DFB FESTIVAL DAY2: da visceralidade do Cariri à ascensão de David Lee no exterior


No segundo dia da maior semana de moda e festival plural das artes do Nordeste conferimos os desfiles das marcas ESC, Saldanha, Cariri Visceral, Bruno Olly, Jangadeiro Têxtil, Rendá, David Lee e Wagner Kallieno. Além das oficinas, palestras e shows

Criatividade e identidade são dois conceitos fortíssimos que permeiam o trabalho do diretor e idealizador do DFB Festival, Claudio Silveira. Fortaleza sedia a maior semana de moda e festival plural das artes do Nordeste e isso só ratifica a plataforma como grande fomentadora de cultura da região para o Brasil e exterior. “Nós acreditamos no criativo, por isso apoio sempre pessoas que querem inovar. A cada edição, eu espero sempre me surpreender e investir mais na cultura, em vez de focar em algo mais caricato”, ressalta Claudio que construiu um complexo cultura em pleno Aterro da Praia de Iracema com capacidade para 6 mil pessoas por dia. Um perfeito palco para as marcas ESC, Saldanha, Cariri Visceral, Bruno Olly, Jangadeiro Têxtil, Rendá, David Lee e Wagner Kallieno apresentarem suas novidades.

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O segundo dia de evento veio recheado de atividades para o público: a palestra O futuro da sustentabilidade, com André Carvalhal, seguida de uma mesa redonda, Renato Thomaz, da Água de Coco, Celina Hissa, da Catarina Mina e o lançamento do livro Beleza integrada, de Fernando Torquato, pela editora SENAC. No Palco Cores foi a vez da Neon Party, DJ Nicolas Abe e MC Pocahontas que, com seu funk, engarrafou os corredores do DFB Festival. Já no Palco SESC, as atrações foram Ballet Vera Passos, Mel Mattos e Junú.

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Confira abaixo a nossa análise sobre os desfiles do dia 2:

ESC no DFBEACH CLUB

A carioca ESC deu o start nos desfiles do segundo dia de DFB Festival. O sol e a lua foram testemunhas dessa estreia da marca do diretor-criativo Andre Lucian, que desfilou a coleção Luz, no DFBeach Club. “A inspiração veio do meu momento atual da vida, um instante de reflexão sobre a luz, a forma de energia que doura o mundo, como ponto de partida, que resultou em formas circulares, geométricas e soltas”, explica Andre.

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Com apenas dois anos, a marca está em 25 pontos de venda pelo Brasil e já exporta para o Canadá, Londres, Saint Barth, Saint Tropez e em breve, Miami. Com design e originalidade únicos e que vão além da praia, a ESC é uma marca de acabamentos sofisticados, prints exclusivos e espírito jovem. Feminina, com modelagens sofisticadas e atemporais traz um beachwear que transita do dia para a noite. Nascida no Rio de Janeiro e criada para o mundo, a ideia da label é fugir para longe do lugar comum. A grife tem peças versáteis que acompanham a mulher contemporânea em todos os momentos de sua vida. Os acessórios da apresentação são uma parceria com a Abi Project, de Nathália Abi-Ackel.

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SALDANHA

Na mitologia grega, Éolo é o deus do vento que soprou a beleza, Vênus, para longe. Essa foi a inspiração do estilista Even Saldanha, da Saldanha. O cearense contou que seu estado é um dos maiores produtores de energia eólica. E o vento em contato com a areia das praias resultou em plissados irregulares, como se as dunas estivessem em movimento. Além das transparências e tecidos telados que lembram as redes de pesca.

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Uma coleção que tem sua base entre o trabalho manual e a alfaiataria em tons de branco e off-white representando a pureza do vento, areia e o lima, que mostram a força desse fenômeno da natureza. “Eu adoro o branco, porque é leve, porque suja com facilidade e acaba carregando a memória das roupas e isso com uma pegada de sportswear“, explica Saldanha sobre a coleção que tem um forte olhar para a sustentabilidade. Um design inteligente que já nasceu pensando no destino do descarte de matéria-prima. A trilha da coleção foi assinada pelo próprio estilista.

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CARIRI VISCERAL

Um desfile idealizado pelos estudantes dos cursos de Costura, Modelista e Figurinista do Senac Crato resultou na coleção cápsula Cariri Visceral traduzindo o passado, presente e futuro que projetam a Região do Cariri como espaço múltiplo e formador da identidade cearense e nordestina, usando a linguagem da moda. As referências vêm da diversidade, tradição, vanguarda, de toda herança cultural da terra dos Kariris, de Padre Cícero e de “Seu Espedito”, conhecida também como “Oásis do Ceará”, pela riqueza natural.
Foram 13 looks criados por 16 alunos que trazem o DNA da região, o feito à mão. Macramês, cordas, palhas, organzas, voal, rendas, couros, acessórios de correntes e pedrarias se destacam nas peças de couro do Mestre da Cultura Cearense Espedito Seleiro e as tramas experimentais do artista-tecelão do Cariri, Alexandre Heberte.

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O Cariri se apresenta visceral em sentido figurado e personificado por uma imagem feminina. “Uma mulher sol, poderosa e que caminha pela passarela simbolizando a natureza extrema – chuva e seca, fósseis, folguedos, procissão, romaria, fé e devoção. Fazendo de conta que estamos entrando no cenário caririense em um transe inconfundível, mas sem fazer desse ato apenas um show de tradições folclóricas, mas, sim, um convite para conhecer e se encantar com uma das regiões mais inspiradora do Brasil”, comenta a instrutora Ariane Morais. A professora explica ainda que o objetivo dessa criação coletiva não é mostrar por meio da roupa como se formou a região do Cariri. “Trata-se de lançar perguntas e, a partir de estímulos que evocam imagens e sentidos, desvendar memórias individuais e também coletivas desse lugar”, conclui.

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BRUNO OLLY

A coleção o Grito, de Bruno Olly, foi inspirada nos 90’s tendo como referência o boxe. “Meu objetivo é representar na passarela as minorias que lutam diariamente para se sentirem respeitadas por suas diferenças”, explica o estilista que usa a passarela do DFB Festival como um grito de resistência, na defesa pela igualdade e da liberdade de expressão.

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A apresentação do paraibano mostrou um streetwear bem ousado: cintura marcada a partir de shorts, calças e macacões com o toque de alfaiataria. Já as batas, franjas, camisas, t-shirts e as conhecidas regatas que enfatizam o discurso de resistência. Os acessórios são bonés, pochetes, chapéu pescador, maxi-bolsas, maxi pochetes. Uma reinterpretação do universo dos pugilistas.

SINDITÊXTIL APRESENTA JANGADEIRO TÊXTIL

A Jangadeiro Têxtil apresentou a força das mulheres dos jangadeiros no DFB Festival. E a coleção assinada pelas estilistas Gisela Franck e Marina Bitu teve como inspiração as rendas, as cerâmicas, a religiosidade e o mar. A dupla utilizou tecidos nobres, texturas plissadas e pinturas à mão para enaltecer a força do litoral cearense. As peças remetem à fluidez do clima. As designers fizeram um passeio pelo universo das mulheres dos jangadeiros, figuras tradicionais do litoral cearense. São elas que se encarregam da casa e da família durante os longos períodos nos quais seus maridos saem para pescar, promovendo a economia feminina através do artesanato ao longo de toda costa litorânea.

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A história é contada através de uma coleção repleta de tecidos naturais e com uma cartela de cores que vai dos tons sóbrios do off-white até os mais marcantes como o vinho, azul royal e verde. Foram incluídas as estampas digitais, das quais a marca é referência, que aparecem através de pinceladas em forma de jangada. “O mar sempre foi e será uma inspiração. Ele alimenta, energiza e proporciona paz. A partir do nome da empresa, nós resolvemos fazer uma homenagem a esse lindo ofício e a tudo o que ele abraça, como a mulher artesã que representa a mão que faz à beira das praias do nosso Ceará”, enfatiza Gisela Franck.

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RENDÁ

A Rendá por Camila Arraes contou a história dos bordados nesta coleção. “O richelieu, que é nobre, único e rico, quando chegou ao Brasil virou poesia nas mãos das nossas rendeiras”, comenta emocionada a estilista. A técnica de bordado nasceu na Itália na época do Renascimento, entre os séculos XIV e XVI. De lá, este trabalho migrou para países de todo o mundo, principalmente pelas mãos das freiras católicas.

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Camila mostrou na passarela que as rendas, como a renascença não são exclusivamente para roupas de festa, mas também para o dia a dia, por isso, aplicou e tramou as técnicas junto a bases como couro e jeans dando mais versatilidade e um toque despojado. “Nesses nossos quase quatros de existência, eu pesquiso continuamente novas formas de aplicação e desenvolvimento das rendas. O que resulta sempre num processo de evolução criativa”, conta a estilista.

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DAVID LEE

A moda masculina de David Lee trouxe a coleção Under the sun. É um desdobramento da coleção apresentada em fevereiro de 2019, em Londres, durante a International Fashion Showcase (IFS) representando o homem contemporâneo com roupas que vão desde a praia ao shopping. As peças trazem muitas listras, xadrez, estampas coloridas, tecidos finos e crochê. Destaque para a camisaria, macacões ao estilo jardineiro e mecânico e moletons. Uma criação que aborda o comportamento do homem nos dias de hoje e explora elementos da dança e do esporte. Com base em alfaiataria, as peças também olham para o militarismo e o universo esportivo.

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“A ideia foi revelar a preciosidade dos sentimentos, das emoções, reverenciando a delicadeza do balé e a força do atleta”, conta o designer que participa pela quinta vez do DFB Festival. “É sempre uma grande responsabilidade para mim, porque eu sou daqui. Mas eu fico muito feliz a cada edição que posso integrar esse time e fortalecer a nossa capital”, conclui.

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WAGNER KALLIENO

O estilista Wagner Kallieno encerrou o segundo dia de DFB Festival com uma coleção que bebia tanto no Expressionismo abstrato logo após a Segunda Guerra Mundial como no exagero dos anos 80’s, década a qual o estilista é apaixonado. “Essa coleção é um reflexo minha vida atual. Estou muito esportista, por isso fui pesquisar materiais e me surpreendi com a gama de tecidos feitos com garrafa pet. Não tinha noção das mil e uma possibilidades”, ressalta.

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A explosão de criações da década de 80 aparece na assimetria das roupas, no brilho dos tecidos, nas mangas presunto, na sensualidade das peças. “No meio do processo de idealização da coleção, eu descobri umas cartas de amor de Shakespeare e me apaixonei, o que acabou virando estampa”, revela Wagner.

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