remakes que fracassaram.

Mila Moreira, Sandra Bréa e Ana Helena Berenguer compuseram o elenco de “Elas por Elas”, em 1982. Trama será revisitada (Foto: Eduardo França/Colorização: Site HT)

O Sexo dos Anjos (1989)

Um emissário (Felipe Camargo) do Anjo da Morte (Bia Seidl) desce à terra para buscar Isabela (Isabela Garcia), que deve morrer. Porém, ele se apaixona pela moça e acredita que quem deve ser levada é a irmã dela, Ruth (Sílvia Buarque). A proposta é recusada pelo Anjo, que determina que Isabela só pode cometer dois pecados. Havendo o terceiro, ela morrerá. O emissário, então, ganha forma humana, passa a chamar-se Adriano e se esforça para impedir a amada de pecar.

A premissa da novela, muito ingênua e açucarada, não conquistou o público e este talvez seja o folhetim de menor sucesso escrito por Ivani Ribeiro na Globo – emissora na qual só escreveu uma trama inédita, “Final Feliz” (1982). Os telespectadores, tanto da época como os atuais, acham a novela muito anacrônica tanto para o fim dos anos 1980, como atualmente, quando ela está em reprise. Aliás, um dos fatores do insucesso se atribui à escolha em ser uma história contemporânea, e não de época, como foi a versão original “O Terceiro Pecado“, da Excelsior.

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“O Sexo dos Anjos”: Bia Seidl e Felipe Camargo em cena na trama em reprise no Canal Viva (Foto: Acervo/Globo)

 Pecado Capital (1998)

Fruto do talento da autora Janete Clair (1925-1983), que escreveu a novela “Pecado Capital”, em poucos dias para substituir “Roque Santeiro” que havia sido censurada em 1975, a novela se consagrou pelas atuações marcantes de Betty Faria e Francisco Cuoco. Em 1998, a trama foi readaptada por Glória Perez e dirigida por Wolf Maya. A trama teve de passar por adaptações por ser trocada de horário, já que originalmente foi veiculada às 20h e nos anos 1990 foi passada para as 18h.

Francisco Cuoco, em vez de viver o taxista Carlão, deu vida ao protagonista maduro da trama, Salviano Lisboa. Porém, diferenças irreconciliáveis dele com a atriz Carolina Ferraz, acabaram se sobrepondo à trama e a adaptadora teve de lançar mão de uma atriz para fazer par com Cuoco, e a escolhida foi Vera Fischer. Lima Duarte e Betty Faria, atores da trama original fizeram participações pequenas e afetivas na nova versão. A recusa popular por sobre a novela é tamanha que ela já esteve duas vezes cotada para ser reexibida no Viva e não ganhou repeteco.

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Pecado Capital, de 1998. Brigas entre Francisco Cuoco e Carolina Ferraz ganharam mais força que a trama, de audiência pífia (Foto: Jorge Baumann/TV Globo)

Vende-se um véu de noiva (2009)

Não é apenas o Grupo Globo que coleciona fracassos de audiências das novelas. Transmitida no horário das 22h, em 2009, o SBT investiu bastante em chamadas e propagandas de “Vende-se um véu de noiva”. Trata-se de um remake baseado na rádio-novela de mesmo nome, também de Janete Clair, transmitida nas décadas de 1950 e 1960 e que serviu de base para a novela “Véu de Noiva“, exibida em 1969, pela Globo.

Coube às autoras Íris Abravanel, Yoya Wursh e Jaqueline Vargas a adaptação. A meta era de 10 pontos de audiência. A novela oscilava entre 4 e 5 no Ibope. “Vende-se” é marcada por ser a primeira em Full HD da casa.

Nando Rodrigues Thais Pacholek em “Vende-se um Véu de Noiva” (Foto: Divulgação/SBT)

Selva de Pedra (1986)

O remake de “Selva de Pedra” foi lançado em 1986, pela Globo. A ideia era arrebatar o coração do público como havia acontecido com a primeira versão da trama, homônima, de 1972. Ambas foram exibidas às 20h e a atualização não fez sucesso. Fernanda Torres – segundo ela própria – traumatizou-se tanto que nunca mais fez uma novela inteira. A atriz foi duramente criticada por sua versão de Rosana Reis/Simone Marques.

A primeira polêmica de “Selva” deu-se por conta de uma sugestão de lesbianismo entre as personagens Fernanda e Cíntia, respectivamente Christiane Torloni e Beth Goulart, que acabaram valendo a demissão de Walter Avancini (1935-2001). Inúmeros outros diretores passaram pela novela, que não teve um bom Ibope, ainda que tenha conseguido manter a Globo na liderança. No saldo positivo, a novela colaborou para solidificar o nome de Miguel Falabella como ator. Ele viveu o vilão, Miro.

Christiane Torloni e Marilena Ansaldi em “Selva de Pedra” (1986) [Foto: Divulgação Tv Globo]

Guerra dos Sexos (2012)

Guerra dos Sexos” ganhou uma nova versão em 2012. Produzida em 1983, a novela original teve a assinatura de Silvio de Abreu e colaboração de Carlos Lombardi e abordou temas relacionados aos conflitos masculinos e femininos.

Contemporaneamente, a discussão sobre os papéis sociais a serem ocupados pela mulher está muito em voga, porém a forma na qual a narrativa a abordou na releitura soou inadequado ao público moderno. Nem mesmo o talento do escritor, que chegou a participar na produção do remake, e o elenco de peso, como Gloria Pires e Edson Celulari, salvou-a do fracasso.

Guerra dos Sexos em 2012. Irene Ravache e Tony Ramos foram os protagonistas. Conflito entre machões e feministas pareceu datado em 2012 (Foto: Divulgação/Globo)

Irmãos Coragem (1995)

Em comemoração aos 30 anos da TV Globo, em 1995, a emissora lançou uma série de programações especiais. A readaptação de “Irmãos Coragem”, história sobre três irmãos que ameaçavam o domínio de um fazendeiro poderoso na cidade, não agradou ao público das 18h.

Ao contrário do sucesso da primeira versão, escrita por Janete Clair e transmitida em 1970, no horário das 20h, a novela caiu no esquecimento. O remake foi escrito por Marcílio Moraes. Dias Gomes (1922-1999), viúvo de Janete Clair, se indispôs com o diretior Luiz Fernando Carvalho, que foi afastado e em seu lugar entrou Reynaldo Boury (1932-2022).

Marcos Winter foi o jogador de futebol Duda, em “Irmãos Coragem” (1995) [Foto: Jorge Baumann/Globo]

Meu Pedacinho de Chão (2014)

Apesar dos elementos detalhados e da trama bem avaliada pela crítica especializada, o remake “Meu Pedacinho de Chão” alcançou o recorde de uma das piores audiências da faixa das 18 horas na TV Globo. A obra foi escrita por Benedito Ruy Barbosa em 1971 e na releitura, e nos 70’s, se tornou a primeira novela da emissora no horário das seis. A segunda versão, com ar de fábula e de história infantil acabou por afastar o telespectador.

A novela acabou, sem intenção, gerando um debate sobre intolerância religiosa, em razão dos personagens Epa (Osmar Prado) e Viramundo (Gabriel Sater). Grupos religiosos diziam que a novela “estava divulgando a Umbanda”, por associarem o nome de personagem de Osmar Prado à saudação a Oxalá, Epa Babá, e o de Sater ao Exu Giramundo, proposta que nunca existiu. A novela das 18h manteve o índice de pior audiência da faixa até que sua sucessora, “Boogie Oogie”, abaixou-o ainda mais.

Irandhir Santos em “Meu Pedacinho de Chão” (foto: Divulgação/Globo)