Giulia Bertolli atua no teatro com a mãe, Lilia Cabral, fala das comparações, e estreará como roteirista de longa


Na próxima sexta-feira, dia 6, as duas sobem ao palco com o espetáculo ‘A Lista’, enquanto a jovem aguarda ansiosa o início das filmagens do drama “Me Leve Para Ver o Mar”, com direção de Rogério Gomes. “Na pandemia, meus pais eram do grupo de risco, então, me cuidei muito, não saía de casa. Para permanecer com a cabeça saudável, me distraía escrevendo”, frisa ela, que, naquela época, escreveu ainda, entre outros projetos, um curta, com o qual estreou como diretora

* Por Carlos Lima Costa

A atriz Giulia Bertolli, filha de Lilia Cabral, com quem estreia, no Rio, o espetáculo “A Lista”, não apenas segue os passos da mãe. Além de atuar, ela também é roteirista e diretora. Durante a pandemia, por exemplo, escreveu o drama “Me Leve Para Ver o Mar”, seu primeiro longa-metragem, cujas filmagens já estão sendo alinhavadas e com direção de Rogério Gomes, o Papinha. “A pandemia foi difícil pra todo mundo, por ter que ficar trancada em casa, por não saber sobre o dia de amanhã, por viver em medo constante. Meus pais eram grupo de risco, então, me cuidei muito, por mim e por eles. Para permanecer digamos com a cabeça saudável, tentava fazer coisas que me distraíssem. Através da escrita, pelo menos no mundo da imaginação, conseguia sair de casa e me distrair”, pontua Giulia, cujo primeiro trabalho na TV foi na novela “O Sétimo Guardião”, interpretando a personagem de sua mãe na fase jovem, e que depois esteve “Malhação – Toda Forma de Amar”, cujo fim foi antecipado devido ao isolamento social provocado pela pandemia da Covid.

Leia mais: Lilia Cabral retorna às novelas e estreia ao lado da filha peça que a ajudou a superar gatilhos da síndrome do pânico

Naquela fase, escreveu ainda o roteiro do curta “Só Mais Uma Frase”, sua primeira e, por enquanto, única experiência como diretora, que deve estar disponível no Telecine, em janeiro. O projeto lhe rendeu três prêmios em festivais. E foi ainda roteirista colaboradora de “Tire Cinco Cartas”, protagonizado por Lilia, que estreia em breve.

Essa paixão pelas várias vertentes da área artística foi surgindo através das inúmeras vezes que esteve com a mãe nas coxias dos teatros e nos sets de gravações e filmagens. “Eu, literalmente, a acompanho desde que era um embrião (risos). Eu estava na barriga da minha mãe quando ela atuou na peça ‘O Futuro do Pretérito’. Pra mim, ela sempre foi especial, uma referência como profissional, mulher, mãe, tudo. Até nas viagens com teatro eu ia e sempre gostei. Mas comecei a entender a partir de ‘Chocolate com Pimenta’ (a novela atualmente está sendo reprisada nas tardes da Globo), quando ficava com ela no estúdio ou na cabine de direção”, recorda Giulia. A decisão de ser atriz aconteceu aos 13 anos. Assim, foi estudar no Tablado. Mas com os questionamentos inerentes aos adolescentes sobre qual profissão seguir, além do curso profissionalizante de Artes Cênicas, da CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), se formou ainda em Letras, na PUC. “Fui juntando as minhas paixões. Gosto muito de escrever, atuar e dirigir”, diz.

Giulia, aliás, não dá ouvidos às comparações com o trabalho da mãe. “Elas vão existir a vida inteira e isso faz parte (risos). Nunca tive receio, porque aqui em casa a gente sempre teve muita consciência do trabalho, de tudo. Isso nunca foi algo que me incomodou”, garante.

PRIMEIRA VEZ EM CENA COM A MÃE

O convite para dividir o palco com Lilia em “A Lista”, dirigida por Guilherme Piva, veio através do roteirista Gustavo Pinheiro, também na pandemia. As apresentações começaram de forma online e até foi transformada em curta-metragem, onde o desempenho de Giulia rendeu a ela o prêmio de Melhor Atriz no South Film And Arts Academy Festival.

“Essa peça é especial na minha vida pela oportunidade de trabalhar em um tempo que estava difícil pra todo mundo e por dividir o palco com minha mãe. Nem nos melhores sonhos, imaginei que dois anos depois, a gente teria feito uma temporada de nove meses em São Paulo, lotando todos os dias, e que agora iríamos estrear, no Rio, dia 6, em um teatro que tem tanta história”, diz, referindo-se ao Teatro dos Quatro.

Independentemente de ser minha mãe, ela é uma atriz que eu admiro muito. A chance de contracenar com essas grandes atrizes é especial, porque você aprende observando – Giulia Bertolli

E prossegue: “É bacana ver a forma como trabalha o texto, como faz com que ele seja diferente todos os dias. Parece sempre que é uma nova peça. Então, aprendi a me reinventar todas as noites, a sempre entrar disponível para o inusitado, para o diferente, para o que der e vier a cada apresentação. Enquanto atriz tenho oportunidade enorme de aprender e de melhorar. Minha mãe tem uma carreira incrível. Qualquer atriz no meu lugar, pensaria e falaria da mesma forma. Como filha, tenho o maior orgulho dela”, pontua Giulia.

Em 2023, Lilia e a filha, Giulia, realizam temporada da peça “A Lista”, no Rio, e depois viajam em turnê pelo Brasil (Foto: Pino Gomes)

A trama da peça “A Lista” mostra um encontro de gerações, que provoca lembranças e descobertas. São duas vizinhas em tempos de pandemia. Amanda, personagem de Giulia, se voluntaria para fazer compras para os moradores do prédio. Dona Laurita, interpretada por Lilia, aceita. “É uma comédia do dia a dia, que tem suas partes dramáticas, mas é acima de tudo uma história sobre relação humana, sobre como, apesar da diferença de idades e de pensamentos, essas duas mulheres tem muitas coisas em comum”, explica sobre o espetáculo, que começa como uma crônica de tudo que aconteceu em 2020, mostrando depois um futuro esperançoso, quando a vacina já existe. Por seu desempenho, Giulia foi indicada na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante no Prêmio Bibi Ferreira 2022.

Giulia explica que o conflito de gerações mostrado na peça em nada se parece com sua relação com a mãe. “Ela sempre foi muito minha amiga, sempre fomos muito próximas, apesar da diferença de idade. Sempre conversamos muito de igual para igual. Saíamos juntas, íamos desde a shows do Rock In Rio até Carnaval. Apesar de ter 60 e poucos anos, dona Laurita tem um comportamento de uma geração mais antiga, diferente da minha mãe e do meu pai, que é mais velho, está com 70 e poucos anos. Meus amigos não acreditam quando falo a idade deles, porque realmente não parecem, nem em termos físicos, nem de cabeça. Quando você está com a cabeça ativa, a idade é apenas um número”, enfatiza ela.

Giulia e a mãe, Lilia, em cena da peça “A Lista” (Foto: Priscila Prade)

UNIÃO DE COMÉDIA E DRAMA NOS PROJETOS

E prossegue contando que nos projetos em que escreve gosta sempre de juntar a comédia com o drama. “Porque na vida a gente nunca é uma coisa só. Mesmo nos momentos mais tristes, conseguimos arranjar uma forma de rir. E nos mais divertidos, podemos estar passando por situações difíceis internamente. Pode ser clichê, mas pra mim a vida imita a arte, a arte imita a vida. Então, gosto de mesclar esses momentos”, explica.

Por seu desempenho no espetáculo “A Lista”, Giulia foi indicada na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante no Prêmio Bibi Ferreira 2022 (Foto: Priscila Prade)

Giulia prossegue: “O Piva fala que ‘A Lista’ é uma montanha russa de emoções e eu concordo. Assim, nos projetos que escrevo, sempre tento pensar nessa montanha russa e fico mais na comédia dramática, no drama com momentos de leveza”, relata.