*por Vítor Antunes
Ele se revelou ao grande público como um dos rapazes bem-humorados — e de terno preto — do CQC, programa da TV Bandeirantes exibido entre 2008 e 2015. Marco Luque, que sempre foi humorista, teve seu talento amplamente conhecido graças ao programa. Atualmente, alguns críticos o consideram datado, enquanto outros, mais contundentes, afirmam que ele teria contribuído para popularizar figuras como Jair Bolsonaro, eleito presidente em 2018. A acusação é vista como injusta, já que o CQC trazia denúncias políticas em seu conteúdo. Luque, por sua vez, reforça a relevância do programa e a acredita na sua atemporalidade. “O CQC foi um programa muito importante na minha carreira. Foi realmente uma vitrine para mim. Não acredito que seja um programa datado, muito pelo contrário, acho que ele poderia funcionar novamente nos dias atuais, dependendo do formato que ele viesse a ser apresentado. São assuntos que seguem muito quentes na atualidade”.
Conhecido por seus personagens populares e por sua abordagem única no humor, Marco Luque discute os desafios de interpretar figuras que representam o cotidiano sem reforçar estereótipos – tão comuns no humo, especialmente no retrato da pessoa moradora de regiões periféricas. Luque explica que o principal objetivo é criar personagens nos quais o público possa se identificar, evitando caricaturas que perpetuem visões preconceituosas sobre figuras da periferia. “Quando estou caracterizado de Jackson Faive, principalmente, recebo muito carinho dos motoboys e das motogirls por onde passo, dizendo que eles acompanham meu trabalho e que ficam muito orgulhosos de terem um ‘representante’ da profissão e que mostra um pouco do cotidiano difícil que muitos deles passam diariamente. Eu tento passar tudo da forma mais ‘real’, mas clara, trazendo um pouco dos exageros para deixar tudo mais cômico”, reflete o humorista.
Acredito que o principal desafio é trazer a identificação do público com aquele personagem ou com a história que está sendo contada. As pessoas [periféricas] de certa forma se sentem representadas – Marco Luque
Questionado sobre as distinções entre o “humor paulista” e o “humor carioca”, Luque enfatiza que o humor transcende as fronteiras regionais, ainda que certas piadas possam ressoar de forma diferente em locais específicos. “Acredito que o humor é humor em qualquer lugar. Claro, em algumas regiões, vão ter piadas específicas que funcionam melhor dependendo da localidade em que você está, mas a essência do humor permanece a mesma e sempre vai funcionar dessa forma. Não acho que exista um humor específico para quem é de São Paulo ou para quem é do Rio de Janeiro”, afirma.
Sobre seus planos para os próximos anos, Luque revela que 2024 trará novos rumos. “Este é o último ano do espetáculo Dilatados, mas já temos alguns projetos pro próximo ano. Vou focar bastante em conteúdos pras redes sociais, trabalhar em novos textos para shows, e em breve todos vão ficar sabendo das novidades!”, diz. A montagem de “Dilatados” no Rio permanecerá nos dias 09 e 10 de novembro, no Tearo Claro Mais, em Copacabana.
Quanto ao processo de amadurecimento, o ator vê a passagem do tempo com leveza e bom humor, demonstrando sua disposição para continuar ativo e espirituoso. “Estou me sentindo muito bem, adorando a fase que estou. A minha idade não pesa, continuo tendo uma alma de ‘moleque’, de palhaço. Sou um cara muito ativo e que pratica esportes, então não sinto tanto a questão da idade. Lido muito bem com a questão da minha idade, do meu amadurecimento e com o envelhecimento. É algo que todos nós vamos passar, e consigo levar isso de uma forma muito natural. A única coisa que me incomoda são os pelos brancos dentro do nariz. O meu sonho é que eu seja um velhinho que consiga colocar a própria meia”, brinca, mostrando seu lado bem-humorado até mesmo com as pequenas implicâncias do envelhecimento.
Assim, Marco Luque segue seu caminho — entre risos, personagens e desafios —, equilibrando o peso do amadurecimento com a leveza de quem nunca se esqueceu do palhaço que mora dentro de si. O palco, para ele, é um reflexo da vida: um lugar onde se pode ser tanto o “moleque” brincalhão quanto o homem que enxerga o mundo com olhos atentos, mas sem perder o humor. Em cada nova empreitada, Luque segue desafiando rótulos, criando laços e provando que o riso, atemporal e universal, ainda é a melhor resposta aos percalços da vida. Ele ri da idade, das convenções, dos pelos brancos — e nos convida a rir junto, enquanto veste sua alma de terno preto ou de “motoqueiro raiz”, reforçando que, em tempos de mudança, o humor sempre encontrará seu espaço.
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