*Por Vitor Antunes
Letícia Lima é uma das protagonistas de “Nas Ondas da Fé“, filme de Felipe Joffily, roteirizado por Lusa Silvestre e com argumento de Marcelo Adnet. Este último vive Hickson, um técnico de informática que trabalha com telemensagens e tem como sonho transformar-se em radialista. Em razão do sucesso enquanto comunicador radiofônico, o personagem de Adnet transforma-se em pastor, razão pela qual enriquece e torna-se famoso. Ainda que seja um filme de humor, e também verta críticas à mercantilização da religiosidade, a proposta da equipe é retratar os evangélicos de maneira respeitosa. Segundo a atriz, o objetivo é “não estereotipar a fé. Eu consegui, com esse projeto, descobrir que a fé nada tem a ver com as instituições, mas passa por um outro lugar, especialmente quando faz parte do dia a dia daquelas pessoas. (…) O filme não sublinha o subúrbio entendendo-o como engraçado”.
FORA AO CLICHÊ!
Segundo seus realizadores, “Nas Ondas da Fé” é um dos primeiros trabalhos a trazer, com protagonismo, a fé evangélica. É o que Letícia Lima reitera. Segundo a atriz, “o tema foi escolhido por Marcelo Adnet e Lusa Silvestre por ser um assunto tabu. Não é uma temática costumeiramente abordada e geralmente enxergarmo-la de maneira estereotipada, com distanciamento”.
A parte elitista do Brasil costuma encaixar no clichê a fé protestante, quando entende que seus membros todos usam exclusivamente roupas compridas e excessivamente comportadas. Na verdade trata-se de uma religião segmentada, não é uma coisa só. O filme mostra isso – Letícia Lima
Letícia prossegue em sua observação, dizendo que os evangélicos “são pessoas como quaisquer outras, não são apenas religiosos, esta é apenas uma característica deles. Estão aí, no “corre”, precisando ganhar a vida, pagar as contas. O longa me colocou num lugar muito novo por que eu também tinha esse olhar mais estereotipado para com eles”, confessa.
A fita pode ser observada não apenas como um longa que se propõe a não estereotipar uma religião, mas, também, a discutir criticamente o uso mercantil da fé, especialmente quando esta, a serviço da ganância e da corrupção, acaba se desvirtuando dos ensinamentos de Deus. Em alguns momentos no filme, há referências, ainda que sutis, a pessoas reais. Segundo Silvestre, o único personagem inteiramente ficcional é aquele vivido por Adnet.
“Nas Ondas da Fé” é mais um investimento de Letícia Lima no cinema. Trata-se do quarto longa lançado por ela em 2022. Em 2012, Lima projetou-se no cenário artístico nacional quando compôs o elenco do “Porta dos Fundos“, um dos maiores canais de humor do YouTube. Em 2016 entrou para o elenco do seriado “Vai que Cola”, como a personagem Gabi. Letícia é presença bissexta na TV aberta. Quanto às novelas, fez “Amor de Mãe” e “A Regra do Jogo“.
Letícia Lima a contrário é nascida no interior do estado do Rio de Janeiro, na cidade de Três Rios – distante em cerca de 125km da capital. Naquela cidade fora eleita Miss Três Rios, em 1995. Fala-nos ela que sua terra natal tem muito a ver com o subúrbio carioca. “Eu cresci numa casa muito parecida com a da Jessika, com esse convívio que ela tem. Acho que o grande bacana do filme é que ele não faz piada com o subúrbio, não o coloca num lugar estereotipado onde a região é utilizada para se fazer piada. O filme não sublinha o subúrbio entendendo-o como engraçado”.
NAS ONDAS DO RÁDIO
Além da questão protestante, “Nas ondas da Fé” traz o rádio como a um protagonista. A contrário da crença geral, o segmento não entrou em baixa por por conta do streaming ou dos podcasts, ao contrário. Segundo o Kantar IBOPE Media aponta, o formato é consumido por 83% da população brasileira, levando-se em conta as 13 regiões pesquisadas pela empresa. Ainda segundo o órgão, 3 a cada 5 ouvintes escuta rádio diariamente e por, ao menos 4 horas. Há ainda, uma grande parcela que o consome através da Internet. Todavia, aqueles que o escutam pelo equipamento de som, equivalem à maior parcela dos ouvintes, 83%.
Em 2022 celebrou-se os 100 anos da primeira transmissão de rádio no Brasil. Em 1923 instalou-se a primeira emissora, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Na capital fluminense, as emissoras segmentadas ao público evangélico, como aquela presente no filme de Joffily, respondem a posições de destaque entre as dez mais ouvidas do Rio. Em Maio de 2022, a Rádio Melodia ocupava o segundo lugar, numa disputa muito acirrada com a líder. A 93FM, também religiosa, ocupou a quinta posição. Há pelo menos quatro anos, a líder no segmento é a FM O Dia, emissora popular/eclética.
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