*Por Brunna Condini
“Estou com 77 anos, mas tenho uma vida tão dinâmica que, raramente, me lembro que tenho essa idade. O importante é a gente se cuidar, manter uma alimentação saudável, se exercitar. Eu me cuido muito bem, sou muito vaidosa… sou filha de Oxum, né?. Faço caminhada todo dia, estou doida que essa pandemia passe para me exercitar mesmo. Gosto de pilates, quero voltar a fazer… todo mundo está sonhando em voltar para a vida normal”, diz Zezé Motta em depoimento de abertura do filme ‘Prateados – A vida em tempos de madureza‘, de Valmir Moratelli e Libário Nogueira, que estreia no cinema de 17 a 27 de setembro em programação oficial do Festival Guarnicê de Cinema 2021, no Maranhão. E, a partir do dia 27, no Canal GNT, e, logo depois, no Globoplay.
Com mais de cinco décadas de carreira, Zezé tem vivido a passagem do tempo de forma produtiva. Além do filme, ela também estará na série inédita ‘Fim‘ e na segunda temporada de ‘Arcanjo renegado‘, e também será apresentadora do especial da Globo ‘Falas da vida‘, a ser exibido em 1º de outubro, no Dia Internacional dos Direitos da Pessoa Idosa. “Ser idoso hoje em dia é diferente. O velho era tratado como um trapo quando eu era pequena. Hoje, se você envelhecer com saúde, o que é fundamental em qualquer idade, você não se sente velho, não fica deprimido. E segue produzindo”, declarou recentemente a atriz, que também tem brilhado como uma requisitada garota-propaganda: desde 2020, ela estrelou mais de 30 campanhas publicitárias.
Tornando a experiência visível
O filme foi produzido durante a pandemia de Covid-19, período que colocou as pessoas mais idosas no chamado ‘grupo de risco’, a parte mais vulnerável da sociedade diante do novo vírus. “Foi muito difícil, ainda nem havia vacina disponível. Mas. ao mesmo tempo, era preciso ouvir os idosos no momento em que eram atacados pelo discurso de que a Covid era ‘só uma gripezinha que iria matar os mais velhos’. A produção também mostra o olhar de cada um deles sobre valores de uma etapa da vida invisibilizada pela sociedade”, diz Valmir Moratelli. “O filme reforça a necessidade de valorizar a ‘biblioteca humana’ que temos à disposição, quando se dá chance aos idosos falarem suas vivências. A doceira do subúrbio, a senhorinha que tem fantasias sexuais divertidíssimas, o ator da novela da Globo… Todo mundo tem uma história interessante”.
O diretor também explica a escolha do título: “Uma das pessoas ouvidas no filme, o Sebastião Januário, um artista plástico de 88 anos, diz que ser idoso é ser ‘prateado’, porque remete a um metal nobre e resistente. Adorei isso! Porque são valores opostos ao que se pensa dos idosos. É uma forma de ressignificar um período da vida. Além da prata lembrar o tom grisalho’. E acrescenta: “Entrevistamos diversas pessoas acima de 60 anos, que é a classificação para idosos no país. A ideia era mostrar a pluralidade. A mulher, o homem, o gay, o pobre, o negro… cada um tem sua percepção sobre a passagem do tempo”.
Moratelli fala ainda sobre a questão da desvalorização dos idosos no país. “É assim por uma questão econômica. Há uma ideia ocidental de que o corpo velho é inválido. Só se valoriza o corpo jovem, que produz e está no mercado. O sistema neoliberal reforça que os velhos precisam ser descartados, porque seriam um fardo orçamentário”, analisa, acrescentando: “A finitude é inerente ao ser humano, independentemente da idade. As pessoas tendem a associar a morte ao idosos, mas, na verdade, ela está próxima de todos. Acredito que os idosos falem mais de qualquer tema, inclusive da morte, sem tabu, sem medo de julgamentos alheios. Estão mais livres de certas amarras, entende? Falam abertamente sobre a sexualidade no filme. Há um, por exemplo, que conta que acabou de baixar o Tinder (aplicativo de relacionamento), comprou até celular para usar melhor o aplicativo e encontrar uma companheira. Tem outra que conta suas fantasias sexuais… Vale a pena assistir. Tem humor”.
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