* Por Karina Kuperman
Lá no começo de 2018 – quando a campanha #MeToo fervia em Hollywood -, o diretor Woody Allen foi um dos nomes que esteve no centro do escândalo. A principal denúncia foi de Dylan Farrow, sua filha adotiva com Mia Farrow. Desde 2014, a jovem vinha afirmando publicamente que o pai a abusou sexualmente quando ela tinha apenas sete anos, em 1992. Mas só quatro anos depois da primeira afirmação pública de Dylan que Allen colheu frutos dessa acusação. A história rendeu uma quebra de contrato com os estúdios Amazon, que, até então, era a distribuidora do longa “A rainy day in New York” e o projeto, que teria previsão de lançamento em 2018 acabou tendo sua estreia adiada por duas vezes. Desde então, Allen vem tentando, sem sucesso, lançar a história que conta com Selena Gomez, Elle Fanning, Timothée Chalamet e Jude Law no elenco.
O ano de 2018 foi o primeiro, em quase quatro décadas, que Allen ficou sem realizar novas produções. Agora, porém, o diretor e roteirista volta à ativa e decidiu produzir seu novo filme bem longe de Hollywood. De acordo com o ‘Deadline’, o longa, ainda sem nome, está em desenvolvimento e já conta até com um elenco principal. A história será rodada na Espanha, durante o verão europeu, e já tem Christoph Waltz, estrela de obras como “Django Livre” e “Bastardos Inglórios”, dirigidos por Quentin Tarantino, no elenco principal. Em um comunicado nessa terça-feira, a produtora espanhola MediaPro Studio confirmou que o filme será rodado no próximo mês, em San Sebastián, e adiantou que a história é uma comédia romântica sobre um casal americano que visita o festival de cinema local, só que, na viagem, os dois se envolvem em relacionamentos extraconjugais. A esposa começa a ter um caso com um cineasta francês e o marido se apaixona por uma espanhola. Essa não é a primeira parceria de Allen com a MediaPro Studio, uma das maiores produtoras independentes da Europa, que também esteve por trás de “Vicky, Cristina e Barcelona”, de 2008, e “Meia noite em Paris”, de 2011.
Vale lembrar que a acusação de Dylan chegou a ser levada à Justiça nos anos 90, quando Woody Allen e Mia Farrow se separaram, mas nada foi de fato provado e o diretor foi inocentado. Após a denúncia vir a tona, alguns dos artistas chegaram a declarar que não havia mais interesse em trabalhar com Allen, incluindo parte do elenco de “A rainy day in New York”. Selena Gomez e Timothée Chalamet foram a público dizer que se arrependeram e chegaram a doar seus salários a associações ligadas ao movimento. Apesar disso, nenhum dos atores ou atrizes que trabalhou com Woody Allen jamais fez acusações contra o diretor em quase 50 anos de carreira. Diferente do caso do magnata cinematográfico Harvey Weinstein, acusado por, pelo menos, 93 mulheres de ter cometido assédios sexuais entre os anos de 1980 e 2015.
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Allen, porém, vive um relacionamento polêmico. Aos 83 anos, é casado com Soon-Yi Previn, de 48 anos, que foi adotada por Mia Farrow e André Previn em 1978. Ou seja: Soon-Yi também chegou a ser criada por Woody Allen, com quem Mia começou a se relacionar no ano seguinte. Allen e Previn se apaixonaram em 1991, quando a menina tinha 21 anos.
Em entrevista para a ‘New York Magazine’, em 2018, após décadas de silêncio, ela chegou a declarar que nunca viu no diretor uma figura paterna e relembrou o primeiro beijo. “Pelo que eu lembro, eu voltei da Universidade durante algum feriado e ele me mostrou um filme do Bergman, acho que era ‘O Sétimo Selo’. Conversamos sobre o filme e eu devo tê-lo impressionado, porque ele me beijou e foi assim que começou”, contou ela, que está casada com o diretor a mais de duas décadas e jamais havia se pronunciado, mas, durante o movimento #MeToo, decidiu romper seu silêncio porque considerou “injusto e preocupante” as acusações contra o marido.
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