*Por Brunna Condini
O longa ‘Papai É Pop’ vem trazendo de forma leve, reflexões necessárias. O ponto central é a descoberta da paternidade responsável, mas ao redor desse pai que vai sendo ‘ensinado’ a ser pai, outros desafios também se destacam na trama, que conta a história de Tom (Lázaro Ramos) e Elisa (Paolla Oliveira), um casal com suas vidas transformadas após a chegada da primeira filha. Enquanto a mulher encara e se dedica à empreitada, ele vive outro ritmo de adaptação. Elisa Lucinda faz Gladys, mãe de Lázaro na história, e frisa: “No filme, a minha personagem faz muito o papel de acabar de ‘educar’ o filho quando descobre que ele não consegue ser pai”. A atriz salienta ainda, que o filme tem o tema paternidade, mas também joga luz sobre as mulheres que vivem essa maternidade tantas vezes de forma solitária.
“Acredito que as mulheres ainda estão em um lugar educacional muito presente. São as babás, as professoras, cuidam de tudo. Ainda temos esse lugar de eixo. Conheço mulheres que ligam para os ex-maridos lembrando do aniversário do filho, imagina. Alguém tem que ligar para lembrar que o cara tem um filho que nasceu naquele dia, tá ligada? Caramba! Então, já que estamos neste lugar, acho temos que usá-lo para ensinar outra coisa. Ensinar a cuidar, e deixar eles brincarem de boneca”, analisa.
Sem rodeios, ela continua: “Os pais têm muito o que aprender, e as mulheres também, no que diz respeito a parar o ciclo educacional que produz, que forma novos machistas. Isso tem que cessar. Precisa parar porque continua nos matando. Os homens, os pais, têm que aprender a arte de cuidar. Eles não sabem. Quantas vezes os relacionamentos com eles fracassam, e muitas mulheres até preferem se relacionar com outras, e nem sempre por orientação sexual, mas por que querem estar ao lado de alguém que saiba cuidar, mais do que de alguém que só sabe ser cuidado”.
Para a atriz, “existem camadas de ausência, pais que não abandonaram a causa, mas são ausentes presentes”. Além da realidade brasileira de abandono paterno, que infelizmente, só cresce. Segundo dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), somente de 1º de janeiro de 2021 a 1º de janeiro de 2022, apenas um ano, 167.364 crianças teriam sido registradas sem a filiação paterna. “E não tem como não pensar que o assassinato da periferia produz muito mais viuvez, por exemplo. Então, você tem a mulher da favela viúva, a mulher da favela com o marido preso, você tem essa mulher com o companheiro que vai embora. O filme também desponta neste lugar, da paternidade que é uma chaga. Uma chaga na vida brasileira”.
Atriz, poetisa, escritora e cantora, com quase 40 anos de trajetória, Elisa Lucinda exalta a produção do cinema nacional. “Esse filme é importante por muitas razões. É uma vitória do país neste momento. O Brasil vive um período de retrocesso com esses ataques à cultura, com essa truculência às pautas educacionais, de proteção democrática, ecológica e social. Toda essa estrutura humana do nosso país está muito ‘quebrada’, ofendida”, frisa.
Protagonista da sua vida e rotina
Elisa retorna à Bahia e celebra os 20 anos de sucesso do espetáculo ‘Parem de falar mal da rotina‘, no dia 11 de setembro, no Teatro Castro Alves. Unindo histórias vividas e ouvidas pela artista, além de poemas dos livros ‘O Semelhante’ e ‘Eu te amo e suas estreias‘, o espetáculo propõe uma divertida reflexão sobre o cotidiano e a importância de que as pessoas sejam as verdadeiras protagonistas da sua vida e rotina. “Estou revisando uma edição do livro homônimo, que deve ser lançado no final do ano, para o Natal”, revela a atriz que também está na série ‘Não foi minha culpa’, do Star+”.
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