*Por Brunna Condini
(Colaboração de Vitor Antunes)
Aos 77 anos, Regina Duarte é inegavelmente um ícone da teledramaturgia brasileira, e mesmo quem discorda das suas posições políticas não pode negar isso. Com mais de 60 anos de uma trajetória artística relevante e que inspirou muitas gerações, Regina vem se dedicando nos últimos anos às artes plásticas, mas revela, em entrevista exclusiva ao site, que tem planos de voltar a atuar em breve:
Ando ansiosa para voltar aos palcos. Tenho já alguns textos que admiro. Quem sabe isto não se dá ainda no primeiro semestre de 2025? Será maravilhoso – Regina Duarte
A artista também conta que se prepara para um nova exposição. “Há um convite para uma coletiva na sede do Jockey Club, no Rio de Janeiro, de 21 a 24 de novembro. Estou feliz e me sinto super honrada”. Ela comenta ainda, a reprise de ‘Roque Santeiro‘ no Canal Viva a partir desta segunda-feira (4); fala dos constantes questionamentos sobre política, da relação com a Globo hoje; e relembra curiosidades de ‘Rainha da Sucata‘, que está de volta ao Globoplay, inclusive dividindo um desejo sobre essa novela tão viva em sua memória afetiva:
Perguntinha inocente: será que hoje na minha idade, mas com todos os recursos de que a TV dispõe, eu poderia sonhar com a sorte de ser escalada para repetir a graça e o charme de Maria do Carmo? – Regina Duarte
Nas suas novelas que entram para o Globoplay, nem sempre é a sua foto que
ilustra o cartaz. Você é uma atriz que ajudou a construir a teledramaturgia brasileira,
e muito, através de trabalhos para a emissora. Qual a sua relação com a Globo hoje? “Nossa relação se esgotou, já deu tudo o que tinha que dar, e acredito que nos brindou com sucessos magníficos”, conclui.
Sobre ‘Rainha da Sucata‘, do autor Silvio de Abreu – que recentemente teceu elogios à Regina dizendo em entrevista, que ela “tem a carreira mais bonita de toda a história da TV brasileira” – a atriz observa: “Tive muita sorte de ser escalada para fazer essa novela, que radiografa a sociedade brasileira em todas as suas camadas. Minha personagem era uma mulher forte que propunha um humor delicioso. Maria do Carmo me deu a honra de contracenar com Glória Menezes arrasando como Laurinha, ricaça falida, que era uma rival perfeita. Nicette Bruno (1933-2020) também esteve magnífica interpretando a minha mãe. O autor, a direção, o elenco todo fez da obra “um acerto do tamanho de um bonde”, como diria Maria do Carmo”.
Nas suas novelas que entram para o Globoplay, nem sempre é a sua foto que
ilustra o cartaz. Você é uma atriz que ajudou a construir a teledramaturgia brasileira,
e muito, através de trabalhos para a emissora. Qual a sua relação com a Globo hoje? “Nossa relação se esgotou, já deu tudo o que tinha que dar, e acredito que nos brindou com sucessos magníficos”, conclui.
Roque Santeiro: sucesso e recorde de audiência
A partir desta segunda-feira (4), poderemos conferir o sucesso de Dias Gomes (1922-1999) e Aguinaldo Silva, ‘Roque Santeiro’ (1985). O folhetim teve recorde de audiência: em sua exibição original, alcançou 67 pontos de média, a maior da história da televisão brasileira, e 100% de audiência no capítulo final. Além da reprise no Viva entre 2011 e 2012, a novela já foi reprisada em 1991 e em 2000 nas tardes da Globo.
Quem quiser conferir Regina Duarte na pele de uma impagável Viúva Porcina, “aquela que foi sem nunca ter sido” (viúva do Roque do título, vivido por José Wilker, 1944-2014), pode aproveitar a oportunidade. A personagem é engraçada, livre, mas provavelmente seria encarada agora como politicamente incorreta. Como você acha que ela pode ser entendida pela nova geração? “Acredito que o público brasileiro vem sendo treinado há décadas a separar a expressão artística da vida real. O humor sempre teve liberdade para avançar em espaços mais questionáveis. Lembrei agora da Dercy (Gonçalves, 1907- 2008), que meus pais achavam muito atrevida e a gente tinha ataques de risos”, opina.
‘Roque Santeiro’ é uma novela unânime por sua qualidade. Sente falta de tramas assim?
Não sinto falta porque tenho visto excelentes trabalhos na TV Record, aprecio as tramas Bíblicas – Regina Duarte
Um ano antes de ‘Roque Santeiro’, você fez ‘Joana’, na Manchete/SBT. O que pode falar desse trabalho, quase nunca lembrado, da sua carreira? “Foi uma experiência importante porque eu já tinha feito seis meses do curso de Comunicação Social na USP e meu sonho era ser jornalista. Sempre fui fascinada por investigar as razões, decepções e sonhos das pessoas. O jornalismo, para mim, poderia ser um trabalho complementar ao dos atores. Mas aí a TV Globo me convidou para fazer Andréia, par romântico de Claudio Marzo (1940 – 2015), em ‘Véu de Noiva‘ (1969) de Janete Clair (1925-1983), e minha carreira de jornalista foi pro “brejo”. Mas a novela fez muito sucesso”.
O presente
Você fica chateada com o fato de sempre haver uma pergunta sobre política direcionada a você, em detrimento de perguntas sobre seus trabalhos artísticos? Se sente pressionada a falar sobre isso? “Não. E nem acredito que haja interesse somente por meus posicionamentos políticos. Em meu Instagram falo também sobre assuntos que provoquem reflexões patrióticas, hábitos saudáveis, educação e relações humanas em geral. Meus seguidores, quaisquer que sejam suas ideologias, me aceitam como cidadã plural e isso para mim significa ‘Prêmio de liberdade’. Meu Instagram já tem mais de três milhões de seguidores e vocês podem conferir dando uma olhada lá: @reginaduarte”.
Seu público tem elogiado a sua versão artista plástica. Como se vê neste lugar e que olhar te interessa como artista plástica? “Nas artes plásticas, que venho praticando desde de janeiro de 2023, me vejo como principiante apaixonada pela atividade. Comecei catando folhas secas e aos poucos fui agregando um toque que pode fazer delas figuras humanas, animais e etc…me divirto muito!”, diz.
O que mais me interessa nas artes plásticas é a busca de divulgar o interesse pela natureza e o prazer que me dá conseguir na minha idade uma expressão artística para preencher o meu ócio – Regina Duarte
E finaliza: “No tempo dos meus avós e tataravós as mulheres bordavam, faziam tricô e crochê. Minha mãe, pianista, dava aulas de piano para contribuir no orçamento da família. Eu colo folhas em papelões que encontro na rua. Também voltei a pintar óleos, atrevimento que iniciei em 1974”.
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