#SaiaDaCaixa de Helen Pomposelli com André Nobrega: “minha força de vontade de viver que me fez estar aqui até hoje em crescimento espiritual”


Apaixonado por cinema, André sofreu uma revolução em sua vida ao fazer uma cirurgia de apendicite e ter uma lesão neurológica e, por isso, chegou a ser diagnosticado por um médico de que nunca mais conseguiria andar

*Por Helen Pomposelli
Coach de imagem, auto-conhecimento e comunicação

(Foto: Miguel Moraes)

A primeira coluna #SaiaDaCaixa do ano não poderia ser mais especial! Conto a experiência de uma pessoa que foi obrigada, há cerca de 10 anos, a ver formas diferentes de trabalho e também de viver bem em busca da sua espiritualidade com muita determinação. Conversei com André Nobrega, ariano ascendente em leão, 40 anos, carioca da gema (ama o mar!), formado em cinema e com diversas passagens nessa seara: foi professor de dramaturgia e roteiro para a ONG Cinema Nosso e foi crítico de filmes do Festival de Cinema do Rio. Além disso tudo, foi coordenador do núcleo da pessoa com deficiência na FACHA.

Tudo mudou quando André foi fazer uma cirurgia de apendicite e teve uma lesão neurológica e, por isso, chegou a ser diagnosticado por um médico de que nunca mais conseguiria andar. “É como uma doença rara. Fiquei três anos sem poder falar e como cadeirante e, hoje, consigo me movimentar com o andador. Procuro ser o mais independente possível e foi a minha família e a minha força de vontade de viver que me fez estar aqui até hoje em crescimento espiritual”, explica André, que segue a frase de Fernando Sabino… “Façamos da interrupção um caminho novo.
 Da queda um passo de dança, 
do medo uma escada,
 do sonho uma ponte, da procura um encontro!”

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Um registro das aulas de dança inclusivas da Companhia Pulsar, que vai virar curta sob o olhar de André (Foto: Miguel Moraes)

Atualmente, André está à frente da direção de um curta sobre a Companhia Pulsar, projeto criado por Maria Teresa Taquechel y Saiz que, há 16 anos, dedica-se à construção de obras coreográficas em dança contemporânea refletindo em sua pesquisa a multiplicidade do indivíduo e a produção artística entre corpos ímpares com resoluções próprias de movimento. “Comecei em setembro como aluno lá no teatro Cacilda Becker na Companhia de Dança Pulsar e vi que através da dança eu poderia me expressar. Me apaixonei pelo projeto. É um verdadeiro centro de pesquisa de experimentação artística”, diz. Segundo André, o projeto Pulsar foi paixão à primeira vista. “A acústica do teatro isola a rua. Então, quem está participando faz uma imersão impressionante. O efeito é contagiante e mesmo as pessoas com inúmeras dificuldades, com deficiência, conseguem se entregar e se integrar”.

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(Foto: Miguel Moraes)

“A lesão mexeu muito espiritualmente comigo. Eu sempre tive inclinação, mas nunca me aprofundei. Já segui o Budismo, só que fiquei tão acidentado que me afastei e depois fui pra kardecismo em busca de resposta e hoje eu acredito que tudo que acontece para você tem um propósito evolutivo. Meu maior desafio sempre foi voltar a andar, mas hoje eu já estou encaminhado. Quero passar pela arte, produzindo não só cinema, poesia, teatro e, também, através da palavra. Sempre fiz isso na vida antes da lesão” , conta André, que descobriu o cinema aos 8 anos, quando seu pai arrendou uma vídeo locadora.

Outro registro das aulas de dança inclusivas da Companhia Pulsar, que vai virar curta sob o olhar de André

Para ele, estar lesionado é um verdadeiro estudo antropológico e o pior é o olhar das pessoas quando ele anda na rua. “ São mil por dia. Eu me recusava ficar em casa, caí muito da cadeira, mas sempre me recusei de fazer o papel de vitima. Nunca aceitei um não”. Conselho saia da caixa?  A noção que tudo é bom e ruim e que tem um tempo. Tudo vai acabar, se hoje você está no precipício, tudo passa. Nós temos o poder de mudar a nossa realidade. Temos como lidar com isso e a vida é muito linda, muito boa, mas talvez um momento difícil impede que você não enxergue”.

Obrigada, Andre