Ingra Lyberato, atriz de Pantanal 1990, diz que novela ficou “tatuada” em sua alma e aplaude tom político no remake


Após gravar participação afetiva para o último capítulo do remake, Ingra, que trabalha com Constelação Familiar e se formando em Ecopsicologia e estuda também toda filosofia do Xamanismo, vai escrever o terceiro livro e lembra atuação na primeira versão da novela: “Eu estou amando o remake. Pessoalmente, claro, a versão original representa uma conexão afetiva, pelo impacto que me causou, porque eu estava ali vivendo tudo aquilo e mudou a minha vida, me transformou profundamente”. Ela foi casada com o diretor da primeira versão, Jayme Monjardim, e chegou a criar cavalos na Serra da Cantareira

* Por Carlos Lima Costa

Ingra Lyberato, que interpretou Madeleine, uma das protagonistas da primeira fase de “Pantanal”, em 1990, na extinta TV Manchete, e que acaba de gravar uma participação afetiva para o capítulo final do remake da Globo, ressalta a importância da abordagem da nova produção com relação às questões ecológicas, políticas e sociais levantadas durante os capítulos. “A primeira versão foi pioneira em vários pontos, como a nudez natural, sem agressão, a fotografia. Foi uma revolução de linguagem. Pantanal, agora, fez uma grande atualização, porque há engajamento das pessoas em relação a temas importantes”. Para Ingra, a atual roupagem deu certo da mesma forma que a anterior, porque os personagens são fortes. “Eu estou amando o remake. Pessoalmente, claro, a versão original representa uma conexão afetiva, pelo impacto que me causou, porque eu estava ali vivendo tudo aquilo e mudou a minha vida, me transformou profundamente. Ficou tatuada na minha alma. Lá atrás, quando imaginei que outra pessoa iria interpretar essa personagem que mudou a minha história, deu aquela pontada no coração. Mas, logo depois, veio a grande oportunidade de maturidade de entender que maravilhoso foi para a Bruna Linzmeyer poder viver o que eu vivi sendo impactada como eu fui. Essa é a oportunidade de nos tornarmos maiores do que o nosso egoísmo. Pra mim, foi uma grande expansão ter acolhido dentro de mim o novo Pantanal”, enfatiza.

Ingra analisa remake de Pantanal, após gravar participação afetiva no último capítulo (Foto: Edu Rodrigues)

A atriz prossegue ressaltando a importância da consciência ecológica. Ela, por exemplo, está se formando em Ecopsicologia e estuda também toda filosofia do Xamanismo. “Vivo uma integração profunda com a natureza, então, o que tem acontecido no Pantanal ou na Amazônia dói no meu coração. O Marcos Palmeira virou um fazendeiro. Não tem como a gente não se afetar com temas de desmatamento, de destruição. Tenho vários colegas que militam mesmo a favor dessa causa de uma maneira mais oficial. Eu falo sempre sobre a importância dessa nossa conexão com a fonte da vida, tenho posicionamento humano, claro, com relação a isso. Naquela época, era completamente alienada em vários sentidos de posicionamento mesmo diante de vários temas. Então, o mundo deu muitas voltas, precisa atualizar o discurso, as falas no remake. Por exemplo, o Jove (personagem de Jesuíta Barbosa) trouxe a questão de não comer carne. Nos anos 1990, quase ninguém falava disso, não tinha essa consciência”, observa a atriz que celebra 56 anos no próximo dia 21.

Paulo Gorgulho e Ingra Lyberato, em Pantanal, de 1990 (Foto: Arquivo Pessoal)

Em entrevista ao site, a atriz Elaine Cristina, que deu vida a Irma (irmã de Madeleine), na segunda fase, em 1990, disse que poderiam ter feito uma continuidade da história com os herdeiros das personagens que tiveram filhos na trama. Ela considera que “fazer a mesma história, tentando atualizar algo que passou há 32 anos, quebrou o encanto da novela”. “Quando Elaine fala que podia ter sido uma continuação, claro que podia ter sido. São escolhas pessoais da direção, dos autores, que escolheram fazer um remake e está super válido também. Aí é de cada um, o que cada um sente. Não cabe a ninguém criticar a escolha de alguém. Eles escolheram fazer remake, ok”.

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Ingra Lyberato, Cristiana Oliveira e Giovanna Gold gravaram participação no último capítulo de Pantanal e confraternizaram com Marcos Palmeira (Foto: Arquivo Pessoal)

E completa: “Muita gente que não assistiu a novela no passado e está vendo agora, tem acesso a esse bioma rico que é o Pantanal. Amo que essa releitura tenha sido refeita”, afirma ela, que logo depois de atuar na trama, protagonizou “A História de Ana Raio e Zé Trovão”, ao lado de Almir Sater, que no “Pantanal ” original deu vida a Trindade (na atual versão interpretado por seu filho, Gabriel Sater) e, no remake, vive o chalaneiro Eugênio. A possibilidade da realização do remake de Ana Raio até já foi ventilada. “Vou te dizer que tem gente interessada em fazer. Os direitos são do Jayme (Monjardim), pois a ideia original é dele”, conta, referindo-se ao ex-marido, diretor das duas novelas.

Almir Sater e Ingra Lyberato: Em 1990, após o sucesso de Pantanal, eles protagonizaram A História de Ana Raio e Zé Trovão (Foto: Arquivo Pessoal)

A atriz também aplaude as mudanças nas características da personagem que ela interpretou em Pantanal. “Gostei muito do trabalho da Bruna. E foi interessante terem mudado o tipo físico. Agora, tanto a Madeleine quanto a irmã, Irma (Malu Rodrigues) eram louras. Na versão na qual atuei, eu e a Carolina Ferraz éramos morenas. Achei interessante o Bruno Luperi (que fez a adaptação da obra escrita por seu avô Benedito Ruy Barbosa) ter decidido, claro, com muito critério, fazer algumas mudanças e ter mantido outros pontos essenciais da novela. Mas achei acertado colocar as irmãs louras e a personalidade da Madeleine também ter sido diferente. A Madeleine da atual versão era mais louca, meio bipolar, histérica, ela pirava, enlouquecia. A minha era mais introvertida, sofrida. Olha que interessante, duas possibilidades muito ricas de uma mesma personagem. Foi bem emocionante quando a gente se encontrou virtualmente. Ela já tinha gravado tudo. Ficou aquela vontade da gente se abraçar um dia”, frisa.

Ingra, entre Sérgio Reis e Guito, intérpretes de Tibério, na versão original e no remake de Pantanal (Foto: Arquivo Pessoal)

Ingra analisa ainda a trilha sonora hoje e ontem: “Está linda com as violas, os dedilhados. Mas a trilha do Marcus Viana era uma apoteose. Quando escuto a música do Marquinho, vou para um lugar mágico de vida, é quase o Éden. Não é que seja melhor do que esta, porém eu entro em um túnel do tempo. Mas, como disse, sou muito aberta para releituras. Eu estou sempre me reinventando, então, as coisas não têm que ficar iguais”. Atualmente, Ingra trabalha como facilitadora de Constelação Familiar (Terapia Sistêmica Fenomenológica Integrativa), que atua de forma direta nas questões do sistema familiar, abrindo espaço para uma nova compreensão e cura de padrões. “Estou escrevendo o meu terceiro livro que passa por todos esses caminhos que se complementam: a atriz que chega na Constelação Familiar e que também tem a ver com a Ecopsicologia. Os caminhos se completam, porque ser atriz também é o estudo da natureza humana e, hoje, também faço a constelação familiar nessa relação entre o ator e o personagem”, frisa ela, que ano passado atuou na novela Gênesis, na Record TV.

PARTICIPAÇÃO AFETIVA NO ÚLTIMO CAPÍTULO DE PANTANAL

Na última sexta-feira, dia 9, Ingra, Cristiana Oliveira, Sérgio Reis e Giovanna Gold, que na versão original interpretaram respectivamente Madeleine, Juma Marruá, Tibério e Zefa, gravaram participação como convidados do casamento de José Leôncio (Marcos Palmeira) e Filó (Dira Paes).  “A ideia foi fazer uma homenagem, mostrar uma imagem, como muitas vezes é feito no cinema, uma aparição afetiva, como uma reverência ao primeiro elenco. O Bruno sempre quis a participação das pessoas. Foi um convite de coração e eu aceitei de coração. Foi uma festa nesse lugar de encontrar os amigos, abraçar todo mundo”, observa. Cláudio Marzo (1940-2015), que viveu o Velho do Rio na trama original, foi, recentemente, homenageado, tendo uma imagem dele inserida como líder de uma comitiva ilusória, tal qual espíritos. E, na primeira fase, Paulo Gorgulho (o José Leôncio jovem e o José Lucas de Nada, na segunda fase original) fez uma participação.

Ingra, entre Dira Paes e Marcos Palmeira (Foto: Arquivo Pessoal)

“Com nós quatro já foi uma festa, fomos muito bem recebidos, inclusive, por pessoas do elenco que são minhas amigas, como a Dira Paes e a Aline Borges. Soube que o Ângelo Antônio estava gravando algo, então, por motivos diversos outras pessoas não puderam estar. Mas, na Manchete, que não tinha um elenco muito grande, nós éramos uma família. Sempre nos encontrávamos nos eventos”, diz.

Ao longo dos anos, ela sempre encontrou Cristiana, além de Marcos e Ângelo, em festivais de cinema, sem falar no Almir Sater. “Retomamos esse contato tem alguns anos. Logo depois de Ana Raio, eu fui na fazenda do Almir algumas vezes, na época em que eu era casada com o Jayme Monjardim. Ele mora no Pantanal, então, isso dificultava, mas ele vem para a cidade fazer show. E começou a me ligar para ir assistir. Um mês antes de começar a pandemia, fui com o meu filho, Guilherme, na fazenda dele. Ficamos duas semanas, foi bem divertido. Quando fechou tudo, até me ofereceu para passar a quarentena lá. Foi tentador, mas não deu”, conta ela, que na gravação reencontrou Isabel Teixeira (filha do cantor e compositor Renato Teixeira), a intérprete da Bruaca.

Ingra Lyberato, entre Juliano Cazarré e Isabel Teixeira (Foto: Arquivo Pessoal)

“Talvez eu não tenha dito isso em nenhuma entrevista, mas depois de Ana Raio e Zé Trovão, eu e o Jayme fomos morar na Serra da Cantareira, porque depois do Pantanal a gente já ficou muito conectado com o Almir e com o Renato. Decidimos ir morar lá para ser vizinhos deles. Eu e o Jayme fomos criar cavalos, fiquei quatro anos criando cavalos. Então, na gravação agora, a Isabel lembrou que uma vez foi lá em casa visitar a gente e o Jayme ficou contando a história da Maysa (1936-1977), mostrando fotos e isso a marcou”, conta. E finaliza: “Mesmo depois que nos separamos, eu e o Jayme sempre fomos amigos, torcendo um pelo outro.”