*Por Karina Kuperman
Ela é militante do orgasmo feminino, referência em sexualidade e terapia tântrica, filósofa, escritora e instrutora de yoga e tantra. Reunindo tantos predicados, não é à toa que Carol Teixeira incomoda. Falamos aqui, na última semana, sobre a queda de sua conta no Instagram e os protestos que a decisão do aplicativo gerou. A comoção foi tamanha que o site HT procurou Carol para uma conversa ainda mais próxima. “A parte bonita da retirada sem sentido do meu Instagram do ar foi ver tantos protestos contra esse ato, tanto no próprio Instagram com a hashtag #voltacarolteixeira, quanto no apoio da imprensa, as matérias sobre o assunto. É bonito ver que mexeu com uma, mexeu com todas, ver que as pessoas não estão mais aceitando qualquer forma de repressão”, diz.
“Minha missão sempre foi libertar as pessoas, essa é a bandeira que sempre levantei, mas sinto que com o tantra tenho levado isso às últimas consequências. Falar de amor e de uma sexualidade feminina que é livre e não está a serviço do patriarcado mexe nas estruturas que estão muito arraigadas, ainda mais quando essa fala vem de uma mulher. É botar a mão na ferida de uma sociedade que nega o corpo ou o coloca a serviço do sistema”, continua.
Toda repercussão tem motivo (mais do que) justificável. O discurso de Carol fala de empoderamento, relação da mulher com o próprio corpo e por aí vai. “Eu tento fazer a mulher ir além dos discursos do empoderamento e sentir esse empoderamento no corpo, acho que isso é urgente. Porque muitas têm essa clareza no discurso mas entre quatro paredes fingem orgasmo, por exemplo, ou não conseguem sair de um relacionamento abusivo. Nos privaram do contato com nosso corpo na civilização ocidental. No momento em que entramos em contato com o corpo de forma livre estamos indo contra todo um histórico de repressão e violência contra a mulher. É uma responsabilidade histórica: no momento em que você se liberta você está interrompendo um processo, está liberando toda sua linhagem feminina. Se entender como um corpo para si e não para o outro é a maior das resistências”, explicou ela, que já recuperou sua conta nas redes. “Meu Instagram já voltou, felizmente. Não tive resposta direta deles, mas sei que responderam ao ‘O Globo’ alegando um ‘erro’”.
E por que será que o prazer feminino ainda é um tabu? “Porque as pessoas têm medo dele. Talvez, por isso, o prazer feminino tenha sido uma das sensações mais negligenciadas na história. Uma mulher consciente de seu poder – esse poder que vem da apropriação do próprio corpo e da própria sexualidade – é uma usina de energia e de segurança. Por isso, as sociedades vivem batendo cabeça tentando lidar com esse poder do corpo feminino: em algumas com burcas ou mutilação, em outras sociedades, há uma superexposição”, disse.
E Carol sempre se interessou pelo assunto. “Sempre tive um interesse antropológico na sexualidade, até na minha vida pessoal. Quando me formei em Filosofia meu trabalho de conclusão de curso era ‘A sexualidade como afirmação de vida’. Desde lá tive programa de rádio sobre sexo, fui colunista de sexo e comportamento da ‘Vip’ por oito anos, tive blog sobre o assunto, escrevi livro sobre o tema, acabei me tornando também terapeuta tântrica, tenho programa na internet e atualmente assino coluna na ‘Marie Claire’ sobre sexualidade. Ou seja, é o assunto da minha vida. Sempre digo que sexualidade é muito mais que sexualidade. Se apropriar do corpo e da própria energia sexual afeta todas as áreas da vida de uma pessoa”.
Com tanta propriedade para falar do assunto, que conselho Carol daria para uma mulher que ainda não é tão bem resolvida sexualmente? “Eu diria para ela vir para minha imersão chamada ‘I love my pussy’, que eu vou mudar a vida dela. Mas posso dar uma dica muito simples para começar esse processo: olhe para a própria vagina da forma como um tântrico olha, considerando um portal sagrado, fonte de vida e de poder. Yoni (vagina em sânscrito) significa ‘templo sagrado’. Nós aprendemos que nossa vagina é tudo, menos algo sagrado. Então, o primeiro passo é honrar seu corpo a partir desse centro de poder, ressignificar esse olhar. A partir daí, se masturbar com essa consciência de respeito pelo próprio corpo, de que ela merece esse prazer e de que a aceitação desse prazer/poder vai potencializar todas as áreas da vida”, ensinou ela, que aproveitou para explicar detalhadamente o tantra.
“É uma filosofia matriarcal e sensorial que considera o corpo um instrumento para a transcendência. Tantra é a descoberta da essência de amor que todos temos quando aceitamos o estado de vulnerabilidade, quando nos desfazemos das couraças e traumas que travam nossa energia e nossa vida. Quando você acessa esse estado de liberdade no corpo, quando você reconhece e autoriza essa energia, ela impulsiona todas as áreas da sua vida. Sua relação com você mesmo, com o outro e com a natureza muda completamente. Tantra é muito mais do que sexo, é uma forma de se relacionar com o mundo”.
Em tempo: depois de ‘Bitch’, vem aí um novo livro de Carol. “Quero finalizar meu novo livro, vou passar todo o mês de agosto em Bali, na Indonésia, sozinha para escrever e ficar bem calma, praticando yoga, focando um pouco em mim e no meu autoconhecimento. Vou abordar bem o tema da sexualidade e do tantra, contar um pouco da minha trajetória profissional, intelectual e pessoal para chegar na filosofia que defendo”. Além disso, ela já tem cursos agendados fora do país. “Tenho o ‘I love my pussy’ em junho em Miami, cursos tântricos em Portugal em setembro e uma longa imersão tântrica na Índia em novembro”.
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