Beth Goulart lança livro, fala dos 50 anos de carreira e de transformações na teledramaturgia que escancaram etarismo


Em seu segundo livro, ‘O que transforma a gente? – Breves reflexões para mudanças profundas’, a atriz reflete sobre os temas que nos transformam ao longo da vida. Beth observa questões que atravessam a experiência de ser humano, e partilha seu olhar sobre espiritualidade, filosofia, literatura, transcendência, maternidade, ciclos, tempo e a expansão da consciência, a morte, e sobre as diversas perdas que vivenciamos ao longo do caminho. Nesta entrevista, ela fala de legado e da valorização dele nos dias atuais, analisando também um tema muito presente, principalmente, em nossa teledramaturgia hoje: o etarismo. “Se você tira uma referência de idade na teledramaturgia está traindo a realidade. Se cada vez mais, as pessoas estão ficando mais velhas, não podemos negar esse tempo, e sim, inclui-lo, com suas nuances. E fazer a integração dessas gerações. Isso é positivo e saudável. Me parece que hoje o objetivo é atingir um outro público, mais jovem, ágil nas mudanças. E o público que sempre acompanhou as novelas vai ficando para trás…ganha-se determinadas coisas e perdem-se outras. Fundamentalmente, perde-se um saber fazer, porque o Brasil sempre foi um dos grandes realizadores do gênero no mundo. Acredito que precisamos voltar à delicadeza dos afetos nas histórias. Isso somado a valorização de bons profissionais”

*Por Brunna Condini

Depois da autobiografia ‘Viver é uma arte – Transformando a dor em palavras’, lançada em 2022, Beth Goulart tomou gosto pela versão escritora e poderemos lê-la novamente em sua mais nova criação: ‘O que transforma a gente? – Breves reflexões para mudanças profundas’. No livro inédito, Beth escreve crônicas com passagens também autobiográficas, em que reflete sobre temas como arte, espiritualidade, filosofia, ciclos, o tempo, as perdas e os ganhos na existência.“A escrita está presente na minha vida desde sempre, reflete a minha alma. Mas inicialmente era um espelho de autoconhecimento, já que eu não tinha a intenção de me comunicar através dela, agora é diferente, eu desejo me comunicar com o leitor sobre os temas que me tocam. E acredito que no futuro a ficção vai ser um caminho natural para a minha escrita também”.

Aos 63 anos e celebrando 50 de carreira como atriz, dramaturga e diretora, Beth comentou sobre esse tempo de estrada e da contribuição em tantos trabalhos artísticos. Falou também sobre legado, algo que deve ser valorizado, e como avalia esse movimento etarista na TV, em que temos visto poucos papeis interessantes, diversos, sem estereótipos, para atores mais maduros, experientes.

Beth Goulart lança segundo livro, fala das transformações na carreira ee na teledramaturgia, que vem escancarando o etarismo (Foto: Adri Lima)

Beth Goulart lança segundo livro, fala das transformações na carreira e e na teledramaturgia (Foto: Adri Lima)

“O momento em que começamos a envelhecer, depois as fases do envelhecimento, são ricos para serem dramaturgicamente retratados. Até porque, a previsão é que no Brasil, o número de pessoas que vão envelhecer só aumente. E já que a dramaturgia, cada vez mais reflete questões que a nossa atualidade vem propondo, o amadurecimento é uma das que merece ser vista com mais atenção. Infelizmente vivemos em um país sem memória, e isso não acontece só na teledramaturgia, acontece de forma geral. Mas como estamos falando sobre transformações, é inegável que a teledramaturgia passe por uma. Não queremos parar as mudanças, mas é importante que elas incluam temas importantes. O etarismo é um deles e precisa ser visto com mais seriedade, delicadeza e sensibilidade”.

Se você tira uma referência de idade na teledramaturgia está traindo a realidade. Se cada vez mais as pessoas estão ficando mais velhas, não podemos negar esse tempo, e sim, inclui-lo, com suas nuances. E fazer a integração dessas gerações. Isso é positivo e saudávelBeth Goulart

Beth Goulart lança seu segundo livro

Beth Goulart lança seu segundo livro

Beth Goulart lança seu segundo livro

Beth Goulart lança seu segundo livro

Com mais de 40 trabalhos em TV, fora a vasta carreira em cinema e teatro, Beth continua sua análise. “Me parece que essa transformação na teledramaturgia vem em cima de uma mudança de linguagem muito grande. Existia um público com uma fidelidade maior à TV que foi pouco a pouco se distanciando do veículo. Agora muita gente não tem nem televisão em casa, passou a ver as coisas pelo computador, pelo celular…e os streamings têm papel fundamental nisso. Antes, as famílias se sentavam diante da TV para assistirem algo juntos. Agora, cada um tem seu momento, suas escolhas. É outro modo de consumir as produções, uma experiência individual e não mais coletiva. Isso impactou diretamente a teledramaturgia. E vem acontecendo uma transformação de linguagem, com o objetivo de tentar atingir esse público flutuante, que escolhe o que vai assistir”.

Me parece que hoje o objetivo é atingir um outro público, mais jovem, ágil nas mudanças. E o público que sempre acompanhou as novelas vai ficando para trás…ganha-se determinadas coisas e perdem-se outras. Fundamentalmente, perde-se um saber fazer, porque o Brasil sempre foi um dos grandes realizadores do gênero no mundo. Acredito que precisamos voltar à delicadeza dos afetos nas histórias. Isso somado a valorização de bons profissionais. Buscar um equilíbrio – Beth Goulart

A atriz, diretora e escritora fala sobre as transformações oa longo dos anos e na TV (Foto: Adri Lima)

A atriz, diretora e escritora fala sobre as transformações oa longo dos anos e na TV (Foto: Adri Lima)

O que tranforma a gente?

“É um livro reflexivo, passa por esse processo de um mergulho em mim mesma, do meu olhar para a vida e para as transformações nela. Parto da minha transformação individual, para falar da coletiva, que é uma transformação de consciência, de atitude, comportamento. As transformações estão presentes em todas as fases das nossas vidas e vou passeando por elas…os nascimentos, as perdas, o tempo, as circunstâncias, tudo é mudança. Convido o leitor a fazer uma jornada não cronológica. Você pode começar a ler o livro de qualquer parte. E analiso símbolos de transformação: a ampulheta, o casulo e a borboleta, o espelho. Escrevo textos pensando nessas simbologias e como elas se fazem presentes em nossas vidas. E faço referência a autores que me transformaram ao longo da minha vida e carreira: Rumi, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Cora Coralina.

Escrever é uma fala silenciosa. Nos escutamos muito neste exercício. Digo aos leitores: me transformei ao construir esse livro, espero que vocês se transformem também ao lê-lo. No livro também está presente o quanto aprecio o passar dos anos. Avantagem do tempo é saber melhor o que você quer e o que você não quer. Quem você realmente é, fica ainda mais claro. Mas a vida é um processo constante de transformação Beth Goulart

“A escrita está presente na minha vida desde sempre, reflete a minha alma" (Foto: Nana Moraes)

“A escrita está presente na minha vida desde sempre, reflete a minha alma” (Foto: Nana Moraes)