Bárbara França: Protagonista de ‘Reis’ revela sonho de ser apresentadora de TV e fala da objetificação da mulher


“Sou Bárbara, escorpiana, e de São Lourenço, sul de Minas” com essa frase e uma sonora gargalhada, Bárbara França ocupa o espaço. A atriz, um personagem de destaque de “Reis” fala de si e apresenta seus mais novos projetos artísticos. Além da série da Record, a artista está em outros dois produtos audiovisuais: A série portuguesa “Da Mood”, da RTP que está em exibição na TV Cultura e que já está com a segunda temporada renovada, bem como o longa “As Aventuras de Poliana – O Filme”, cuja estreia está prevista para o fim do ano. Entre os momentos em que a atriz se indigna e desfaz o largo sorriso é quando precisa falar sobre pautas que são reiteradas na agenda feminista, como a objetificação do corpo feminino. Em seu caso, as recorrentes matérias abordando seu corpo ou questionando o tamanho de seu biquíni: “Como mulher, fico triste em ver reportagens assim sensacionalistas”

*por Vitor Antunes

A 8ª temporada de “Reis”, na Record, estreia segunda-feira, dia 17, e conta com a presença de Bárbara França como protagonista feminina ao lado de Petrônio Gontijo. E a atriz adianta com exclusividade, que também protagonizará a nona fase da história bíblica. Na trama, Bárbara diz que as “mulheres são fortes empoderadas e dividem a centralidade narrativa com o homens. Isso é legal”. Às histórias bíblicas costuma-se dizer que há, de maneira sistemática, um destaque maior aos homens, o que não acontece nesta produção, segundo a atriz. Além do trabalho na TV, ela poderá ser vista em “As Aventuras de Poliana – O Filme“. No longa, Bárbara interpreta uma vilã – e revisita o antagonismo,  já que fora a malvada de “Malhação”  em 2016. Além destes projetos, está em “Da Mood“, série portuguesa atualmente em exibição pela TV Cultura.

Bárbara também revela-se como ativista da causa da mulher e comenta as manchetes de alguns veículos que usam o corpo ou a roupa das mulheres como forma de polemizar, criticar ou gerar cliques. Ela mesma já foi alvo de chamadas cujo único destaque era o biquíni que usava. Forte reflexo da fetichização do corpo feminino e da hiperssexualização da mulher. Para atriz, este assunto é “bem problemático, porque nos coloca num lugar exclusivo da objetificação sexual. Quando vi publicado, achei bem desnecessário. Afinal, estou na praia!”, critica. Haja vista que, obviamente, quando se está ao mar, é este o traje. Ainda na seara do debate contemporâneo, sobre o hate nas redes sociais, Bárbara diz que “as pessoas sempre mandam mensagens positivas, mas, por ter interpretado uma vilã, ocasionalmente recebia alguns posts mais duros”, o que ao ver da atriz são reflexos de um bom desempenho profissional. Aliás, expressiva e falante, Bárbara revela-nos um desejo: “ser apresentadora de programas de televisão, de entretenimento, já que tenho um vínculo forte com a comunicação. Um programa meu me faria muito feliz”.

Bárbara França entra em ‘Reis’ na próxima segunda-feira e série dará voz às mulheres da Bíblia (Foto: Priscila Nicheli)

MINAS

Uma das músicas de Clara Nunes (1942-1983), nascida em Caetanópolis (MG) dizia: “Se vocês querem saber quem eu sou, eu sou a tal mineira”. Bárbara, assim como a falecida cantora, traz o estado natal como epíteto. Na nova temporada de “Reis”, pode-se dizer que há um predomínio dos cidadãos de DDD 31. Além da atriz, o protagonista Petrônio Gontijo, também vem de lá, e do mesmo naco geográfico do estado sudestino. Ele é de Varginha. “Cerca de uma hora e meia da minha cidade”. Quanto ao ator, Bárbara é só elogios: “É um presente estar com ele e agora venho a conhecê-lo como pessoa. A minha personagem, Abisague, acaba por construir uma relação bonita com ele nesta temporada”.

Leia Mais: Petrônio Gontijo: carreira, síndrome do pânico e novos trabalhos após fim de vínculo com a Record

Perguntamos à atriz, que já fez diversas novelas com temática bíblica, como “Gênesis” e “Os Dez Mandamentos“, o que mais lhe chama atenção nesta. E ela diz ser a intensidade de Abisague. “A história dela, se não é a mais importante que contei, é a mais potente. Trata-se de uma mulher que vive um amor bonito e sofrido. Nunca interpretei uma personagem com uma carga emocional tão grande. Ela vai passar por muito sofrimento”.

Abisague se esforça para ser o que é correto para Deus, ela não se deixa sucumbir. A cada amargura e sofrimento, ela usa a dor como impulso para seguir em frente. É algo bonito e raro o que ela faz – Bárbara França

A próxima temporada de “Reis” está em ritmo acelerado de produção. E, ante o volume de textos, Bárbara relata que a Record tem muito zelo aos seus atores. “Há na casa um preparador de elenco que nos ajuda muito na parte criativa do processo. Há encontros de construção coletiva, workshop, é algo bem prazeroso. E na construção artística da personagem há um outro entendimento, um outro tempo de falar, silêncios, menos ansiedade… Ainda que lutemos por fazer uma obra realista, trata-se de um realismo que precisa estar adequado àquela cronologia. Tenho sido muito ajudada pelas preparadoras, a Fernanda Guimarães e a Rosana Garcia“. Após a oitava temporada, que estreia dia 17, com a saída do personagem de Petrônio Gontijo, ela se envolverá com o que será interpretado por Guilherme Dellorto. Pela terceira vez fará par com o ator. “Gui é meu amigão, um ótimo ator e construímos essa amizade. É bom trabalhar com quem a gente gosta e confia”.

Bárbara França em “Os Dez Mandamentos”. Atriz é elogiosa à casa : “a Record é muito cuidadosa para conosco” (Foto: Munir Chatak/RecordTV)

BARBARIDADE!

Bárbara França é a própria energia. Acelerada, animada, solar. Não à toa, em uma de suas novelas da Globo, interpretou uma VJ da MTV. Porém, as personagens das novelas bíblicas têm outra textura. São mais soturnas, ocres. Especialmente Abisaque: “São energias muito opostas. Eu sou muito solar, expansiva, brincalhona, intensa, escorpiana. Já a minha personagem é densa, fala menos, é racional, faz escolhas certas e tem essa energia concentrada. Ela não vai pelo coração, mas pelo que é certo e moral. Diria que ela é capricorniana.  Portanto, ela me ensina muita coisa”.

Em “Reis”, como o próprio nome sugere, a presença masculina é forte. São eles os condutores da narrativa, num panorama masculino. Bárbara diz que “na oitava e na nona temporadas isso muda um pouco e nelas há a presença de narrativas femininas fortes, o que é um diferencial quando comparado às outras fases da série. São mulheres que dividem o destaque junto aos homens”. A marca masculina, ao ver da atriz, é característica daquela época, logo, trata-se de algo que tem que ser preservado. “É um outro contexto histórico e social, diferente do nosso. Temos que contar aquela história sem anacronismos. Não podemos nos deixar contaminar pelo que a gente pensa hoje, mas contar uma história digna, como ela era. Naquela época, a mulher não tinha voz. Ainda que minha personagem consiga ter fala e imponência, não era algo comum”.

Bárbara França. Arte pela arte, sem anacronismos (Foto: Priscila Nicheli)

Além da novela da Record, Bárbara pode ser vista nas telas da TV Cultura: “Fiz a série “Da Mood” em Portugal, na TV RTP, e ela conta a história de uma boy band portuguesa. A série está sendo transmitida aqui no Brasil pela emissora pública paulistana e foi o meu primeiro trabalho internacional. A segunda temporada já foi confirmada, inclusive”. Outro projeto que poderá ser visto em breve é “As Aventuras de Poliana – O Filme“, que será lançado nos cinemas. No longa infantojuvenil, a atriz vive “Germana, a vilã. No filme, eu contraceno com Jackson Antunes e é meu terceiro trabalho com ele, que também é mineiro como eu. O projeto deve ser lançado no fim do ano”.

Bárbara França foi uma VJ em “Verão 90” sua última novela na Globo (Foto: Priscila Nicheli)

Bárbara França fez trabalho em Portugal e terá continuação (Foto: Priscila Nicheli)

.

LIVRE PARA BARBARIZAR!

Contemporaneamente, o debate sobre o machismo tem ganhado espaço. Cada vez mais, a cena moderna tem questionado o patriarcado estrutural e estruturante e a forma como se aborda as mulheres na mídia. Chamadas e manchetes não são exatamente polidas às moças. Com Bárbara França não foi diferente. Pelos menos duas matérias traziam comentários acerca do seu biquíni e do seu corpo. Algo que quase nunca contempla os homens nesse mesmo tom: “Eles não alvo de manchetes dessas, só nós. Obviamente, eu vou usar um biquíni do tamanho que eu quiser. Como mulher, fico triste em ver reportagens assim sensacionalistas. Infelizmente essa hiperssexualização, essa objetificação e esse cunho sexual às mulheres acaba por trazer pessoas que consomem esse tipo de notícia que hoje estamos lutando para sair dessa abordagem”.

Eu acho, sobretudo, desinteressante. Parece que os veículos não têm conteúdo para oferecer e precisam de um chamariz. Acho que nós, mulheres, estamos batalhando para ter nosso espaço e há cada vez mais movimentos feministas que se sobrepõem a isso – Bárbara França

A contrário de seus pares, a atriz diz não ser alvo de hate nas redes sociais. “Não sou alvo de hates, embora tenha aprendido a lidar. Quando se é vilã, costumamos ser mais alvo, e nas poucas vezes que recebi hate era algo mais voltado à personagem, mas eu lido numa boa”. Quem não costuma lidar bem é a mãe da atriz: “Quando vem um fã mais agressivo, minha mãe fica indignada! Mãe é mãe”, diverte-se.

Numa das entrevistas que deu ao Site Heloisa Tolipan, Bárbara disse-nos que sonhava ter um programa esportivo para chamar de seu. Hoje, ela não é tão segmentada: “Adoraria ficar na frente das câmeras e apresentar um programa. Não necessariamente de esportes, mas de entretenimento mesmo. Tenho esse vínculo forte com a comunicação. Seria muito feliz “. A frase que motiva a vida da artista é a mesma a qual entrega para o Universo o desejo de fazer cumprir seu sonho: “Entrego, Confio, Aceito e Agradeço”.

Bárbara França: “Quero ser apresentadora de TV!” (Foto: Priscila Nicheli)

Créditos:

Fotos: Priscila Nicheli
Styling: Samantha Szczerb
Beleza: Zuh Ribeiro