Cores que celebram uma história, sangue brasileiro, tecidos que flutuam pela passarela com elegância e desfile manifesto. Assim é o trabalho do múltiplo Ronaldo Fraga como estilista. Com sua experiência e talento, ele é um dos coaches no SENAI Brasil Fashion, iniciativa promovida pelo SENAI CETIQT, com o objetivo de fortalecer e divulgar a educação profissional no Brasil por meio de uma plataforma de moda que capacita os alunos através de uma experiência hands on – e que gera visibilidade para o segmento. “Ensinamos aos alunos a pensar a moda além da roupa. A história por trás de um desfile e a importância de valorizar o trabalho de todos os profissionais”, comentou Ronaldo. O projeto está em sua quinta edição e, desta vez, selecionou 24 alunos, divididos em duplas de estilistas e modelistas, dos cursos de longa duração de moda oferecidos pelo sistema SENAI de todo o Brasil. Eles contam com a oportunidade de produzir minicoleções formadas por três looks e apresentá-las em um grande desfile no Centro Cultural Ação Cidadania, dia 22 de novembro. Com o auxílio de profissionais experientes e uma imersão nos elementos que vão compor o desfile e momentos de trabalho, os jovens estão a pleno vapor na execução de suas criações para a construção do que comunicarão na passarela. É uma das maiores oportunidades de estudar, entender e colocar em prática a importância do desfile como a narrativa de um conceito e de uma visão do mercado de trabalho.
O estilista é coach da iniciativa ao lado de Lenny Niemeyer, Alexandre Herchcovitch e Lino Villaventura, que se reuniram na sede do SENAI CETIQT, no Riachuelo. O Site HT acompanhou a ação dos coaches, dos consultores junto às duplas, que estavam no processo de avaliar e pensar nos protótipos dos looks, nos quais os mentores puderam dar suas opiniões e concretizar ainda mais cada projeto de minicoleção. O desfile com o tema “Todo Mundo Tá na Moda” virá acompanhado de muitos desafios para os novos estilistas e modelistas: o objetivo de retratar diversidade e inclusão de uma forma autoral e significativa. O coach Ronaldo Fraga acredita na importância do projeto e do ensino superior e profissional no país. “A repercussão dessa iniciativa já estimula novos jovens a encarar o ensino superior no Brasil com uma superestrutura como o SENAI”, frisou o estilista.
Ronaldo Fraga é uma das referências em moda autoral no Brasil: suas produções estão sempre envolvidas em uma história bem construída, repleta de identidade e inspirada na cultura brasileira para além do cartão-postal. Conhecido pela exuberância de detalhes, cores e desfiles impactantes, o estilista mineiro começou de forma única na profissão. Sua trajetória teve início nas aulas de moda em que se destacou e conquistou um emprego de modelista em uma loja de tecidos de Belo Horizonte. E seu aprendizado e desejo de continuar cruzou fronteiras: estudou estilismo na Universidade Federal de Minas Gerais, ganhou o concurso de uma tecelagem que lhe rendeu a ida a Nova York para a pós-graduação na Parsons School of Design e, depois, para esmiuçar a chapelaria em um curso na Saint Martins School, em Londres. Com tanta bagagem, Ronaldo Fraga lançou sua marca no Brasil há 21 anos.
Hoje, além de passar seu conhecimento para jovens de várias regiões do país, Ronaldo é o novo diretor criativo da 23ª edição do Minas Trend, semana mineira de lançamentos de moda de moda promovida pela FIEMG (Federação das Indústrias de Minas Gerais), que será realizada entre os dias 28 outubro e 1º de novembro, em Belo Horizonte, inovando com o tema “Agora e para Sempre”. O objetivo é pensar o Minas Trend daqui a 20 anos, estabelecendo um ambiente inclusivo, democrático e diverso, além de trilhar caminhos e histórias inexploradas na moda.
Para ajudar na missão de montar um desfile de grande porte, os alunos adquiriram a oportunidade de trabalhar com os consultores nas áreas de casting, modelagem, trilha, styling, processo criativo, beleza e cenografia. São eles: Ed Benini, Wilson Ranieri, Max Blum, Daniel Ueda, Jackson Araujo, Rodrigo Costa e a produtora Chá das Cinco. Com um time profissional de consultores e coaches, o SENAI Brasil Fashion reuniu todos para palestras sobre os detalhes que envolvem planejamento, narrativa e execução de um desfile. Eles tiraram dúvidas dos alunos e mostraram exemplos de trabalhos que realizaram ao longo da carreira, uma oportunidade de entender o processo criativo de cada um. Para completar o dia de avanços no projeto, os alunos apresentaram pela primeira vez os protótipos das peças, além de ouvirem os conselhos de cada consultor. Ed Benini, por exemplo, apresentou em primeira mão o cast de cada dupla, um momento muito aguardado e que contou com palmas dos participantes ao verem nomes como o do surfista biamputado Pauê, da supermodelo Isabeli Fontana e o do ator Bruno Montaleone, entre outros. Segundo Ronaldo Fraga, a oportunidade é de ouro. “É um projeto único, inédito no país, que lança uma outra luz sobre o ensino profissional no viés da moda. Isso já é uma realidade em lugares como a Finlândia e a Noruega e faz toda a diferença no crescimento da indústria da moda nacional”, contou.
Para que os participantes possam seguir nessa empreitada desafiadora, Ronaldo Fraga acredita no processo de encontrar inspiração pelo Brasil. “É um país culturalmente diversificado e tem uma infinidade de particularidades que os alunos podem usar como inspiração. É um momento deles se encontrarem em suas identidades e percorrerem um caminho autoral e nós, coaches, estamos aqui para orientar nesse processo”, contou o estilista. Ele, ainda, defendeu que o novo mercado da moda é formado por esses jovens. “Os jovens têm a noção de que o consumidor final quer ver algo real que antes era inalcançável. Diversidade, representação, respeito às diferenças e belezas variadas são ideais que temos que incluir no nosso imaginário, além de pensar nos desfiles como narrativas. É hora de pensar: por que queremos contar uma história específica?”, completou.
Muitas vezes, Ronaldo transformou seus desfiles em manifestos e ele sabe como ninguém emocionar. Um exemplo dado aos alunos foi o fashion show da coleção Primavera-Verão, batizado “As Mudas”, apresentado no início de 2018 sobre o processo de renascimento pós-tragédia da cidade de Mariana. As peças foram bordadas por artesãs de Barra Longa, região atingida pela rompimento da Barragem de Fundão, administrada pela mineradora Samarco, que, de acordo com o Ibama, representou o maior desastre ambiental da História do Brasil. O desfile resgatou as memórias com a cenografia representando a lama e cada peça contando a história de quem viveu o desastre em 2015. Com o propósito dar alento, vida e significado à reconstrução, o estilista comoveu a todos os presentes na São Paulo Fashion Week.
Além de acreditar da identidade, ele reafirma os processos de evolução da moda. “O setor passa por uma crise violenta, porque tem dois concorrentes fortes: as experiências e o entretenimento digital. Hoje, quando um amigo vai viajar, não fala sobre uma loja bárbara no Japão ou no interior da Espanha. Ele vira e fala que foi a um bistrô, um restaurante e você vai atravessar o mundo para ir naquele lugar. São as experiências. A moda precisa trazer um pouco desse entretenimento e informação”, afirmou. O estilista também acredita na mudança da crise que atinge o setor. “O brasileiro tem gosto por moda. Todos os sexos, qualquer nível social, quem passa pela frente da TV e vê um desfile vai parar para assistir. O desfile exerce um fascínio no brasileiro e as pessoas estão conquistando cada vez mais e exercitando a construção do seu personagem diário, que é a autoralidade. Por outro lado, estamos vendo essa crise que está dizimando a indústria têxtil brasileira, mas projetos e iniciativas como a que o SENAI CETIQT oferece nos ajudam a contornar essa situação”, frisou.
Para o estilista, o projeto, assim como a moda, tem evoluído. “Todo projeto que pensa um olhar à frente de forma bem conduzida e estruturada por profissionais como os coaches e os consultores é importante. Nós temos estilos completamente diferentes e isso é bom, porque não existe uma verdade absoluta na moda e nem um único caminho. Já estamos na quinta edição do SENAI Brasil Fashion e começamos a ver que os alunos chegam mais preparados para participar, equilibrando melhor o comercial e a identidade nas peças para que elas sejam funcionais”, finalizou.
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