Dr. Alessandro Martins analisa polêmicas harmonizações corporais e pontua as que podem ser seguras


“Atualmente, a indústria tem produzido substâncias à base de ácido hialurônico, que é o preenchedor utilizado na face e nos lábios, em formulações corporais. Quais seriam os objetivos e quais seriam os locais onde esses preechedores podem ser utilizados? Uma área que tem obtido grande sucesso nos preenchimentos corporais é a região abdominal, na tentativa de aumentar o volume dos retos abdominais e, com isso, fazer o ‘six pack’, ou seja, aqueles ‘tijolinhos’ na barriga”, observa o cirurgião plástico

*Por Alessandro Martins

Hoje vamos falar de um tema bastante polêmico da estética corporal, o preenchimento corporal, também chamado de harmonização corporal. Por muito tempo, os preenchedores corporais foram proibidos na voluminação corporal, principalmente pelos tipos de produtos que foram injetados. Vários produtos foram usados de forma errada e negligente, muitas vezes por não médicos, na tentativa de aumentar os contornos corporais. Entre eles, os silicones, os silicones industriais, o polimetilmetacrilato  e o hidrogel, além dos proibidos, como o silicone e as substâncias não estéreis com potencial de infecção, embolia, necrose muscular e óbito por embolia desses produtos quando caem na corrente sanguínea.

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Produtos como o polimetilmetacrilato e o hidrogel também não foram liberados como preenchedores corporais. Por quê? Essas substâncias produzem reações que podem trazer complicações a longo prazo. O polimetilmetacrilato se transforma numa estrutura rígida, é inabsorvível – ou seja, é permanente. Essa formação pode, a longo prazo, levar a processos de fístulas e de extrusão, além de migração dessas partículas para outras partes do corpo, carreadas por algumas células que têm a capacidade de “abraçá-las” e carregá-las para outras áreas – Alessandro Martins

Dr. Alessandro Martins (Foto: Vinicius Mochizuki)

O hidrogel foi uma substância utilizada nos preenchimentos corporais, principalmente de glúteos e mamas, que também trouxe complicações a longo prazo, como infecções e fístulas –  inclusive com destruição de tecidos, porque eram fístulas crônicas que ficavam drenando o hidrogel juntamente com secreção, levando à destruição tecidual. Toda substância injetável, quando se aplica próximo de grandes vasos, apresenta risco de embolia. Se esse produto entrar na corrente sanguínea, pode ser carregado para qualquer parte do corpo, entre elas o pulmão, causando embolia pulmonar, que pode ser fatal e levar o paciente a óbito.

Além de não termos materiais apropriados e indicados para os preenchimentos corporais e dos erros de aplicação, outra complicação muito frequente era o volume. Eram feitas grandes quantidades, principalmente com o objetivo de aumentar a região glútea. Substâncias que não eram seguras, substâncias utilizadas em grande volume em vários planos, aplicadas de forma negligente, principalmente por não médicos, com lesão vascular, embolia e complicações letais.

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Atualmente, a indústria tem produzido substâncias à base de ácido hialurônico, que é o preenchedor utilizado na face e nos lábios, em formulações corporais. Quais seriam os objetivos e quais seriam os locais onde esses preechedores podem ser utilizados? Uma área que tem obtido grande sucesso nos preenchimentos corporais é a região abdominal, na tentativa de aumentar o volume dos retos abdominais e, com isso, fazer o “six pack”, ou seja, aqueles “tijolinhos” na barriga.

É muito importante, porém, entender que quem tem indicação para esse tipo de procedimento é um paciente magro, que já possui definição muscular, já tem hipetrofia do reto abdominal e que, na verdade, deseja aumentar esse volume. São pacientes muito restritos. Os volumes injetados são pequenos porque esse paciente, na verdade, já tem definição muscular, o que ele quer é aumentar sua visualização.

Outra área em que também têm sido empregados os preenchedores corporais é a região glútea. Aí o preenchedor não é utilizado dentro do músculo, mas no subcutâneo, na região gordurosa com vários pontos de aplicação por cânula, tentando melhorar o volume, o contorno do glúteo. Porém, os volumes injetados, mesmo a região glútea, não são extremos, como foram utilizados com o hidrogel e o polimetilmetacrilato. O objetivo não é ter grandes aumentos glúteos, mas conseguir uma melhora da silhueta glútea. Além disso, o ácido hialurônico tem uma capacidade, principalmente na região glútea, de se ligar à moléculas de água, aumentando a hidratação do tecido e melhorando até o aspecto da pele.

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A harmonização corporal não tem a ver apenas com preenchedores. Existem outros procedimentos que estão associados a ela. Entre eles estão as tecnologias para queima de gordura, as tecnologias para melhorar a flacidez, a combinação de preenchedores com bioestimuladores de colágeno (seja a hidroxiapatita de cálcio ou o ácido polilático), tudo numa tentativa de melhorar o contorno, de favorecer algo que o paciente já possui.

O paciente precisa compreender que esses procedimentos somente são indicados de forma segura com um médico que tenha conhecimento da técnica e com a utilização de produtos adequados, que são os ácidos hialurônicos que estão sendo liberados no mercado para esse fim. Muitas vezes, principalmente as injeções intramusculares (caso do reto abdominal) são guiadas por ultrassom para que se possa ver o plano de aplicação, onde estão as artérias e as veias e para que não se cause a embolização desse material na corrente sanguínea – Alessandro Martins

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Pacientes que não têm biotipo de atividade física, já com definição muscular, não são indicados a fazer esse tipo de tratamento porque têm resultados frustrantes: não aparecerá o efeito, não é esse perfil de paciente que tem essa indicação. Os grandes aumentos glúteos não são conseguidos com essa  técnica. Na verdade, para pacientes que necessitam aumentar a projeção glútea, a principal recomendação é a prótese de silicone, a prótese glútea associada ou não à lipoenxertia.

A própria lipoenxertia tem suas limitações, pois depende muito da ausência ou da presença de flacidez na região glútea, do tipo de gordura de cada paciente (se é mais firme ou se liquefaz mais: quando mais liquefeita, menos adere ao tecido). Ela não consegue grande capacidade de projeção, porque é uma estrutura mole. Ao mesmo tempo, apesar de ser um procedimento seguro, protocolado, a injeção de gordura em grande quantidade faz com que ela acabe morrendo, pois sofre pressão do próprio tecido. As células não conseguem se integrar e acabam explodindo, formando, inclusive, coleções oleosas que podem levar a complicações.

Os grandes aumentos glúteos não conseguem ser conquistados com o uso somente de enxertos de gordura. Normalmente, são associados a próteses de glúteo. Essas técnicas, que são sérias e seguras, também produzem aumentos intermediários da região glútea, porque as próteses chegam a volumes máximos em torno de 400ml, 450ml, que muitas vezes não cabem na paciente brasileira porque o tamanho do músculo glúteo máximo é pequeno, ele tem que cobrir completamente a prótese. Não é toda paciente que comporta todo esse volume. Se você não conseguir fechar a musculatura por cima desse implante, a gente terá complicação – entre elas, a extrusão da prótese glútea com perda do implante. E não pode ser colocado outro se houver perda e contaminação desse implante num espaço menor do que quatro ou seis meses.

Para não ter complicações, você não pode exceder o volume de prótese de silicone que o músculo do paciente seja capaz de comportar. A associação da prótese de glúteo com o enxerto de gordura melhora a projeção e pode melhorar o contorno, mas esses procedimentos têm limitações. Quando a gente vê aquelas grandes deformações, aqueles enormes aumentos glúteos, eles não são feitos somente com prótese e gordura. Normalmente é uma mistura de prótese, gordura, injetáveis (principalmente hidrogel), que se aplicam em grandes volumes – Alessandro Martins

Você acaba entrando num risco de complicações progressivamente maiores, crônicas e, muitas vezes, sem solução, mesmo tirando o produto, tirando o implante, removendo preenchedores como o hidrogel, que se impregnam no interior da gordura e da musculatura, levando  a necrose muscular, necrose tecidual, infecções crônicas. Às vezes não conseguimos resolver essa complicação e o paciente acaba ficando com uma complicação crônica, com fístulas crônicas que acabam destruindo a região glútea.

O alerta que eu deixo aqui é:

. Procurem muito bem o que vocês vão fazer, o que vão injetar no seu corpo, porque o desejo de um contorno, o desejo de um aumento glúteo, o desejo de um abdômen definido pode levar a consequências graves.

. Poucos produtos são realmente liberados para essa finalidade. Poucos volumes. Com segurança, com cânulas rombas para que você não tenha injeções dentro de vasos. Com mapeamento ultrassonográfico para localizar esses vasos.

. E entendam que um sonho pode virar um grande pesadelo em mãos erradas e quando o paciente não aceita a sua limitação de resultado.

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