*por Vítor Antunes
Em filme que se propõe a debater os relacionamentos abusivos e questões relacionadas à saúde mental, sob a luz do espiritismo, Paloma Bernardi celebra um ano pleno em trabalhos. Em “Ninguém é de Ninguém“, longa de Wagner de Assis, que estreará dia 20, o tema central é um relacionamento conturbado, algo incomum nos filmes espíritas que costumam idealizar as relações afetivas. Trata-se de “um filme denso, intenso, que vai além da espiritualidade, pois fala dos relacionamentos tóxicos, abusivos, sobre a violência doméstica física, moral, espiritual e ate de alma”, afirma Paloma. A intérprete estará, ainda neste mês de abril, de volta às telas, como uma das protagonistas de “Reis”, novela da RecordTV, e no segundo semestre com uma comédia romântica: “TPM, meu amor“.
Por ao menos dois anos, Paloma Bernardi foi a Rainha de Bateria da Grande Rio, escola de samba campeã do Carnaval de 2022. A tricolor caxiense ocupa um lugar especial no coração de Paloma, que esteve afastada da agremiação depois da pandemia. Porém, após ver os desfiles do carnaval deste ano, ela anunciou que em 2024 não ficará longe da Avenida Marquês de Sapucaí: “Decidi que no ano que vem vou desfilar”, afirmou.
AMORES POSSÍVEIS
Livro lançado em 2003, “Ninguém é de Ninguém” foi escrito pela médium Zíbia Gasparetto (1926-2018) instruída pelo espírito Lucius. Por anos, Zíbia constou na lista das autoras cujos livros eram recordistas em vendagem. Apoiado na grande popularidade dos projetos literários da falecida autora e na força do espiritismo – que tem muitos adeptos no Brasil -, Wagner de Assis dirige mais mais um projeto com essa temática. O realizador, que já levou às telonas a biografia de Allan Kardec (1804-1869) no filme homônimo, e “Nosso Lar“, baseado na obra de Francisco Cândico Xavier e do espírito André Luiz, agora apresenta a obra de Gasparetto. Nos papéis principais, Danton Mello, Carol Castro e Paloma Bernardi.
Vivendo Gioconda, uma mulher marcada pela insegurança, num filme que aborda, além da temática religiosa, as complexidades dos relacionamentos interpessoais, Paloma Bernardi define o longa como “um filme denso, intenso, que vai além da espiritualidade, pois fala dos relacionamentos tóxicos, abusivos, sobre a violência doméstica física, moral, espiritual e ate de alma! Gioconda, por exemplo, tem tudo do bom e do melhor, um marido exemplar, é linda, empoderada mas não consegue dar valor a tudo isso. Ela tem, na mente a sua pior inimiga e isso é trágico. Ela começa a ver coisa onde não tem, vive um relacionamento possesivo com seu marido, com ciúmes. As pessoas quando forem assistir o longa, perceberão esses elementos do dia a dia em um relacionamento”, observa.
Paloma, inclusive, traz uma perspectiva dos relacionamentos afetivos que passam longe da idealização ou do maniqueísmo. “Quem nunca sentiu ciúme, ou não percebeu estar sendo abusivo, ou não foi julgada, num relacionamento, por algo que não fez?”. E analisa sua personagem: “Gioconda tinha tudo para estar num lugar legal, incrível, mas se boicota por sua insegurança, guerras internas, e acaba prejudicando a todos com isso”.
A saúde mental, quando negligenciada, é a maior inimiga da Humanidade. Quando não cuidada, quando não se há o equilíbrio, quando não se tem uma conexão consigo mesma e com a fé a sua essência acaba se perdendo – Paloma Bernardi
Costumeiramente retratado sob o matiz do romance perfeito, eterno e maior que a vida, em novelas espíritas, como “A Viagem” (1994) e “Alma Gêmea” (2006), por exemplo, “Ninguém é de Ninguém” é disruptivo nesse sentido. Traz um registro diferente de amor. “Há de tudo no filme. A espiritualidade super latente, com vidas passadas, karmas e tudo mais, mas independente disso, a gente coloca os pés no chão e entende esses casais como possíveis, tanto em suas qualidades como em seus defeitos. Nada é um mar de rosas, nenhum casal é como na propaganda de margarina. Na vida real os casais são imperfeitos, têm ciúmes, tem crises… Acho que o filme aproxima o público dessa realidade”.
Quanto aos afetos, Paloma, acredita que há um fatalismo. “Quando é para ser vai acontecer. Não importa onde, como e nem com quem. É como se os anjos dissessem ‘amém'”. E essa prerrogativa também se estende às questões profissionais. “Passamos por desafios e somos transformados por eles. A cada transformação vamos evoluindo, transformando-nos em pessoas melhores. Há relações que sustentamos e que já deviam ter terminado, ou trajetórias profissionais que se transformam de maneira inesperada. É algo que aconteceu comigo. Houve circunstâncias em que achei estar no melhor emprego da vida, saí e achei que não me recolocaria e em dois meses eu estava trabalhando numa opção muito mais interessante”, pondera.
Os mistérios entre os Céu e Terra a gente nunca vai entender, mas eu procuro crer que o melhor esta sempre por vir. Deus sabe de todas as coisas, escreve por linhas tortas, as coisas acontecem como tem que acontecer. Deus às vezes tem algo melhor pra nós – Paloma Bernardi
FÉ: “REFÚGIO CONTRA A MALDADE E AS CILADAS”
Norteado pela temática espírita, “Ninguém é Ninguém” apresentou a alguns dos atores as diretrizes desta religião. Danton Mello engata seu segundo trabalho com este tema ainda que seja ateu. Paloma Bernardi, é católica, devota de Nossa Senhora Aparecida e São Miguel Arcanjo, cuja oração foi acima citada. “Nunca tive contato com o espiritismo. Mas a fé me rege em todos os sentidos e isso conduziu a minha vida. Conectei-me com a religião por conta do filme e através da obra da Zíbia Gasparetto estudando-a e a seus livros. Wagner de Assis, o diretor, que é espírita, levou-nos a algumas reuniões para sabermos como as pessoas se portam. Eu sou muito sensitiva, me sinto muito aberta para conhecer universos diferentes e desconhecidos, tomar posse disso e diante das câmeras fazê-lo chegar ao público de forma verdadeira, modo que o filme traz”.
E ela prossegue: “O meu material de trabalho como atriz é o humano. Contar histórias é o que me move, o que me tira da zona de conforto, é o grande desafio. Seja numa historia bíblica, seja numa o outra contemporânea, ou de época, ou espírita. Eu quero contar histórias e trazer o ser humano como protagonista, sua humanidade, fraqueza, sentimentos. Desde que o mundo é mundo que as nossas ações se refletem tanto no passado como no presente como no futuro. Fico muito feliz por estar podendo fazer essa diversidade que me tira da zona de conforto”.
Milagres existem. Os pequenos milagres e a interferência de Deus no nosso dia-a-dia estão presentes com certeza – Paloma Bernardi
Paloma Bernardi vem numa onda de estreias. Dia 17, começou “Reis”, em mais uma temporada da produção da RecordTV, na qual vive Bete-Seba uma das protagonistas. Dia 20, estreia no cinema “Ninguém é de Ninguém“, e no segundo semestre outro filme: uma comédia romântica “TPM, Meu Amor“, “que também aborda empoderamento, e a quebra de paradigmas. “Estou transitando pelas várias vertentes artísticas”, frisa.
Rainha da Bateria da Grande Rio em pelo menos duas ocasiões e torcedora da tricolor caxiense, Bernardi fala da sua paixão pela escola da Baixada: “Com a pandemia eu me afastei, mas estou sempre acompanhando. Fui conferir o desfile na Sapucaí e decidi que. no ano que vem. vou desfilar. Adoro! O carnaval é uma grande performance artística”. Quando perguntada se gostaria de, em alguma situação, sugerir um enredo para a sua escola do coração, Bernardi propôs “‘Mistérios entre os Céus e Terra’. Acho que seria legal mergulhar nesse universo”, finaliza.
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