*Por Jeff Lessa
É sempre bom poder dar boas notícias. Dar notícias excelentes, então, é de lavar a alma. Pois duas instituições cariocas voltadas para a cultura e a ciência entram na era das exposições interativas: o Museu de Arte Rio (MAR) e o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST). Em ambos, o projeto coube à SuperUber, empresa carioca dedicada a desenvolver projeções mapeadas com uso de mídias interativas e tecnologia aplicadas à cenografia.
No MAR, a exposição “Fluxo”, será inaugurada amanhã, dia 25, e ficará em cartaz por sete meses no primeiro andar do museu. A ideia é proporcionar ao visitante uma experiência totalmente sensorial em que o público ficará literalmente imerso na obra de arte. “Ao entrar na sala escura, você já percebe todo o processo de interação. É como se, ao pisar, seu corpo gerasse partículas que te guiassem para o centro da sala. As pegadas deixam rastros que apontam para o meio do espaço”, explica Liana Brazil, diretora criativa do estúdio SuperUber. “No centro, há um cilindro de seis metros de diâmetro por seis de altura, coberto por projeções. São imagens e sons inspirados na natureza exuberante do Rio de Janeiro: água, rio, céu, chuva, trovão. A chuva se transforma em contas e, a partir daí, é como se o visitante estivesse dentro de um maracá com traçados indígenas ao som de um ponto de candomblé. Ou seja, vai da natureza ao humano, à cultura das nossas origens”.
Leia mais – #SaiaDaCaixa de Helen Pomposelli mostra o mundo mágico, artístico e virtual de Liana Brazil
A ideia de fluxo vem da movimentação contínua das imagens, do som que permeia toda a mostra, dando interatividade entre a obra e os frequentadores. O projeto, ideia da diretora executiva do MAR, Eleonora Santa Rosa, foi baseado em conversas com grupos de jovens convocados pela instituição, com a intenção de atrair novos públicos para o museu. Comum no exterior, a interatividade tem uma característica especialmente atraente para a novíssima geração, que já nasce em um universo virtual. “Em um ambiente imersivo e interativo, você é o coautor da obra de arte. As pessoas acrescentam camadas às obras, criam juntas”, observa a diretora criativa da SuperUber.
Enquanto a exposição no MAR é temporária, no MAST a intervenção da SuperUber é permanente. A empresa foi contratada para criar o espaço interativo do Centro de Visitantes. Com abertura marcada para o dia 29, o local trará informações sobre as edificações do campus e do Observatório Nacional, além de um espaço imersivo onde serão abordados temas como história, patrimônio, astrofísica e geofísica para falar dos avanços surgidos a partir da observação do céu. “O conteúdo do MAST é muito interessante, mas sempre foi apresentado da forma tradicional. Com esses novos espaços interativos, buscamos atrair ainda mais o público jovem que está a cada dia mais ligado no design, na tecnologia e nas novas mídias”, diz a diretora do museu, Anelise Pacheco.
Para reverter essa situação, o espaço interativo contará com um totem e com a projeção mapeada de um globo terrestre onde serão apontados os locais onde estão os principais observatórios do mundo e os centros de pesquisa científica no Brasil. Mostrará ainda o contexto do MAST e do Observatório Nacional. O espaço imersivo é uma grande sala inspirada no espaço sideral. Projeções em espelhos instalados um diante do outro criam a sensação de infinito e envolvem o visitante. “É uma ideia simples. Quando temos algo simples, fácil de ler, as pessoas absorvem os conceitos mais rapidamente”, acredita Liana, acrescentando que o trabalho para a instituição foi fascinante. “Gosto muito de aprender coisas novas e, nesse caso, tivemos muitas conversas com os astrônomos e astrofísicos para criar o projeto”.
Uma das maiores curiosidades em relação às projeções mapeadas é como fazer para que os espectadores não produzam sombras nos objetos onde as imagens estão sendo projetadas. Aparentemente, não é tão difícil quanto parece. Mas o trabalho é milimétrico: “O cilindro do MAR, por exemplo, foi envolvido por uma tela de tecido grosso, um brim. O projetor fica bem no alto da sala, que tem um pé direito grande. O projetor abre reto e paralelo ao teto, numa altura em que as pessoas não interferem. Para criar a sensação de deixar as pegadas no chão, temos um projetor no alto posicionado numa diagonal em direção ao chão”.
Aberta em 2002 por Liana e seu marido, o engenheiro eletrônico de computação Russ Rive, a SuperUber realiza trabalhos em todo o mundo. Um dos mais marcantes foi criado para a apresentação de Beyoncé no Dia da Ação Humanitária na Assembleia Geral da ONU, em 2013, quando cantou a canção “I Was Here”. Outro, inesquecível, foram as projeções da festa de encerramento das Olimpíadas do Rio, em 2016. A empresa já realizou projetos na Europa, na China e na Índia, além de ter viajado com o Creators Project por EUA, China, Espanha e Brasil e ter montado a exposição Feathers to the Stars, do Frost Science Museum, em Miami, em 2017. A carioca, Liana é formada em arquitetura pela UFRJ e tem mestrado em arte e multimídia pela New York University (NYU). “Tive bolsa da Capes que, hoje, poderia não existir. Sem ela a SuperUber também não existiria. Minha trajetória teria sido completamente diferente”, afirma.
SERVIÇO:
Fluxo – abre 25 de maio até novembro
Museu de Arte do Rio (MAR)
Praça Mauá 5, Centro – 3031-2741
Terça, das 10h às 19h; quarta a domingo, das 10h às 17h
Pessoas com deficiências intelectuais: quartas, das 10h às 11h
R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST)
Rua General Bruce 586, São Cristóvão – 3514-5200
Terça a sexta, das 9h às 17h; sábados, das 14h às 19h; domingos e feriados, das 14h às 18h
Grátis
Artigos relacionados