“O foco do projeto é propor uma visão de moda com imagem que seja de Brasil, mas totalmente conectada e linkada com o que está acontecendo no mundo. Proporcionando à indústria nacional uma identidade genuinamente brasileira que fará a diferença tanto no mercado nacional como no internacional”. As frases são do coordenador do Núcleo de Design da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Walter Rodrigues, sempre com um olhar para o futuro, mas repleto de inspirações que fizeram a história. Foi emocionante acompanhar esta edição do Inspiramais 2020_I – Único Salão de Design e Inovação de Materiais da América Latina, realizada Centro de Eventos Pró Magno, em São Paulo,verdadeiro amálgama de criatividade e pensando o high tech em total simbiose com a sustentabilidade.
Designers, empresários, profissionais da moda e players das indústrias de calçados, bolsas, acessórios, vestuário e móveis de Norte a Sul do país e do exterior participaram do evento que reúne inspiração, pesquisa e futuro. E o site HT acompanhou essa edição histórica do Inspiramais em números de participantes ávidos em conhecer as inovações que abrangem toda a cadeia dos setores de moda, calçadista e moveleiro, apresentando mais de 1.000 materiais para as indústrias brasileiras e de toda a América Latina. O evento é promovido pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) e Programa de Internacionalização da Indústria Têxtil e de Moda Brasileira (Texbrasil), Brazilian Leather, By Brasil Components, Machinery and Chemicals e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).
Disposto a enriquecer a discussão e produção no mundo da moda, sempre focadas nos materiais, como tecidos, estampas, couros, saltos, sintéticos e aviamentos, e na atemporalidade da moda, o Inspiramais 2020_I apresentou, em formato de exposição com palestras, os produtos inovadores após um amplo estudo com referências e cartela de cores. O projeto Conexão Inspiramais promove o desenvolvimento de materiais que tenham a capacidade de transmitir valores essenciais e verdadeiros ao consumidor, algo fundamental para que as empresas obtenham sucesso. É o resultado de um ciclo que começa com um estudo das inspirações, a partir de referências de moda, elaborado pelo Núcleo de Design da Assintecal. E segue envolvendo a participação de empresas que recebem orientação para criar e desenvolver materiais inovadores em design, tecnologia e sustentabilidade.
Leia aqui – Play: esta é a máxima do Inspiramais 2020_I, que rola em São Paulo, nos dias 15 e 16 de janeiro, Entenda!
É nesse universo multifacetado, já na segunda década do século XXI, que Walter Rodrigues afirmou: “O mais interessante hoje do Inspiramais é que está consolidado como um grande evento de matéria de moda do Brasil com repercussão internacional. É aqui que a moda brasileira começa. É aqui que damos o start para o desenvolvimento das coleções das indústrias. Sentimos um crescimento expressivo de negociações e uma ampliação dos setores que nos visitam. O Inspiramais começou focado no calçado e no acessório. Na sequência introduzimos a confecção e as bijuterias e, nesta edição, trabalhamos fortemente o mobiliário. O que entendo é que a cadeia de moda como um todo, hoje, busca o Inspiramais e com uma contatação: o setor automobilístico vem constantemente ao salão para pesquisar referências. Carro também faz parte do segmento moda e conseguimos atender um escopo muito maior. Eu vejo que realmente o Inspiramais tem material para a cadeia de moda como um todo e os setores de produtos vão atender aos consumidores com estilo de vida e vontade de consumir moda”.
Walter, inclusive apontou os caminhos das inspirações: “A roupa, mais do que nunca, se transformou em objeto de comunicação. Designers do mundo todo usam suas passarelas para expressar ideias e conceitos, tais como a questão de gênero, o vegano, o de raça e de política, transformando moda em mensagem. Mas isso tudo vem das ruas. A liberdade tão duramente alcançada possibilita o uso de roupas e acessórios livres de dogmas de moda, surpreendendo e encantando os observadores, influenciando marcas de roupas, calçados e acessórios, além do design de móveis”.
Em nossa conversa, Walter demonstrou os resultados dos profundos estudos dos aspectos socioeconômicos, culturais, globais e de comportamento de consumo no mundo e falou sobre a construção do Play, palavra-chave do Inspiramais _I: “O Play remete a um pensamento muito interessante, porque diz respeito à diversão, ao lúdico, quase infantil… Busca você se soltar e ser livre de novo para criar. Esse é um ponto importante do Play. Mas o tema carrega também a ideia de apertar o botão e acelerar na criatividade e no fazer diferente”. E acrescentou: “Hoje, não temos uma forma de vestir, mas sim uma nova maneira de interpretar a roupa e os acessórios. Não é apenas um jogo de peças, mas um diálogo entre a liberdade de usar, a criatividade e a identidade. Tudo expressando um novo jeito de ser”.
O coordenador e design explicou que dentro do Play há três temas: Reconfiguração, onde imaginamos todos os clássicos sendo renovados. Então, todas as informações atemporais foram retrabalhadas; Referências Aleatórias, que são como colagens: “A gente vive com os smartphones na mão. Temos televisões. Imagens que vão impactar na criação de matérias e depois de produtos”. analisou. E, por fim, a palavra Expressionismo foi utilizada para falar da cor, porque mais do que nunca os consumidores estão usando smartphones e computadores para a compra dos seus produtos. Portanto, a cor tem que ser muito interessante na tela dos telefones ou dos computadores. As pesquisas do Núcleo de Design apontaram para as cores do Expressionismo para encantar esse consumidor ávido por moda.
A partir disso, para vocês entenderem o que foi visto no projeto Conexão Inspiramais, é necessário lembrar a Metodologia da Pirâmide: assertividade nos negócios. Todo o estudo é elaborado com base na criação da figura de uma pirâmide, que representa os 100% do mercado de moda. Dividida em três estágios que, juntos, vão atender a diferentes necessidades e desejos, facilitando a compreensão de quem é e como se comporta o consumidor – para quem os produtos são criados. “A moda, hoje, move-se cada vez mais rápido, e precisamos estar aptos a planejar e criar produtos com velocidade e foco, sem perder de vista o desejo do consumidor, a informação de moda e os novos nichos de mercado. Com isso, podemos diminuir a margem de erro e, consequentemente, aumentar os lucros”, comenta Walter Rodrigues. E quando falamos em 10%, o“Play” existe como uma ideia divertida de interpretar a moda e de iniciar movimentos que se dividem em: Reconfiguração, Referências Aleatórias e Expressionismo.
Nesses 10%, há o início de todo o processo e o nascimento das ideias, com base em uma pesquisa direcionada que determina os objetivos e sistematiza a inovação e a experimentação. Surgem produtos que se tornam desejos de consumo para as pessoas com muita informação de moda e só se interessem por produtos diferentes e também criados exclusivamente para nichos de consumo ligados à música e ao esporte, servindo de referência para lançamentos futuros. “As pessoas estão em constante reconfiguração e hoje não temos uma única maneira de vestir. Temos liberdade de misturar referências à nossa identidade. A roupa é um objeto de comunicação. E é interessante porque essa etapa do processo traz materiais como couro e tecido reconfigurados como se fossem papéis. Um momento de ressignificar o que nós usamos e trazer modelagens novas e divertidas, trabalhando também a colagem que se torna tão inovadora quando todos os elementos de diferentes texturas, acabamentos e cores estão juntos”, comentou Walter.
Também foi necessário analisar trabalhos de diversos designers e encontrar como as visões estão sendo construídas ao redor da moda pessoal, individual e única. “É interessante em um dia boring de inverno em que você sai de casa e, no metrô, encontra uma pessoa usando um casaco com recortes nas costas que lembram um tubarão. Vai alegrar seu dia”, explicou Walter. Na Reconfiguração, a busca é de produtos únicos. O exercício constante das formas intensifica uma busca para redescobrir novas silhuetas. O passo inicial foi analisar o trabalho da artista americana Cindy Sherman, conhecida por seus autorretratos conceituais em contextos históricos durante décadas, utilizando seu rosto e corpo como suportes. “A gente entende reconfiguração como uma ideia de trabalhar tudo aquilo que é atemporal, só que com outra percepção. É como e desconstruíssemos a alfaiataria, assim como os sapatos e bolsas clássicos e transformássemos as modelagens e o que já existe dentro desses produtos. Isso tudo é reconfiguração da arte. Antigamente, você tinha que ver artistas consagrados numa galeria de arte e hoje você consegue ver numa conta do Instagram e você tem contato com todo esse aspecto da reconfiguração da imagem”, exemplificou Walter Rodrigues.
Os integrantes do Núcleo de Design da Assintecal também olharam para o trabalho de Rick Owens, que cria produtos com uma estética gótica pós-apocalíptica. Eles são construídos a partir de modelagens tradicionais e reconfigurados com novos volumes. Outro trabalho que chama atenção é o de Lucas Simões, que interpreta matérias que são opostos, quando ele mistura papel com cimento. E temos, também, um olhar voltado para a silhueta para os desdobramentos do solado, dos saltos e das roupas. Portanto, na Reconfiguração as principais referências: divergente, moulage X tayloring, desdobramento, papel e cimento.
Nas Referências Aleatórias foram observados os trabalhos de Jean-Michel Basquiat pela forma com que construiu as imagens com fortes traços. Assim observamos o urbano e a ideia de colagem como forma de aplicação gráfica. Todo o trabalho é feito a partir de camadas de texturas que geram novos princípios de estamparias. O trabalho de colagem reflete todo o movimento de extravagância visual urbana. Esse conceito é aplicado em produtos, imagens de inspirações, campanha e novos designers que surgem nesse movimento. A extravagância aparece também em saltos, a partir desse conceito. Portanto, Referências = colagem, extravagância visual e urbano para construção de novos produtos.
O terceiro ponto aborda o Expressionismo. “A obra de Van Gogh é nossa base para pensar esse aspecto, porque mais do que nunca a cor é importante em um mundo tão digital e visual. O que nós entendemos é que a matéria de moda em si deveria ser tão inteligente e inovadora, de buscar em outras texturas e em outros materiais ou de combinações de elementos que não acharíamos tão combináveis no cotidiano. O que nós pensamos é: como vamos trabalhar a informação que está na sua mão, nos smartphones e as propagandas das ruas e usar isso para criar imagens novas? O grande diferencial não é ter a informação na palma da mão, mas o que fazer com ela e como sermos diferentes. Vamos ser mais inovadores e mais lúdicos ao buscar referências!”, disse. A ideia das pinceladas de Van Gogh, no quadro Noite Estrelada, por exemplo, é transmitida em espirais e plissados ou até mesmo em desenhos que reproduzem parte da obra. Esse movimento gera imagens novas e autorais. No Expressionismo temos pinceladas, pontilhados, plissados e movimento como principais referências.
Os 30% da pirâmide tem como palavra-chave “Alquimia” e é o resultado do estudo do ranking de aceitação dos produtos propostos nos 10%. Com base nesses resultados, a criação é alinhada com os processos industriais, com uma adequação de modelagem e fabricação para uma ficha técnica definitiva, para a busca da matéria-prima mais competitiva, do fornecedor mais confiável do mercado e para a planificação da distribuição. Neste ponto, o produto incorpora a informação de cores, texturas, acabamentos e estampas previstas nas tendências de moda, preparando-se para a grande produção e venda no mercado. “Nosso ponto principal é buscar uma inter-relação entre tecnologia e a natureza. Diante da quantidade de filmes de ficção científica que tivemos acesso e todos buscando um mundo imaginário, partimos desses elementos para construir nossa percepção de produto. E isso mostrou como a moda se democratizou”, salientou Walter.
Sendo o mote para a interpretação de novas tecnologias, há dois temas importantes: o atômico e o dinâmico. O primeiro aborda materiais que são disformes propondo novas texturas para sapatos, matérias-primas, mas usando a ideia de desuniformização na execução de novos produtos, então vemos o disforme, o ultra brilho, o metalizado, holográfico, brilho e ultra franja. “Ele é exatamente isso: uma explosão de todos os efeitos de brilho. Falando de texturas, notamos o ultra verniz e como os banhos que parecem plastificados geram material, ainda que haja uma transparência, mas com cor sobre ela. Temos também o metalizado e todas as formas de aplicação sobre tecidos, couros e sintéticos. Usamos o disforme, o paetê, o assimétrico e as franjas que estão presentes nas roupas, nos calçados e nos acessórios, vindo com força nesses 30%”, revelou Walter.
Já no dinâmico, o olhar está para o tubular com elementos que podem ser aplicados em acessórios, sapatos e roupas. “O xadrez desruptivo, que parece que salta aos olhos faz parte, assim como a gente vai pensar em jacquard 3D, criando cores e texturas para a moda. Nesse ponto, é importante pensar em zíper quando se fala de dinâmico, criar materiais que sejam extremamente funcionais, como impermeáveis. Outro ponto é como produtos aplicados em esportes de aventura e até mesmo peças convencionais do ambiente de trabalho vêm sendo utilizados para as coleções”, contou Walter Rodrigues. Dentro do dinâmico os pontos mais importantes são: tubular, corrente, xadrez disruptivo, jacquard 3D, mutação, zíper, acoplar, proteção, impermeável, workwear, cordas, tiras, ganchos e espuma proporcionando conforto.
A palavra-chave dos 60% é “Resistência” e estabelece um momento de produção rápida e lucrativa, tendo em vista a experimentação, nos 10%, e o processamento, nos 30%. As etapas anteriores fornecem ferramentas que facilitam a aceitação e o sucesso comercial dos produtos no mercado. Os produtos que são a referência da empresa precisam ser constantemente atualizados através da avaliação do ranking, implantando venda de novos produtos que substituem os itens sem apelo de mercado. Os 60% tratam de preço e competitividade, sempre observando o consumidor de massa e os três subtemas são: over-info, volume e bloco de cores. O over-info aborda o universo do folclore e como pode gerar estampas, bordados e aplicações que sejam exageradas com muita informação tanto de desenho quanto de cor. “Nesse universo temos quatro palavras para o desenvolvimento dos produtos: folclore, corações, barroquismo e animal print fortemente ainda em todas as marcas com aplicações de onças, cobras e leopardos. Essa parte do processo se confirma realmente com a tradição do folclore, com elementos carregados nas culturas latinoamericanas ou europeias, além do barroco trazendo força. Dentro disso, temos bijuterias, cabedais de calçados, cordas, uma variedade de produtos muito grande. Além disso, o coração fala bem sobre o momento que estamos vivendo, de pedir mais amor, mais doçura também”, afirmou Walter.
O segundo tema dentro dos 60% é o volume. A palavra é proporção dos solados, das fivelas, dos enfeites que podem ser tops, brincos ou amarrações. O tamanho é bem exagerado. Esses exageros acontecem tanto na decoração quanto na moda. O paetê é protagonista em produtos em sua aplicação. A ideia de matelassês amarrados, recortados, costurados criando novos volumes para os tecidos. Dentro do volume temos: proporção, matérias estruturadas, paetê e matelassado para o desenvolvimento de produtos. No bloco de cores, pensamos no vermelho que é muito importante para as coleções. O bloco de cores também cria contrastes como o vermelho com o azul nos detalhes de fivelas ou puxadores. A composição de cores é uma tônica e podem ser usadas pelo menos quatro que conflitem entre si. A mistura dos vermelhos, dos laranjas, dos amarelos e dos azuis aparecem em um único produto. No bloco de cores, as palavras são vermelho, contrastes e total color para dar início à coleção. “As cores mais saturadas fazem parte da releitura dos elementos, também misturados como outras formas do 60%, como o animal print e o barroco. A cor que explode está presente em todos os pontos”, elucidou Walter Rodrigues.
Leia aqui – Minas Trend: o start de 2020_I do Conexão Inspiramais. A moda está aqui, agora e para sempre!
O Inspiramais é promovido pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Tem patrocínio da Cipatex, Altero, Bertex, York, Advance Têxtil, Sappi Dinaco, Wolfstore, Caimi & Liason, Brisa, Intexco, Tecnoblu, Britânnia Têxtil, Cofrag, Colorgraf, Endutex, Componarte, Branyl, Berlan, Suntex e Aunde Brasil e conta com o apoio da ABEST, ABICAV, Abicalçados, IBGM, Instituto By Brasil (IBB), In-Mod, ABVTEX, Ápice, Abimóvel e Guia JeansWear by Style WF e Francal.
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