*Por Karina Kuperman
O ano tem sido de sucesso para Julia Stockler. Super elogiada por seu trabalho no longa “A vida invisível”, de Karim Aïnouz, selecionado pela Academia Brasileira de Cinema para concorrer a uma vaga no Oscar 2020 e que venceu a mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes, ela está na telinha, atuando na novela “Éramos seis”, da Globo, como a jovem Justina, uma personagem que sofre distúrbios mentais. E contracena com Susana Vieira, cuja personagem, Emília, é mãe de Justina. “A experiência tem sido muito especial. Estou adorando a agilidade de gravar, as surpresas de receber as cenas novas, a possibilidade de construir todos os dias algo novo. A Susana me recebeu super bem, me acolheu totalmente. Como venho do teatro, trago comigo a alegria dos improvisos e de me colocar sempre em novas situações com coragem”, conta, acrescentando: “A Justina é um personagem que emana amor. Tem uma sensibilidade muito apurada, um jeito novo de olhar o mundo e a natureza. Viveu anos trancada em uma casa, sozinha, com pouquíssimos atrativos e diversão. É um pássaro engaiolado que, por ser assim, tem momentos de indignação”.
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Julia teve diversas reuniões com grupos do Instituto Priorit, que tem como propósito o tratamento transdisciplinar de bebês, crianças, adolescentes e adultos com transtornos do espectro autista, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade e outros transtornos comportamentais, afetivos, de linguagem ou de aprendizagem.”Para compor a personagem tive encontros com grupos do Instituto Priorit. Conversamos muito, desenhamos, dançamos juntos… E eu fui sentindo o que de Justina existe em cada um de nós”, lembra.
A novela é escrita por Angela Chaves e baseada no livro homônimo da autora paulista Maria José Dupré (1898-1984). A história ganhou muitas adaptações para a televisão e foi sucesso em emissoras como SBT e Rede Tupi. “Não assisti as versões anteriores. Preferi construir a Justina ouvindo minha intuição sem querer trazer nada do que já tinha sido feito”, comenta Julia.
Em “A vida invisível“, ela vive outra personagem bastante intensa: Guida, que foge para casar-se com um marinheiro e volta grávida e abandonada. “Nunca fiz loucuras de amor. Mas acho de um romantismo lindo. No caso da Guida, estamos inseridas da década de 50, onde ainda era uma atitude que traria consequências gigantes, como foi o caso. Ela agiu totalmente pelo coração, não mediu o que isso acarretaria. Se jogou no mar e deixou que a correnteza a levasse rumo aos seus sonhos”, conta. A atriz acredita que a história guarda muitas semelhanças com os dias atuais. “O filme é extremamente atual, infelizmente. Apesar de as mulheres terem conquistado seus direitos e avançando em vários quesitos, ainda vivemos em uma sociedade machista e misógena. Onde temos taxas altíssimas de feminicídios, uma estrutura governamental integrada por homens na maioria, e um desinteresse total sobre as questões relacionadas ao poder de escolha da mulher em relação ao corpo. Esse filme lança luz nessa trajetória tão invisibilizada que as mulheres tiveram ao longo da história e da violência que os homens praticavam e praticam sem se questionarem em absoluto sobre suas ações”, pontua.
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O longa-metragem é motivo de muito orgulho para Julia: “As expectativas são as melhores. Em todos os lugares que já apresentamos o filme tivemos uma recepção maravilha. Fomos muito bem recebidos e recolhemos muitos abraços emocionados. Nosso desejo é que esse filme possa atravessar muitas memórias, histórias, afetos. Que apesar de ser um filme que fala principalmente sobre a condição de invisibilidade das mulheres diante de um cenário patriarcal, queremos que ele seja visto principalmente pelos homens. Uma indicação ao Oscar poderá ser mais uma etapa de sucesso do filme”, frisa.
Será que, após a trama das 18h, ela volta a se dedicar ao cinema? Julia não sabe, mas evita fazer planos após o fim de “Éramos Seis”: “Estou como a Guida: deixando as correntezas da intuição me levarem para novos caminhos”.
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