*por Vítor Antunes
Marcos Caruso poderá ser visto na nova novela das 18h, “Elas por Elas“, na qual viverá o papel que coube ao Mário Lago (1911-2002) na primeira versão. Miguel em 1982, quando vivido por Lago, o de Caruso chamará Sérgio. E será uma pessoa de caráter duvidoso “e o telespectador vai descobrir isso no decorrer da trama”. Gravando de segunda a sexta na Globo a novela, o ator também pode ser visto no teatro. Está encenando, junto com Eliane Giardini, a montagem de “Intimidade Indecente“, sob direção de Guilherme Leme Garcia, e que está em cartaz no Teatro Renaissance até novembro: “Estou fazendo teatro em São Paulo e gravando aqui de segunda a sexta, graças a Deus!”
Embora seja uma novela bem-sucedida, poucas pessoas associam Marcos Caruso ao seu maior sucesso como autor: “A História de Ana Raio e Zé Trovão“, exibida pela Manchete em 1990, logo depois do fenômeno “Pantanal”. A trama da extinta emissora não teve uma audiência tão fragorosa como a de sua antecessora, mas respondeu por um número muito expressivo no horário e permitiu à emissora dos Bloch consolidar-se na faixa com alguma folga. “Ana Raio” era uma novela disruptiva pois não tinha cenas externas, além de ser uma novela itinerante, gravada cada vez em uma cidade e percorreu, sem exagero, o Brasil inteiro. Não só a trama era produzida, gravada, mas também escrita neste esquema. Para seu autor, ainda que tenha sido um sucesso, escrever a novela nesse esquema foi aterrador: “Eu não quero mais escrever novela. Foi terrível, uma experiência alucinante, que me doeu o corpo, eu tive problemas de saúde porque a cada vinte capítulos a gente mudava de cidade, de estado, de personagens, era uma coisa!”.
NEM RAIO, NEM TROVÃO
Indiscutivelmente, Marcos Caruso é um ator de sucesso. Ele já fez várias novelas e, a partir da semana que vem poderá ser visto em duas na Globo – “Elas por Elas” e “Mulheres Apaixonadas“. O que não é tão comum saber assim é da sua verve roteirista. Não apenas assinou um dos maiores sucessos da história do teatro, “Trair e Coçar é Só Começar” – em dupla com Jandira Martini – como é autor de “A História de Ana Raio e Zé Trovão“, um dos maiores sucessos da Manchete e que veio a ser reprisada pelo SBT em 2010, com bons resultados. Antes de “Ana Raio“, Caruso escreveu como autor solo “Braço de Ferro“, na Band em 1983 e colaborou em outras novelas da casa.
A missão da novela da Manchete não era fácil. Constava em manter ou superar os já altos índices conquistados por “Pantanal” . E a novela não apenas conseguiu manter os bons números como tornou-se uma das mais extensas da emissora – ainda que tenha-lhe exaurido as finanças. Perguntamos a Caruso se ele voltaria a escrever novelas, já que desde o fim deste última, nunca mais ele voltou a fazê-las. E ele foi taxativo: “Nunca mais! Já fui convidado, mas não. Novela é pra quem gosta. Não é que eu não goste de escrever, é para quem tem vocação para isso. Ainda que eu acredite ter talento, não disponho da vocação, de ficar todos os dias, sendo obrigado a escrever quarenta páginas. Sim, por que se o autor fica doente em um dia, no terceiro dia de doença ele já terá de escrever cento e vinte páginas. É algo infernal!”
E ele prossegue em sua observação, “como eu tenho trabalhado de ator e também há um leque maior dentro da minha profissão e posso ser feliz de outras maneiras, prefiro deixar esta função pros autores profissionais escreverem no meu lugar, e aproveito-lhes o talento como ator”.
Ainda sobre “Ana Raio“, quisemos saber se em algum momento alguma emissora ousaria em fazer algo tão peculiar como foi esta novela, que não tinha internas, era totalmente pautada em locações e gravações externas e fazia o estilo novela-ônibus – ou seja, que há a entrada e saída de personagens passageiros. “Na história da televisão brasileira nunca se coloca esse fato ou esse dado de que “Ana Raio” foi uma novela com esta característica. Eu acho que tem que haver sim. A televisão cada vez mais possibilita isso. E é uma novela que seria bem-vinda hoje.”
♫ NADA QUE VIVE VIVE EM VÃO ♪
Tanto quando foi anunciado o remake de “Elas por Elas” como quando foi iniciada a sua produção, os telespectadores mais conservadores chiaram. Caruso, a contrário, naturalizou. “Desde que Shakespeare escreveu “Romeu e Julieta” são feitos remakes. E, neste caso, a novela não é exatamente como era. Estamos trazendo os conflitos pros dias atuais prum horário diferente, já que, no original a trama foi veiculada às 19h e agora vai ao ar às 18h. A trama tem uma estrutura sólida. Então, enxergo que estamos construindo um prédio novo em cima de uma estrutura antiga, porém sólida”.
Sérgio, seu personagem, é um tipo novo, diferente dos que já interpretou na carreira. Trata-se de uma pessoa com caráter duvidoso, questionável. “Eu sempre faço o pai amoroso, o avô conselheiro, o amigo dos amigos, o marido banana, o cara que que tem esse olhar mais carinhoso e mais honesto diante da vida. Mas Sérgio não é assim. E, realmente, se eu falar mais além disso, estaria soltando um spoiler desnecessário nesse momento”, ressalta.
Só há remake do que é bom. O que é clássico tem que ser de revisto – Marcos Caruso
Sobre a novela, o ator diz estar “muito empolgado por que quando a gente tem texto bom, direção boa a coisa flui. E a Globo produz coisas de muita qualidade. Além disto, há o destaque que, em “Elas por Elas” é uma novela com sete protagonistas, não são núcleos, de modo que as sete histórias acontecem ao mesmo tempo, com um elenco incrível, uma direção incrível, Então a expectativa é das melhores”, finaliza.
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