Rock in Rio: Muse anestesia público com seu pop-progressivo em concerto de quase 120 minutos


Liderada pela melancolia vocal de Matt Bellamy, banda encerra segunda noite de festival com performance intensa em nome da overdose sonora

Por Pedro Willmersdorf

Não é uma tarefa das mais fáceis. Mas, se você for uma pessoa disposta a experimentar o casamento inusitado (e coberto de camadas de véus) do pop com o o rock progressivo, os britânicos do Muse, sem dúvida, são os donos do melhor produto final já criado nessa seara. Prova disso foi o show grandioso que Matt Bellamy e seus companheiros armaram no encerramento da segunda noite de Rock in Rio.

Guitarras e baixos distorcidos, o vocal dramático e melancólico de Bellamy, a bateria em ritmo acelerado e fãs compenetrados na missão de embarcar na viagem dançante da banda, que trouxe em sua performance um mix de sucessos que permearam sua carreira até os dias de hoje (exceto ‘Showbiz’, primeiro CD, de 1999).

Reconhecidamente respeitado por seu poderio em festivais, o Muse vai além do tradicional ‘rock de arena’, com uma gama de sonoridades mais ampla. Há uma interseção entre várias vertentes que convergem para o mesmo caminho: o da overdose, seja de riffs, solos de guitarra ou extensão vocal do carismático (porém tímido) líder.

Da pista, com ‘Supermassive Black Hole’, passando pelo pop progressivo de ‘Follow Me’ e ‘Madness’ até chegar ao desfecho épico de ‘Knight of Cydonia’, com direito a gaita introdutória à la ‘Era Uma Vez no Oeste’, clássico do cinema com trilha de Ennio Morricone: um passeio completo por todas as facetas já exibidas pelo grupo em sua trajetória. Assim foi o concerto de quase 120 minutos promovido pelos headliners da noite. Com a intensidade prevista por qualquer um que já tenha contato prévio com o som do Muse. Uma banda eficiente, intensa, entregue e, a despeito de qualquer julgamento, cheia de personalidade. Bravo!

Fotos: Vinícius Pereira

O segundo dia de Rock In Rio

No Palco Sunset, os californianos do Offspring promoveram uma verdadeira matinê punk-roqueira e nostálgica, voltando aos anos 90, quando a banda, além de estar no auge de sua carreira, ainda tinha relevância na cena do gênero. No entanto, apesar da eficiência no palco, a banda não subiu a temperatura ao nível que poderia, muito por conta de sua frágil interação com seus fãs apaixonados.

Já no Palco Mundo, a noite começou sonolenta e burocrática, com mais uma apresentação do Capital Inicial, calcada na trajetória de quase 30 anos da banda e carregada do discurso lugar-comum de Dinho Ouro Preto em relação à política nacional. Não há ‘gigante’ que fique acordado diante de tanta bobagem.

Em seguida, subiu ao palco Jared Leto e seu 30 Seconds To Mars, muito bem intencionado sob sua lona carregada de performances, declarações de amor ao Brasil, passeio de tirolesa e coro com fãs no palco. Uma moldura superficial que não conseguia esconder a frágil obra musical da banda.

Para melhorar um pouco a situação, Florence Welch e sua ‘máquina’ transformaram o Rock in Rio em um ritual pop permeado por uma aura onírica interessante e cheia de energia, contagiando o público de forma surpreendente. Com sua verve performática afiada, a vocalista da banda britânica conseguiu dosar bem a teatralidade e musicalidade, criando um espetáculo visual e sonoro para lá de agradável.