A brasileira Deborah Colker é a primeira mulher a assumir o cargo de diretora do Cirque du Soleil


A artista começou a idealizar o espetáculo OVO em 2006 e somente 13 anos depois ele chega ao Brasil para uma curta turnê que passará por Brasília, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. A coreógrafa contou sobre as dores e as delícias por trás da criação

Ela ajudou a revolucionar a trajetória do Cirque Du Soleil. Ela trouxe protagonismo feminino no papel da primeira mulher a assumir um cargo de direção na companhia. Ela representou a América Latina no picadeiro mais famoso do planeta. Ela levou brasilidade, autenticidade e movimento para o circo canadense. Ela é Deborah Colker, a diretora, autora e coreógrafa por trás do espetáculo OVO –que chega ao Brasil em março de 2019. Em tempos de empoderamento e movimento feminista, a artista se mostrou vanguardista mais uma vez ao aplicar este conceito de aceitação em um trabalho idealizado há mais de 10 anos. “Quando o desafio apareceu para mim resolvi diminuir o monstro, porque era um compromisso muito grande e uma responsabilidade igualmente gigante. Foquei naquilo que me preparei para fazer. Não fiquei preocupada em representar a mulher e a América Latina. Resolvi ser quem eu era e trabalhar com o meu rigor e disciplina. Eu queria descobrir um gesto e contar uma história. Fazer o circo dançar. Esta foi a minha maneira de manter um compromisso e ser quem sou, com tudo o que representei”, garantiu. O site HT teve o privilégio de conversar de pertinho com ela e bater um papo sobre os desafios que este trabalho lhe apresentou para o futuro de sua carreira. Vem conferir!

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Deborah Colker foi a primeira mulher a assumir um cargo de direção no Cirque du Soleil (Foto: Marcos Mesquita)

Deborah Colker trouxe novos ares para o Cirque Du Soleil. A brasileira entrou para o time de diretores a convite do fundador da própria companhia, Guy Laliberté. O canadense a escolheu para idealizar o espetáculo que comemoraria os 25 anos do circo mais famoso do mundo. Exatamente por ser uma data tão importante, ele tomou a decisão de trazer uma mulher para assumir o posto. O nome de Deborah surgiu quando o próprio empresário se deparou com a parede de Velox, criada pela própria artista. De acordo com ele, aquele símbolo precisava fazer parte do mundo do circo. Além disso, viu na coreógrafa uma chance de trazer ainda mais movimento para a cena. “Eu trouxe para o mundo do Cirque Du Soleil teatro, dança, música e uma maneira diferente de construir um espetáculo. Foi difícil, inicialmente, pedir para os russos e europeus fazerem posições engraçadas, mas deu certo. A dança estava a serviço de contar uma trama”, garantiu a autora.

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A partir deste encontro, o tema do espetáculo assumiu um caráter para lá de brasileiro. Deborah resolveu trabalhar com a ideia de ecossistema micro e macro ao trazer o universo dos insetos. Na sua visão, ela queria implementar as belezas do circo através de formigas trabalhadores, besouros trapezistas e aranhas contorcionistas. Para isso, optou por trazer diversos acrobatas para a cena. “O Guy Laliberté queria trazer a minha parede para o Cirque Du Soleil, mas é claro que ela ganhou proporções muito maiores. Eu queria fazer algo novo. Uni estas duas vontades e acabei fazendo algo diferente. Peguei o conceito inicial e trouxe cama elástica e um salto de altura para incrementar ainda mais. Sendo assim, o número dos grilos é uma criação autoral minha para este espetáculo”, salientou.A partir disso, trouxe um enredo intimista que levanta a discussão com relação à aceitação do diferente pela figura do imigrante. Um trabalho brasileiro, único, atual e desafiador.

Deborah Colker marcou presença em coletiva de imprensa do Cirque du Soleil que rolou em São Paulo (Foto: Marcos Mesquita)

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Apesar de ter deixado OVO com a sua cara, a artista não teve um trabalho fácil de executar. Para que cada número ficasse do jeitinho que queria, precisou bater o pé e brigar pelo o que acreditava que funcionaria. “Amadureci muito. No início, eu queria muito respeitar a minha personalidade no meio de tantas culturas. No entanto, o Cirque Du Soleil é a melhor fábrica de talentos do mundo e este título não vem à toa. Eles possuem um sistema regrado. Com isso, batia muito de frente com eles e perdia um tempo enorme brigando. O Guy Laliberté, inclusive, me chama de ‘little fighter’, que, em português, significa a pequena lutadora. Aos poucos, fui descobrindo quais discussões eram importantes e tornei, cada vez mais, esta trama universal”, relembrou. Isto porque, além de lidar com toda a pressão, responsabilidade e ideais, ela precisou comandar uma equipe tremenda. Com artistas de diferentes nacionalidades, Deborah precisou lidar com diferentes visões de mundo de pessoas vindas do Japão, França, Canadá, Brasil, Rússia e China. “Muitas vezes eu pedia silêncio mesmo as pessoas estando quietas. Era uma loucura, porque eram muitas línguas que precisavam ser traduzidas. Era uma verdadeira torre de babel de cultura e experiências. É um aprendizado de uma riqueza tremenda”, relembrou. Inicialmente, cada um possuía um tradutor o que deixava os ensaios ainda mais numerosos.

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Além de lidar com as diferenças culturais e com a responsabilidade de criar um espetáculo atemporal do Cirque Du Soleil, Deborah ainda precisou morar um período no Canadá. “Não foi fácil. Vivi por muito tempo com 25 graus abaixo de zero. Nunca tive que lidar com esta temperatura. Tive um carro, um telefone e uma casa nova. Foi complicado. Sou uma pessoa muito apegada à companhia e à família, tenho filhos, cachorros e um neto. Sou apegada ao meu trabalho”, confessou. Inclusive, o seu único neto, Theo, nasceu cerca de três meses depois da estreia oficial de OVO. Foi um turbilhão de experiências que exigiram da coreógrafa muita paciência e um grande ritual de amadurecimento. Em 2008, por exemplo, ela chegou a fazer 13 viagens entre Rio de Janeiro e Montreal. “Abandonar a minha companhia e a minha casa seria muito desgastante”, contou.

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Deborah Colker apostou em um time majoritariamente de acrobatas para trazer o DNA do circo em consonância com o movimento da dança (Foto: Marcos Mesquita)

Com tantas desavenças, a diretora precisou se apoiar diariamente em sua larga experiência e em sua própria companhia que, na época, acumulava cerca de 15 anos de trajetória. “O meu tempo dentro da companhia foi muito fundamental para conseguir arcar com este trabalho, afinal, é uma proposta experimental e, ao mesmo tempo, profissional. É um compromisso sólido e rigoroso com a arte. Isto estava dentro de mim. No entanto, a minha cia é uma formiguinha dentro do insetão que é o Cirque Du Soleil. De qualquer forma, me obriguei a lembrar que possuo uma jornada artística coerente e estruturada”, garantiu.

Tudo foi superado e, agora, apenas restam memórias e o prestígio de haver conseguido gerenciar tantas frentes diversas de trabalho. O Cirque Du Soleil, para a artista, foi desafiador, mas o saldo é com certeza muito mais positivo. “Trabalhar com OVO e com o Cirque me ajudou muito a ter maturidade para idealizar espetáculos igualmente grandiosos, como foi o caso da Olimpíada de 2016. Cresci demais e, quando olho para trás, vejo a potência desta construção. Foi fundamental”, garantiu. A gente é fã.

Serviço:

  • Belo Horizonte, de 07 a 17 de março, no Ginásio Mineirinho;
  • Rio de Janeiro, de 21 a 31 de março, na Jeunesse Arena;
  • Brasília, de 05 a 13 de abril, no Ginásio Nilson Nelson;
  • São Paulo, de 19 de abril a 12 de maio, no Ginásio do Ibirapuera

A venda para o público em geral começa nas seguintes datas:

– Belo Horizonte, a partir do dia 29 de novembro;

– Rio de Janeiro, a partir do dia 01 de dezembro;

– Brasília, a partir do dia 01 de dezembro;

– São Paulo, a partir do dia 03 de dezembro.