BBB23 – Episódio de machismo causa repúdio e destaca a importância deste tipo de comportamento não passar batido


Convidamos a apresentadora Titi Müller para comentar a situação em que alguns participantes falaram sobre o corpo de outras dentro do reality, em uma atitude machista e desrespeitosa. Como por aqui, também entendemos que o BBB pauta debates e comportamentos, falar do tema, para além do jogo, é preciso. “É isso, tudo acaba sendo político, mesmo um experimento televisionado, tem responsabilidade. Não existe mais espaço para certos comportamentos e vamos apertar mesmo, para que isso não se torne mais assunto e seja óbvio um dia, não se repetindo”, diz Titi

*Por Brunna Condini

A origem da violência contra a mulher é o machismo enraizado em nossa sociedade. Ainda hoje, em pleno 2023, vemos a objetificação das mulheres, assédio e violências infindáveis. Não é mi mi mi. Mas os tempos mudaram e tais atitudes não passam como antes. Nem na vida e nem na TV, em um reality que prima por entretenimento, como o Big Brother Brasil. Tanto que segunda-feira (6), Cezar Black e Cristian Vanelli foram alvos de críticas ao assistirem Bruna Griphao, Larissa Santos e Amanda Meirelles através das câmeras do ‘Quarto do Líder’ Gustavo ‘Cowboy’, que presenciou a dupla fazendo comentários sobre os corpos das participantes. A cena imediatamente repercutiu nas redes sociais e internautas repudiaram o comportamento. Ainda é preciso evolução, mas sabendo-se que esse tipo de comportamento não será mais tolerado. E para comentar o episódio no BBB, convidamos a apresentadora Titi Müller, que se posiciona sobre temas relevantes desde sempre, e muito no que diz respeito a denunciar violências contra a mulher.

Ela, que também é espectadora BBB, inclusive já tendo apresentado o programa ‘A Eliminação’ entre 2018 e 2020, no Multishow, fala sobre o assunto envolvendo os confinados que ‘avaliaram’ os corpos de outras participantes dentro do reality. “Acho que o Big Brother é um dos experimentos sociais mais interessantes que existem. Principalmente em um país como o Brasil. Tudo o que é dito lá dentro, nada mais é, do que um reflexo do que é falado nas ruas, nas mesas de bar, quando ninguém está vendo. E, mesmo no BBB, parece que muitas vezes esquecem que estão sendo filmados e normalizam certos comportamentos. Como no caso desses participantes, objetificando as mulheres, tratando-as como se fossem um ‘pedaço de bife’. Acredito que nesta situação, o que mais incomoda qualquer mulher é o tom do escárnio. Essa autorização que a sociedade patriarcal dá para que os homens falem dos nossos corpos, das nossas vidas, dos nossos comportamentos, como se fossemos parte de um ‘cardápio’ ali”, observa a comunicadora, que aproveitou para revelar ao site, em primeira mão, o nome do seu podcast com Marimoon, lançado 10 anos depois do fim da MTV: “São duas librianas, demoramos a decidir, mas vai se chamar ‘Acessíveis’ e estreia em abril com a Tata Werneck. Essa vai ser a primeira participação da Tata em vídeo/podcast”.

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Titi Müller fala do machismo no BBB e anuncia planos para este ano (Reprodução/ Instagram)

Titi Müller fala do machismo no BBB e anuncia planos para este ano (Reprodução/ Instagram)

Falando do machismo estrutural e seus desmembramentos, Titi relembra o episódio recente entre Bruna Griphão e Gabriel Tavares (já eliminado), que contou com a intervenção de Tadeu Schmidt, por conta do comportamento abusivo do ex-participante em relação à Bruna. “Acho que foi a primeira vez que isso aconteceu assim. Foram muitos anos de machismo sendo televisionado, e até tratado com uma espécie de ‘venda nos olhos’, por quem sabe o peso dessas falas sendo ditas em rede nacional, como se lá atrás isso fosse validado, mas as coisas estão mudando. Foi uma atitude necessária a do Tadeu. Eu nunca tinha visto isso no BBB, essa ‘chamada de atenção’ assim, até mesmo com questões mais agudas, de racismo, de intolerância religiosa, tudo isso já passou batido em outras edições e causou revolta também. Pessoas inclusive com falas muito problemáticas ganharam, como a Paula (Sperling, no BBB 19, que fez comentários preconceituosos diversos e mesmo assim venceu a atração). Não podemos esquecer que o Big Brother é um reflexo da nossa sociedade, mas também é uma comoção nacional, já que durante três meses ele pauta comportamentos”, aponta.

Cezar Black e Cristian Vanelli polemizaram ao assistirem Bruna Griphao, Larissa Santos e Amanda Meirelles através das câmeras do 'Quarto do Líder' de Gustavo 'Cowboy' (Reprodução)

Cezar Black e Cristian Vanelli polemizaram ao assistirem Bruna Griphao, Larissa Santos e Amanda Meirelles através das câmeras do ‘Quarto do Líder’ de Gustavo ‘Cowboy’ (Reprodução)

Se antes, o objetivo era deixar o jogo seguir, de qualquer forma, e quanto mais ‘fogo no parquinho’, melhor, agora a coisa vem mudando de figura. O ‘vale tudo’ pelo entretenimento vem tendo limites afinal? “Acho que no momento que deixamos passar episódios de machismo como o de agora, por exemplo, isso chancela comportamentos que muita gente chama de mi mi mi, mas nós, mulheres, sabemos que na raiz do problema, existem questões que matam todos os dias. O Brasil está em um dos top five mais vergonhosos do planeta, por conta da incidência de feminicídios. Então, existe a necessidade de se chamar à atenção para isso, sim, mesmo que vá interferir em jogos ou estratégias de programa. Afinal, qual é a prioridade? Fico me perguntando muitas vezes. Na edição que a Thelminha ganhou (Thelma Assis, vencedora BBB20), precisou alguém sair da Casa de Vidro e levar a informação de que um grupo de homens estavam sendo machistas no confinamento, para que isso fosse combatido ali dentro. Ora, não tem que ter dúvida nesse tipo de coisa, intervenção, mesmo que mexa com o jogo. É como aquela metáfora que a Susan Sarandon usou ao ser perguntada se temia perder seguidores por se posicionar politicamente, e respondeu: “É como se você estivesse saindo de um prédio pegando fogo e temesse que sua calcinha esteja aparecendo”. É isso, tudo acaba sendo político, porque pauta debates, comportamentos, através de um experimento televisionado, então isso tem responsabilidade. Não existe mais espaço para certos comportamentos e vamos apertar mesmo, para que isso não se torne mais assunto e seja óbvio um dia, não se repetindo”, completa Titi.

Bruna Griphao e Gabriel Tavares dentro do BBB23 (Reprodução)

Bruna Griphao e Gabriel Tavares dentro do BBB23 (Reprodução)

Ela dá o nome dela

A comunicadora vem influenciando muitas mulheres na sua relação direta nas redes e fala da escolha de se posicionar em um mundo onde muita gente prefere a neutralidade para não se indispor ou comprometer. “Sou enfática e incisiva em questões que são nevrálgicas na sociedade, como o machismo estrutural, e coisas que realmente não podem passar. Acho que se isso, de alguma forma, impactou negativamente na minha carreira, nunca fiquei sabendo. Acredito que o que aconteceu foi um grande filtro, das marcas que querem se relacionar comigo, porque se comunicam com a forma que me comunico, então acho que a exposição das nossas opiniões também está sendo mais valorizada. É uma nova realidade, abriu-se uma ‘Caixa de Pandora’ que não vai mais fechar”, analisa.

Recentemente Titi viu seu nome envolvido no imbróglio Pedro ScoobyLuana Piovani, quando fez a ‘ponte’ entre dois especialistas em violência de gênero para uma live que aconteceu no Instagram do surfista. Alguns seguidores de Piovani criticaram a iniciativa sem saber do objetivo envolvido. “Ele me procurou e fiz essa ‘ponte’, falei com a Luana, que achou uma excelente ideia, já que  também é de interesse do público que está entre os milhões de seguidores do Scooby, terem acesso a coisas que talvez possam nunca ter ouvido. E nós, muitas vezes ficamos respostando só em nossa ‘bolha’, uma coisa ‘cachorro correndo atrás do próprio rabo’. Acho cada vez mais importante nos manifestarmos no que diz respeito à comportamento, sexualidade, maternidade, vulnerabilidades também e desromantizações”.