Yohama Eshima é vilã em ‘Pedaço de mim’, top 10 Netflix, diz estar sendo odiada e fará projeto sobre família atípica


A atriz é casada há seis anos com o diretor e produtor Flávio Tambellini, com quem tem o pequeno Tom, de quase 4, que nasceu com uma condição rara, a esclerose tuberosa, e compartilha como a chegada do filho transformou a vida do casal, sua visão de mundo e divide: “Me tornei uma comunicadora da maternidade atípica, meu filho se tornou ponte para isso. Penso em fazer algum projeto artístico que fale dessa jornada”. Na série da Netflix, contracenando com Vladimir Brichta e Juliana Paes, a atriz celebra a personagem sem autocrítica e inconsequente, que promete dar o que falar. Para viver Cláudia, personal trainer e professora de Educação Física, que conhece os protagonistas da série Liana (Juliana) e Tomás (Vladimir) em um grupo de ciclismo, e se apaixona insanamente por ele, Yohama revela ter se inspirado na experiência de uma colega próxima que viveu um relacionamento similar.

*Por Brunna Condini

Em ‘Pedaço de mim‘, trama lançada na última sexta-feira (5), primeira produção brasileira da Netflix com ares de melodrama contemporâneo, e que já escalou o top 10 da plataforma, Yohama Eshima faz a manipuladora Cláudia, personagem que não lembra em nada a correta policial Yone de ‘Travessia‘ (2023). “É a minha primeira vilã. Já estou recebendo várias mensagens nas redes sociais das pessoas odiando a Cláudia. Ela já chegou impactando. Estou amando ser odiada (risos), porque isso quer dizer que a construção da personagem foi exatamente no lugar que queríamos. Ela é uma mulher sem escrúpulos, sem autocrítica e, de certa forma, sem amor próprio. Preserva essa paixão pelo Tomás (Vladimir Brichta) e se alimenta disso”, detalha sobre a personal trainer e professora de Educação Física, que conhece os protagonistas da série Liana (Juliana Paes) e Tomás, em um grupo de ciclismo.

E complementa. “É muito bom dar vida a alguém tão diferente de mim. Ninguém é só bonzinho e legal o tempo todo. Então, é muito bom olhar para a própria história e se questionar: quando cheguei perto disso que ela faz? Como essa personagem é o meu total oposto, foi um respiro de mim e um mergulho nela. Foi um descanso da minha vida para embarcar na vida dessa mulher obstinada, sem grandes preocupações, mas que sofre e faz de tudo por amor”.

A atriz é casada há seis anos com o diretor e produtor Flávio Tambellini, com quem tem o pequeno Tom, de quase 4, que nasceu com uma condição rara, a esclerose tuberosa. “Me tornei uma comunicadora da maternidade atípica. Pelo fato de eu ser atriz, artista, e por viver essa aventura que é ser mãe atípica, senti muita vontade de me comunicar com outras mulheres que vivem o mesmo. E ajudar a desbravar caminhos, com novas trilhas, para se descobrir novos remédios, por exemplo, novas maneiras de ter uma vida digna. Ter informação é uma preciosidade, aproxima de terapias, tratamentos, medicamentos, diagnósticos mais acertados…isso me fortaleceu, porque meu filho tem sido ponte para essa comunicação também. Encontrei um propósito maior para a minha atriz. Penso em fazer um projeto artístico que fale dessa jornada da maternidade, dessa família atípica”.

Yohama Eshima faz primeira vilã em 'Pedaço de mim' da Netflix, revela que já está sendo odiada e relata a vida hoje como uma mãe atípica (Divulgação)

Yohama Eshima faz primeira vilã em ‘Pedaço de mim’ da Netflix, e revela que já está sendo odiada (Divulgação)

Pedaço de mim‘ conta a história de Liana, que após descobrir uma traição do marido, Tomás, resolve sair para se divertir e sofre abuso sexual, acontece então um caso raro de superfecundação heteroparental: ela fica grávida ao mesmo tempo de Tomás e do abusador, Oscar (Felipe Abib). Ao pensar em sua personagem, que faz de tudo para atrapalhar o casal, Yohama diz que nunca viveu nada parecido, mas revela ter se inspirado em alguém próxima para sua composição. “Uma colega foi a minha inspiração. Ela passava por uma situação muito parecida com a da Cláudia, estava completamente apaixonada por um cara casado, com filhos. E ficava me dizendo que ia construir uma casa, uma vida com ele, e eu via nela, assim como vejo na Cláudia, uma neurodivergência. Era perceptível que não estava conseguindo conceber a realidade das coisas, o que faz com que agisse dessa forma muito intensa,  passando dos limites e passando daquilo que é aceitável”.

Me inspirar na história de uma colega e trazer isso para a criação, me ajudou a viver a Cláudia, porque nunca tive nenhum tipo de experiência em relacionamentos desse tipo. Não me reconheci nesta história, mas foi muito importante regatar sentimentos que fossem parecidos. Somos seres humanos e temos tudo dentro de nós. A arte também é esse caminho de acesso e cura – Yohama Eshima

Yohama Eshima com Juliana Paes no lançamento da série 'Pedaço de mim' (Foto: Reprodução/Instagram)

Yohama Eshima com Juliana Paes no lançamento da série ‘Pedaço de mim’ (Foto: Reprodução/Instagram)

Família atípica

Yohama compartilha como a chegada do filho transformou a vida do casal. “Mudou tudo. Na verdade, vem mudando tudo para melhor, e também é uma oportunidade de olharmos com mais atenção a nossa conexão de casal. O tempo que temos hoje não é mais o mesmo, já não conseguimos sair como antes. Mesmo tendo uma rede de apoio, ainda é muito difícil, porque temos uma demanda grande com o Tom. Então, acho que existe esse desafio constante de nos conectarmos. E não como antes, porque a questão não é voltarmos a sermos o que éramos. Agora temos que entender como é a nossa relação, enquanto pessoas novas que nos tornamos, porque depois do nosso filho, somos outros”.

A atriz Yohama Eshima, o filho Tom e o marido Flávio Tambellini (Foto: Reprodução/Instagram)

A atriz Yohama Eshima, o filho Tom e o marido Flávio Tambellini (Foto: Reprodução/Instagram)

Sobre cuidado, amor e esperança

Com uma rotina atenta de cuidados com o filho desde o seu nascimento, ela nos atualiza sobre a vida de Tom hoje. “Ele está muito bem. Sua saúde é maravilhosa, e em relação à condição que tem, amo dizer que estamos evoluindo, apesar do dia a dia desafiador. Muita gente diz: “Ele vai melhorar, vai ficar bem”. A verdade, é que apesar da sua condição atípica, Tom está bem. É uma condição que exige outros cuidados, mas apesar disso, ele nunca tem uma gripe, nunca fica mal, está sempre bem. Gosto de ressaltar isso,  porque às vezes as pessoas ainda lançam um olhar de pena em sua direção. Meu filho é maravilhoso e ponto, não com o ‘porém’ que acompanha a fala de alguns”.

Aqui não temos lamentação. Trabalhamos sempre em uma energia de esperança, de amor, de cuidado e isso nos motiva. Aprendi a viver o momento presente, sem sofrimento. Hoje meu filho está ótimo, e trabalhamos para que ele tenha um amanhã maravilhoso. Mas tudo isso é no agora, sem pensar muito no futuro. Isso faz toda a diferença. Não fico pensando que falam que muitas crianças com esclerose tuberosa não andam, não falam. Não foco nisso. Faço o melhor pelo meu filho hoje, que é o que posso fazer – Yohama Eshima

A atriz Yohama Eshima e o filho Tom (Foto: L.A. Foto Estúdio)

A atriz Yohama Eshima e o filho Tom (Foto: L.A. Foto Estúdio)

A atriz fala ainda sobre o capacitismo, tão presente em nossa sociedade. “Todos nós somos capacitistas, porque nascemos em uma era em que pessoas com deficiência são vistas como aberrações, como incapazes, como pessoas que não podem, não cosneguem estar circulando. Falo que eu sou uma capacistisma em desconstrução, para que todo mundo entenda que temos isso dentro de nós e precisamos transformar. Até uma mãe com um filho com deficiência. Recentemente, postei um vídeo do Tom andando de skate, e lembro que achei que ele não fosse conseguir. Achei que o cara lá do skate não ia conseguir prendê-lo direito, e por isso ele não conseguiria se manter em pé, porque ele é hipotônico, não consegue segurar o pescocinho, não consegue firmar as pernas. Só que quando eu cheguei lá e o rapaz começou a colocar o Tom no skate e tinha toda uma estrutura, comecei a chorar. Fiquei muito emocionada porque vi que eu tinha duvidado da capacidade do meu filho andar de skate, e que na verdade, não posso duvidar da sua capacidade em nada, porque ele sempre pode me surpreender. E quando eu duvido da sua capacidade, subestimo o seu potencial. Eu subestimo sua vontade e sua garra”.

Falar que eu sou capacitista em desconstrução é importante para trazer todo mundo para uma realidade, de que não é fácil mesmo deixar de ser capacitista. É um desafio, precisamos combater isso e precisamos assumir. Estamos em tempos em que é preciso assumir. Vivemos a partir de uma construção social e podemos reconstruí-la de uma forma diferente – Yohama Eshima

"Encontrei um propósito maior para a minha atriz. Penso em fazer algum projeto artístico que fale dessa jornada dessa maternidade, dessa família atípica" (Foto: Vera Loik)

“Encontrei um propósito maior para a minha atriz. Penso em fazer algum projeto artístico que fale dessa jornada dessa maternidade, dessa família atípica” (Foto: Vera Loik)