Lima Duarte, digital influencer aos 91 anos: ‘Histórias e personagens moldaram o que eu sou’


Monstro sagrado da televisão brasileira, que vai estar na segunda temporada da série Aruanas, o ator vem cativando seguidores no Instagram, relembrando passagens das sete décadas de carreira, contando “causos” e mostrando momentos em família. “É tudo novo para mim essa relação com as tecnologias e com as redes sociais. Mas adoro compartilhar as histórias que fazem parte do meu baú de lembranças”, ressalta ele que, no momento, pode ser visto em reprises como Roque Santeiro, O Bem-Amado e O Salvador da Pátria

* Por Carlos Lima Costa

Único ator vivo de Sua Vida Me Pertence, primeira telenovela do país, há 70 anos, Lima Duarte é uma lenda da televisão brasileira, que ele literalmente viu nascer. Afinal estava lá na cerimônia de inauguração, em 18 de setembro de 1950, vindo do rádio, onde já atuava como radioator, mas onde havia começado como operador de som e sonoplasta em 1946. Homem do seu tempo, nunca se apegou ao passado e sempre esteve atento às novidades. Aos 91 anos, agora é um influencer digital. “É tudo novo para mim essa relação com as tecnologias e com as redes sociais. Mas adoro compartilhar as histórias que fazem parte do meu baú de lembranças”, já ressaltou ele, que em sua trajetória trabalhou também como diretor de novelas, dublador e apresentador.

Com ajuda das netas mantém ativa sua conta no Instagram, onde relembra trabalhos, conta “causos” e antecipa aos seguidores as novidades profissionais, como a mais recente, a segunda temporada da série Aruanas, que o levou de volta às gravações. “Antes, no cotidiano, tinha muito, por exemplo, a discussão de personagens. Agora, ao voltar a trabalhar depois de um ano e meio, não estou reconhecendo mais nada com esses protocolos, e olha que fiz 60 novelas, só na Globo”, frisou em sua rede social, citando diferenças por conta dos protocolos de segurança necessários devido à pandemia da Covid-19. Lima vai surgir em cena como um coveiro que enterra bebês nascidos sem cérebro devido a um desastre ambiental.

Em breve, Lima será visto na TV na segunda temporada da série Aruanas (Foto: Reprodução Instagram)

Em breve, Lima será visto na TV na segunda temporada da série Aruanas (Foto: Reprodução Instagram)

Lima já está devidamente vacinado. Ele recebeu a segunda dose do imunizante em 27 de fevereiro. “Agradeço aos profissionais da saúde e da ciência. Isso só está sendo possível por conta de todos os esforços e dedicação da parte deles. E, mesmo com essa dose de esperança, eu peço a todos que se cuidem! Usem máscara, evitem saídas desnecessárias, e sempre andem com álcool. Tudo isso é necessário para que possamos amenizar os danos dessa doença tão cruel”, pontuou, diretamente de Indaiatuba, no interior de São Paulo, onde mora em um sítio.

Ele, inclusive, está sempre atento as causas importantes. Como relatou, foi “com muito orgulho” que participou, por exemplo, da campanha Maio Amarelo 2021. “Uma ação importantíssima de conscientização para redução de acidentes de trânsito”, frisa.

Lima vive em seu sítio em Indaiatuba, interior de São Paulo (Foto: Reprodução Instagram)

Lima vive em seu sítio em Indaiatuba, interior de São Paulo (Foto: Reprodução Instagram)

Em suas postagens no Instagram, como sempre, mostra bastante energia. Inclusive, ressaltada em seu mais recente aniversário. “Foram 91 anos muito bem vividos! Foram tantos momentos, histórias e personagens que moldaram o que eu sou. Thomas Mann (1875-1955), escritor alemão, prêmio Nobel de Literatura de 1929) diz que vivemos duas vidas. Uma é essa objetiva: nasceu, amou, trabalhou, morreu. A outra é a memória, que é a mais longa. Ultimamente, tenho vivido muito na memória, lembrando da minha jornada no teatro, TV e cinema, minha infância, minha mãe, lembranças e lembranças. Com 91 anos, a minha vida já está acabando, mas a memória vai persistir”, ponderou o ator, que nasceu no povoado Nossa Senhora da Purificação do Desemboque e do Sagrado Sacramento, distrito de Desemboque, no interior de Minas Gerais.

Em seu aniversário, em 29 de março, Lima foi homenageado na abertura do Ecocine – Festival Internacional de Cinema Ambiental e Direitos Humanos com a pré estreia do road movie Bye Bye Desemboque, Lima Duarte e Suas Veredas, com roteiro e direção de Ariane Porto, que mostra parte da vida do ator, filho da artista de circo América Martins e do boiadeiro Antônio José Martins, cujo nome de batismo é Ariclenes Venâncio Martins.

Desde o início da pandemia, em março do ano passado, Aruanas é o primeiro trabalho de Lima Duarte. Mas o público, nesse período, pôde relembrar em canais a cabo alguns personagens emblemáticos do ator como Zeca Diabo, de O Bem-Amado, Sinhozinho Malta (aquele do bordão “Tô certo ou tô errado?”), em Roque Santeiro, e Sassá Mutema, de O Salvador da Pátria. “Tenho assistido O Salvador da Pátria. Lauro César Muniz escreveu uma novela espetacular, é a melhor que eu fiz e eu fiz novela do Bráulio Pedroso (1931-1990), do Dias Gomes (1922-1999), da Janete Clair (1925-1983), de todo mundo”, ressalta. E acrescenta: “Adoravam o Sassá Mutema. Recebi muitos quadros que pintaram dele. O Sassá ainda repercute, porque ele fala com a alma das pessoas.”

Lima Duarte guarda em casa quadros que ganhou que retratam Sassá Mutema, seu personagem em O Salvador da Pátria (Foto: Reprodução Instagram)

Lima Duarte guarda em casa quadros que ganhou que retratam Sassá Mutema, seu personagem em O Salvador da Pátria (Foto: Reprodução Instagram)

Lima teceu comentários também sobre O Bem-Amado, de 1973, primeira novela a cores no Brasil, onde realizou cenas memoráveis com o protagonista Paulo Gracindo (1911-1995), intérprete do coronel Odorico Paraguaçu. “Espero que todos se divirtam com esse clássico extremamente atual, que usou muito humor para escancarar a maneira, a manipulação e a política movida por interesses particulares. Espero do fundo do meu coração que o tempo não tenha sido impiedoso sobre ela, que tenha ficado todas as intenções e a crítica mordaz. Estou torcendo para que se deleitem e se divirtam tanto quanto eu. Era uma crítica mordaz, terrível, porque o Dias Gomes era um crítico mordaz, profundo, inteligente”, observou Lima, que havia estreado na Globo no ano anterior dirigindo O Bofe, trama das 22 horas.

Ao longo de sua trajetória, marcou em inúmeros outros trabalhos como Pecado Capital, Pai Herói, Meu Bem, Meu Mal, A Próxima Vítima, Porto dos Milagres, Senhora do Destino, Da Cor do Pecado e O Outro Lado do Paraíso, a mais recente telenovela, exibida até maio de 2018. Esteve também por trás das câmeras, dirigindo marcos da dramaturgia televisiva como Beto Rockfeller e a clássica O Direito de Nascer. O público teve também a oportunidade de ouvir a voz de Lima em desenhos animados criados pela empresa de animação Hanna-Barbera, que marcaram os anos 60, como Manda Chuva, Wally Gator e Catatau, o amigo do urso Zé Colmeia. Ele até relembrou em seu Instagram, na última terça-feira, dia 29, para homenagear o Dia do Dublador.

Débora Duarte abraça o pai, Lima Duarte (Foto: Reprodução Instagram)

Débora Duarte abraça o pai, Lima Duarte (Foto: Reprodução Instagram)

Lima costuma ainda dividir também um pouco de cultura com os fãs, ao postar trechos de obras de escritores como Fernando Pessoa (1888-1935) e Guimarães Rosa (1908-1967). E, às vezes, posta fotos com a família, parabeniza filhos e netos. Ele é pai de Débora Duarte, mãe da atriz Paloma Duarte e da produtora Daniela Gracindo. “Me recordo do dia que você nasceu e de como você era linda. Tenho muito orgulho de você dedicar a sua vida ensinando crianças a mexer com cinema, imagem e som”, frisou recentemente para Daniela, que ensina crianças e jovens com seu projeto Pequeno Cineasta. Ela, aliás, foi a responsável pela realização de vídeos sobre o avô que foram exibidos na exposição com a qual o Itaú Cultural o homenageou ao completar 90 anos. Uma vida que teve destaque também no cinema, em filmes como O Crime do Zé Bigorna, Os Sete Gatinhos, Sargento Getúlio, O Auto da Compadecida e 2 Filhos de Francisco.

Leia mais: Daniela Gracindo: “Não tenho vocação para ser famosa, não abro mão de ser uma pessoa comum”

Reunião em família: Bruno Ferrari, Débora Duarte, Daniela Gracindo, Paloma Duarte e Lima Duarte (Foto: Arquivo Pessoal)

Reunião em família: Bruno Ferrari, Débora Duarte, Daniela Gracindo, Paloma Duarte e Lima Duarte (Foto: Arquivo Pessoal)