*Por Brunna Condini
Susana Vieira agora tem um livro para chamar de seu. Referência absoluta de mulher vanguardista na televisão brasileira, a atriz lançou, no Rio de Janeiro, sua autobiografia: ‘Senhora do Meu Destino, A Biografia‘, escrita em parceria com o especialista em teledramaturgia Mauro Alencar. Susana se mostra animada ao se lançar no mundo literário através da sua própria trajetória. “Lançar finalmente esse livro é uma alegria. Não parei, não adiantou pandemia, idade, gente maldosa na internet. Não adianta nada disso. Sabe o que adianta? Você ser feliz, bem paga, ter filhos, família, fazer o que quiser, não se incomodar com críticas. Daí, você chega aos 81 anos, de bem com a vida e escrevendo um livro. É uma vitória, porque ser mulher no Brasil não é mole, não. As mulheres sofrem preconceitos em todas as profissões. Então, viva a mulher brasileira, gente!”. E diz ainda. “Tenho muitas histórias para contar”, deixando no ar uma possível continuação na carreira como escritora.
Com seis décadas de carreira e contratada da TV Globo há mais de 50 anos, Susana esteve pela última vez em ‘Terra e Paixão’, e fala da renovação de contrato com a emissora. “Por todo meu empenho, meu trabalho, minha alegria, acho que a Globo, em retribuição, me deu um contrato vitalício. Mas se eles pensam que vão me pagar dois anos e vou morrer, podem tirar o ‘cavalinho da chuva’, porque esse contrato vai até os 100 anos”, diverte-se.
Estou ótima e namorando online. Claro que eu vejo a pessoa de vez em quando, mas é mais virtual, porque mora em São Paulo – Susana Vieira
A biografia promete falar dos bons e maus momentos, exaltando a resiliência constante da atriz diante das adversidades da vida. Além disso, já de cara traz uma dedicatória de gratidão por todo amor que recebeu e recebe das pessoas. “A gente chega onde chega, muito por conta dos fãs. Por isso, faço questão de atender a todos, ser sempre carinhosa”. E observa: “E claro que a emissora (Globo) fica de olho nas pessoas mais amadas, e sou amada por umas 133 milhões de pessoas (risos). A emissora vê as pessoas que se destacam, que ajudam a aumentar a audiência, tomam conhecimento de quem é quem na televisão. As vezes soltam algumas pessoas que não decolam, ou que decolam um pouquinho e depois caem…e têm aqueles medalhões que são eternos. Falo isso sem modéstia, coisa que eu nunca tive, e não vou ter no dia em que estou lançando um livro com a capa que é um deslumbramento”.
Ainda sobre a biografia, a atriz divulga: “Acho que os fãs vão se divertir, porque muitas coisas eles já sabem, outras não, e o meu jeito de falar é igual ao que está no livro. Também tem muita referência de coisas antigas. Como a televisão vem reprisando novelas e eu vejo que o público de reprise é impressionante, amam folhetins antigos, meu livro é como se você tivesse assistindo o Canal Viva”.
Ele dá voz às histórias
Susana começou a pensar no livro há 10 anos, guiada e incentivada por Mauro Alencar. “O Mauro é um grande conhecedor da televisão do nosso país. Ele acha que sou uma estrela maravilhosa, importantíssima, um ícone, uma ídola, que fez muitas personagens importantes para o feminismo, mulheres que trabalham, vão à luta e isso é muito representativo. Foram muitas novelas que tiveram importância na vida mulher brasileira, então ele achou que no livro também podíamos contar essa história através das minhas personagens, misturando os trabalhos, com vida pessoal e pensamentos meus”, diz, sobre a obra com 65 capítulos: “Não dei limites para as histórias”
Doutor em teledramaturgia pela USP, o autor comenta o processo de construção da biografia. “Nesses anos todos, tínhamos as agendas, o fato de morarmos em cidades diferentes, ela no Rio de Janeiro, e eu em São Paulo, mas isso nunca foi exatamente uma questão. Até porque eu sempre estava por aqui e trabalhávamos muitas horas em encontros na casa dela, que eram verdadeiros laboratórios, onde eu ia me aprofundando na sua vida. Mudamos muitas coisas no livro nesses anos, porque assim como está na minha apresentação, digo: a Susana Vieira nunca é definitiva. Ela é a essência da dialética da vida, está sempre em transformação”.
Comecei a entender muito a Susana através da obra da Clarice Lispector, que tem um conto em que compara a mulher ao mar. E a Susana é uma súmula disso. Algo que vai para todos os cantos. Então, é como se eu pegasse uma ‘fatia’ do ‘mar,’ os pontos principais desse ‘mar’, e reunisse em uma escrita – Mauro Alencar
E arremata, ao revisitar o processo: “Por isso, foi extremamente demorada essa construção. Teve muito movimento. E tem a parte da exposição. Acho que quem se propõe a contar sua vida, precisa de muita coragem. E também, saber dosar a importância, o peso dos fatos. Acho que ela soube fazer isso muito bem. O que eu mais queria era dar voz à Susana nessas páginas e acredito que consegui. Esse livro é um brinde à vida dela. E é fascinante como você pode compreender alguém através da arte. Ferreira Gullar me dizia: “A arte transforma a dor em prazer estético”. Acredito que é isso que a Susana fez e tem feito na vida: passar pelos ‘espinhos’, mas sempre salientando que eles foram importantes para o seu crescimento, para abrir caminhos para outra coisa e para compreender melhor o ser humano”.
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