No ar em “Reis”, Andrea Veiga relembra Xuxa, Marlene Mattos e trabalhar desde jovem na TV: ‘Não tive infância’


Andrea Veiga revelou-se como a primeira paquita da Xuxa. “Eu vejo que a gente trabalhou muito. Não tive infância, não tive adolescência. Fui terminar o Ensino Médio aos 30 anos, me formei em Jornalismo aos 34 anos. Ou seja, o tempo age de maneira completamente diferente pra mim”, observa. Outro trabalho de destaque da atriz foi na série cômica “Vila Vintém”, exibida dentro do humorístico “Os Trapalhões” em 1992, que chegou a ser alvo de duras críticas, pela ausência de mais personagens negros, com exceção do comediante Mussum, uma vez que a vila mostrada na televisão, foi inspirada na comunidade localizada entre os bairros de Realengo e Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio de Janeiro

No ar em dois projetos simultâneos, o documentário sobre Xuxa, do Globoplay, e na série “Reis”, na Record, Andrea Veiga volta à teledramaturgia depois de um afastamento de 12 anos. Anteriormente, a atriz teve uma breve participação em “Fina Estampa” (2011). Além de contar sobre seu trabalho na superprodução bíblica, seus projetos futuros, e os segredos de manter a boa forma, a atriz falou sobre Marlene Mattos, polêmica diretora, que atualmente vem sendo muito comentada pelos seus métodos na liderança de seus trabalhos com Xuxa. Andrea reitera a rigidez da profissional – “Marlene era muito exigente”. Mas, lembra que foi a diretora quem a incentivou a estudar, mas ela só conseguiu terminar o Ensino Médio aos 30 anos. “Ela praticamente me obrigou a fazer uma faculdade, pois queria que eu trabalhasse a seu lado e tivesse uma formação”, lembra. Trabalhando desde muito jovem na televisão, a carioca revelou nesta entrevista os sacrifícios que precisou enfrentar para se tornar a artista que é hoje. “Como Paquita, a gente trabalhou muito. Eu não tive infância, não tive adolescência. Fui terminar o Ensino Médio com 30 anos”.

Leia mais: Xuxa faz revelações a respeito do que sente assistindo o documentário e acrescenta ponto sobre relação com Marlene

No ar na oitava temporada da superprodução “Reis – A Consequência”, da Record, a atriz interpreta a cortesã Golda, em sua maturidade, dando sequência à personagem que, inicialmente, foi vivida por Karen Junqueira. Além deste trabalho, a atriz revisita outras importantes passagens de sua carreira, como em “Salomé”, de 1991, seu primeiro grande trabalho como atriz na televisão – e no qual gravou algumas músicas da trilha sonora, como cantora – bem como a participação na novelinha “Vila Vintém“, que compunha o programa “Os Trapalhões” e que recebeu críticas de movimentos sociais na época por não ter negros e, ainda que referenciasse em seu nome a comunidade favelizada homônima, não fazia nenhuma menção a ela. “É injusto comparar [com a discussão moderna] aquela produção, feita dentro de um contexto histórico-social diferente do atual”.

Quanto ao futuro, a ex-Paquita já possui inúmeros projetos encaminhados. Um deles é a sua participação em “O Porteiro”, comédia estrelada por Alexandre Lino e Cacau Protásio, e com estreia marcada para o final de agosto. Além deste, pretende percorrer alguns estados brasileiros com o show “Diz que eu fui por aí”, em homenagem à Nara Leão. Deseja, também, voltar aos palcos.

Andrea Veiga: atriz revisita a própria história e celebra volta à teledramaturgia, na Record (Foto: Divulgação)

XUXA, MARLENE MATTOS E TV

Andrea fez sua estreia na TV aos 13 anos, no “Manchete TV Boxe“, e em seguida como a assistente de palco“Paquita”, namorada do papagaio “Paquito” no “Clube da Criança“, apresentado por Xuxa Meneghel. Andrea presenciou a construção do legado da ex-modelo que se tornaria a futura “Rainha dos Baixinhos”, quando a apresentadora ingressou na TV Globo, em 1986. A trajetória da mãe de Sasha está sendo contada em “Xuxa, o documentário”, produzido em virtude das comemorações de 60 anos da comunicadora. Para Andréa “foi muito emocionante, muito legal ter voltado na História e no tempo para relembrar essas coisas todas”, afirmou ela.

No documentário produzido pelo Globoplay, com direção de Pedro Bial, a artista relembrou que, apesar de ter a sua imagem atrelada a de Xuxa e de ter contribuído na solidificação da História da loura, foi necessário abrir mão de muita coisa a fim de assumir tamanha responsabilidade:

Eu vejo que a gente trabalhou muito. Não tive infância, não tive adolescência. Fui terminar o Ensino Médio aos trinta anos de idade, me formei em Jornalismo aos 34 anos. Ou seja, o tempo age de maneira completamente diferente pra mim – Andrea Veiga

Ao mesmo tempo em que é reconhecida por sua passagem na série, Andrea fez questão de ressaltar a importância de Marlene Mattos, especialmente num momento em que a conduta pessoal e profissional de Marlene vem sendo discutida: “Eu tive uma relação muito tranquila com a Marlene. Ela gostava muito de mim. Era exigente e sempre foi. E eu acho que essa coisa de ter trabalhado com ela e de ser uma pessoa muito caxias, muito profissional, soma no meu trabalho. Eu sou uma pessoa muito competente no que eu faço, sem ego, por coisas que aprendi junto com ela mesmo, de profissionalismo e de executar as propostas certas”. Sobre as falas de Xuxa e as recentes queixas que envolvem Marlene no que diz respeito a assédio moral, Andréa foi enfática: “Eu acho que esta questão de assédio de trabalho é da geração das Paquitas, mais novas”, frisa.

E ela prossegue a respeito de sua convivência ao lado da diretora: “Foi a Marlene quem me descobriu no “Clube da Criança” e me levou para a Globo. Tudo que aprendi em produção de TV foi com ela. Comecei muito criança, e, depois que fiz 18 anos, saí do programa, me casei, me mudei para Brasília. Quando eu voltei, ela me procurou querendo que eu trabalhasse consigo em produção. E devo a ela o meu ingresso na faculdade, ela queria que eu estivesse ao seu lado e que tivesse uma formação”, afirmou.

 

Andrea Veiga, Xuxa e as Paquitas, na Globo. Revolução na linguagem emnprogramas infantis (Foto: Reprodução/Instagram)

DA RAINHA AOS “REIS”

O retorno às novelas acontece num momento muito especial para Andrea. Ainda de acordo com ela, o convite para participar do folhetim bíblico aconteceu há três meses. A trama, que narra o nascimento da nação de Israel, até o dramático desfecho que culmina com a queda de Jerusalém, é contada pelo ponto de vista dos reis que conduziram o povo israelita: Saul (Carlos Porto) e Davi (Cirillo Luna/Petrônio Gontijo). Para viver uma personagem passada num contexto histórico tão diferente do nosso (1055 a 1015 a.C), a atriz contou com o auxílio da preparadora de elenco Rosana Garcia, a eterna Narizinho do Sítio do Picapau Amarelo (1977), que desenvolveu “todo um trabalho de ambientação, com os outros personagens, com a época, com o linguajar, com as vestimentas, aulas, workshops e etc.”

Ainda sobre “Reis”, Andrea Veiga preferiu não entregar maiores detalhes sobre o destino de sua personagem na trama. Todavia, limitou-se a dizer que Golda não é a mãe biológica de Ashira (Antonella Morgenstern/Carol Bresolin), cujo segredo será desvendado no desenrolar da história. Entretanto, a atriz ressaltou ter alguns pontos em comum com ela: “Golda é uma mulher muito forte, que sabe o que quer, uma mulher determinada, que vai à luta das coisas, uma mulher que teve que se virar muito só. Eu acho que nisso somos muito parecidas”.

Andrea Veiga e Carol Bresolin em “Reis”. Conflitos épicos na trama da Record (Foto: Divulgação/RecordTV)

TRAJETÓRIA

Foi o diretor Herval Rossano (1935-2007), quem a descobriu e apostou no talento de Andrea, que fez seu primeiro trabalho como atriz na minissérie “O Portador” (1991). Em seguida, um novo convite de Rossano, desta vez um papel maior na novela “Gente Fina”, em 1990, onde viveu Suzy, uma adolescente que a todo custo tentava separar Maurício (Guilherme Fontes) de Kika (Lizandra Souto). Paralelo a isso, Veiga fazia sua estreia no cinema no longa “Um Sonho de Verão” (1990), estrelado pelas Paquitas e os Paquitos, onde fez par romântico com Sérgio Mallandro. A grande virada aconteceria no trabalho seguinte, na novela “Salomé” (1991), que marcou a terceira parceria da atriz com o consagrado diretor. No folhetim, viveu Carmem Terezinha, uma cantora cujo caminho se assemelhava ao da atriz e cantora Carmen Miranda (1909-1955). Um papel sob medida para ela, que chegou a exercitar seus dotes como cantora, no seu primeiro, e até então único álbum solo, lançado pela Xuxa Discos em 1989.

Leia Mais: Petrônio Gontijo: carreira, síndrome do pânico e novos trabalhos após fim de vínculo com a Record

Ainda que reconhecesse seu talento como cantora, Herval Rossano foi cauteloso e contratou uma profissional para dublar as cenas em que Carmem cantasse na novela. Para provar que era capaz de soltar a voz durante toda a exibição da trama, Andrea chegou a fazer um teste com o grupo que a acompanhava nas gravações, e gravou duas faixas, uma delas até entrou na trilha nacional, um pot-pourri de marchinhas da década de 1920, época na qual a trama era ambientada, e que foi creditada aos personagens da novela e não aos seus intérpretes – Andrea Veiga e Petrônio Gontijo.

Herval ficou tão impressionado com o que escutou que aprovou o uso da sua voz na história, dispensando assim a artista contratada, o que acabou gerando uma tremenda saia justa. Ela explica: “Herval havia contratado a Sylvia Massari, uma super cantora e que é minha amiga até hoje. Eu tive que ligar para ela e falar: ‘Sylvia, desculpa, eu sou atriz e eu canto e você sabe que eu canto. Eu batalhei para cantar. Estou te ligando para dizer isso, e eu sei que isso deve ser [incômodo], mas para mim, como atriz é muito melhor que eu cante, já que minha personagem é cantora na novela”. Questões à parte, “Reis” também marca o reencontro profissional de ambos os atores, Petrônio e Andréa, 33 anos após a novela global. “Trata-se de um encontro muito feliz”.

Um dos raros registros de Andrea Veiga em “Salomé”, seu primeiro personagem de destaque na Globo (Foto: Reprodução/TV Globo)

Outro trabalho de destaque da atriz foi na série cômica “Vila Vintém”, exibida dentro do humorístico “Os Trapalhões” em 1992, que chegou a ser alvo de duras críticas, pela ausência de mais personagens negros, com exceção do comediante Mussum, uma vez que a vila mostrada na televisão, foi inspirada na comunidade localizada entre os bairros de Realengo e Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Área que, predominantemente é ocupada por pessoas pretas. Segundo Andrea, “é injusto comparar a produção que foi feita dentro de um contexto histórico-social diferente do atual, com o aumento das pautas raciais em voga em nossa sociedade. Talvez, se fosse levada ao ar nos dias de hoje, a novelinha teria que passar por profundas transformações”. Ela completou festejando a ampliação do mercado para profissionais negros. “Que bom que o audiovisual está dando oportunidade para todo mundo. Eu acho maravilhoso, bato palma, eu acho lindo e necessário mesmo”, enfatizou.

Andréa Veiga, Renato Aragão e Conrado em “Vila Vintém” (Foto: Reprodução/TV Globo)

A maturidade parece que fez muito bem à Andrea Veiga. Aos 53 anos, a estrela se tornou alvo dos paparazzi por exibir seu corpo muito bem cuidado na praia de Ipanema. O segredo para manter o mesmo aspecto jovial, que encanta todos os seus mais de 212 mil seguidores no Instagram, está no cuidado com o seu bem estar, tanto no aspecto da saúde, quanto do lado emocional. “Sou uma pessoa muito ativa, acho que sou hiperativa”, diverte-se. E prossegue: “E eu sempre gostei muito de esporte, pratiquei muito dança, e agora que estou ficando mais velha, acho que os cuidados com o corpo e com a mente são primordiais. Necessário envelhecer com saúde”, contou ela que faz um programa direcionado de exercícios físicos no Espaço Stella Torreão, que inclui hidroginástica, funcional e musculação.

E ela continua: “Isso é ótimo pra mim, que possuo hábitos saudáveis, gosto de beber socialmente com os meus amigos, tomar um vinho, um drink, socializar… Sou uma pessoa que dorme cedo, acorda cedo, não fuma, então acho que isso ajuda muito. E creio que algo que  ajuda muito na jovialidade, é o humor. O humor salva, a alegria salva e eu me agarro muito nessa coisa bem humorada da vida, eu não procuro puxar tudo pra baixo, eu jogo tudo pra cima!”.

Quando o assunto é maternidade, Andrea derrete-se ao falar do filho Lucca Cechinel, de 22 anos. Por ter vivido tantas coisas dentro da profissão, Veiga afirma que nunca quis manifestar o desejo de seu herdeiro seguir os seus passos, devido aos inúmeros desafios enfrentados por ela neste ofício. “É uma carreira muito complicada. Uma hora você tem, outra hora você não tem, é uma concorrência muito grande, é uma briga de egos danada. (…) Eu não queria que ele sofresse e nem passasse tudo aquilo que eu passei, que é muito difícil. Mas o Lucca, apesar de ter feito teatro na escola, chegando a receber um prêmio de melhor ator que foi entregue pelo Tony Ramos na época, escolheu fazer faculdade de Ciências Sociais e Direito. Está fazendo duas faculdades ao mesmo tempo. É um menino incrível, bolsista, aprovado em primeiro lugar na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e que quer ser procurador. Confio de que ele vai ser um grande profissional”, elogiou.

Andrea Veiga e seu filho. O rapaz cursa duas faculdades simultaneamente e é engajado nas causas sociais (Foto: Reprodução/Instagram)

Diante de uma carreira múltipla, ficou faltando realizar algum projeto para Andrea sentir-se completa? “Fiz tanta coisa na vida, que se olhada a minha carteira de trabalho eu já fui radialista, jornalista, atriz…. Gravei disco, audiobook, cinema, TV, já fiz tanta coisa na minha vida… Gostaria muito de fazer uma série maneira, um papel legal no streaming. Espero que com a novela, os produtores de elenco prestem um pouquinho mais de atenção e me deem uma oportunidade. Eu adoraria!”, finalizou, esperançosa.