Yasmin Martins Mendes protagoniza filme com tônica na saúde mental e diz: ‘As pessoas acham que é mimimi’


A atriz fala sobre a experiência de protagonizar seu primeiro filme ‘Silencio’, com lançamento previsto para dezembro deste ano e conta que estudou durante 8 meses para poder compreender todos os aspectos físicos, mentais e comportamentais da doença que é caracterizada pelas chamadas ‘crises de pânico’. A ligação de Yasmin com a conscientização sobre a saúde mental é anterior ao longa. Antes de exercer a carreira de atriz, começou como modelo aos 16 anos, em 2013, na qual teve contato com outra realidade de pessoas que conviviam com esse tipo de desordem. “Sempre tive um cuidado muito grande com as pessoas. Vi muita menina sofrendo e era horrível o que elas me descreviam sobre as sensações. Umas sofriam com a depressão, outras ansiedade e que evoluíam para outros distúrbios. Era angustiante e tentava ajudar de alguma forma”

*Por Bell Magalhães

Após temporada fora do Brasil, a atriz Yasmin Martins Mendes retorna às telas protagonizando o seu primeiro filme, ‘Silencio’. Dirigido por Diego Esteve, o longa aborda a vida de Sara, que sofre com a Síndrome do Pânico, um distúrbio psicológico que acomete cerca de 5 milhões de brasileiros. A história foca em uma série de alterações na vida da personagem, desde o roteiro no qual nunca termina por insegurança até a relação com amigos e o namorado Pedro, vivido por Lucas Tier, que, aos poucos, vai se transformando em um parceiro abusivo. Yasmin conta que estudou durante  oito meses para poder compreender todos os aspectos físicos, mentais e comportamentais da doença que é caracterizada pelas chamadas ‘crises de pânico’, no qual o paciente vivencia a sensação de perda do controle corporal, causando medo, desespero e evoluindo até para sintomas físicos como taquicardia e sensação de sufocamento.

Yasmin Martins Mendes protagoniza filme com tônica na saúde mental (Reprodução Instagram)

Yasmin Martins Mendes protagoniza filme com tônica na saúde mental (Reprodução Instagram)

“Consultei psicólogos, psiquiatras, neurologistas, livros de autoajuda, absurdos de pessoas mal informadas e até a espiritualidade, porque esses são os tipos de interferência que alguém sofre quando procura entender mais sobre doença. Muitas pessoas acham que essa condição é ‘mimimi’, por isso procurei saber o porquê de elas terem essa mentalidade. Naquele início, estávamos descobrindo quem era a Sara e se ela levava em consideração esse tipo de pessoa que diz que o que ela sente é besteira, que ela precisa ficar feliz, e que quando estiver triste, é só para colocar um sorriso no rosto, mas sabemos que não é assim tão fácil”, conta, no que acrescenta: “Se ela jogar no Google, ela vai ter um monte de interferências, então o meu objetivo era imaginar no que ela acreditaria. A Sara acaba se convencendo de que não tem nada e acaba descontando isso no trabalho, no qual ela fica super focada na tentativa de colocar o que ela está passando embaixo do tapete”.

A artista ainda reforça que essa e as demais questões abordadas no filme ainda são tabus e devem ser debatidas por meio da arte, mas sempre atentos para que quem está conduzindo o papel o faça de maneira responsável: “Vejo muitas pessoas pegando papéis sem o cuidado com a mensagem e a história do personagem. Para mim, isso agrava o fato de que ainda é muito difícil conversar sobre saúde mental. As pessoas não falam sobre, não sabem o que têm, não buscam ajuda, não se tratam e acaba acontecendo essas tragédias”. 

Pôster de ‘Silencio’: (Divulgação)

A ligação de Yasmin com a conscientização sobre a saúde mental é anterior ao longa. Antes de exercer a carreira de atriz, começou como modelo aos 16 anos, em 2013, e chegou a trabalhar na Itália, Estados Unidos, Espanha, França, com marcas como Emilio Pucci, Havaianas, La Roche Posay, Maybelline, Sephora, L’Oréal e Joico. A artista conta que foi durante esse tempo que teve contato com outra realidade de pessoas que conviviam com esse tipo de desordem. “Sempre tive um cuidado muito grande com as pessoas. Vi muita menina sofrendo e era horrível o que elas me descreviam sobre as sensações. Umas sofriam com a depressão, outras ansiedade e que evoluíam para outros distúrbios. Era angustiante e tentava ajudar de alguma forma”. Yasmin justifica que a entrada nas passarelas a fez perceber quão fundo a indústria pode afetar o psicológico de meninas mais jovens que não estão preparadas para a pressão e críticas do mundo da moda: “Comecei a minha carreira um pouco tarde para o padrão, então eu era bem decidida e mais confiante do que as demais, que ainda estavam se descobrindo. A indústria da moda nem sempre é agressiva da forma com que a mídia fala, mas para uma criança de 14 anos levar um não só por conta da aparência pode agredir muito o psicológico. Até a pessoa descobrir que não é nada pessoal, que não é sobre uma ser mais apropriada para determinado trabalho, as meninas acabam duvidando de si mesmas e construindo um lugar na própria mente que não é nem um pouco seguro”, analisa.

"Vi muita menina sofrendo e era horrível o que elas me descreviam sobre as sensações" (Reprodução Instagram)

“Vi muita menina sofrendo e era horrível o que elas me descreviam sobre as sensações” (Reprodução Instagram)

Das passarelas às telas mundo afora

A mudança de área ocorreu em 2019, quando estava morando na Itália e foi convidada pelo ator e diretor Michael Bay, que a escolheu para fazer uma participação especial no filme da Netflix, ‘Six Underground’ (‘Esquadrão 6’). Ao voltar para o Brasil, foi chamada para fazer um comercial e precisava de um registro profissional de atuação. Por conta dessa situação, uniu a necessidade com o desejo: “Pensei ‘já que estou aqui para fazer o registro, vou fazer um curso para atuar e fazer jus a ele’ (risos)”. Durante o curso Escola de Atores Wolf Maya, no Rio de Janeiro, viu que existia uma ligação entre ser modelo e ser atriz, e ambas as profissões eram muito próximas. “Quando se é modelo, você precisa interpretar o que o estilista quer. Nem sempre é o seu estilo e você acaba virando outra pessoa para imprimir o que aquela pessoa está pedindo. A maior e principal diferença é que ser atriz exige uma exposição de emoções, de atitudes e de portas que fechamos ao longo da vida e são escancaradas com a atuação”, conta.

"Quando se é modelo, você precisa interpretar o que o estilista quer. Nem sempre é o seu estilo e você acaba virando outra pessoa" (Foto: Caleb & Gladys)

“Quando se é modelo, você precisa interpretar o que o estilista quer. Nem sempre é o seu estilo e você acaba virando outra pessoa” (Foto: Caleb & Gladys)

Depois de concluir os estudos em artes cênicas, Yasmin se mudou para Los Angeles para estrelar ‘The Interpretation of Dreams’ (2020), do diretor norte-americano Ivan Francis Wilder. Ainda em Los Angeles, participou de seletivas para o canal HBO, porém, com o início da pandemia de Covid- 19, as produções foram paralisadas e Yasmin decidiu voltar para o Brasil, onde participou da novela ‘Gênesis’, da Record TV, fora o ‘Silencio’. Tendo uma experiência considerável no audiovisual fora do país, Yasmin diz que a principal diferença que notou quando voltou para o Brasil foi a desvalorização do cinema nacional. “Não sei se o brasileiro não valoriza ou se existe uma supervalorização do que vem fora do país. Nos Estados Unidos, a vida deles é voltada para o cinema e do que eles produzem, e no Brasil, existe uma pressa ou exigência na rapidez da entrega por conta da cultura da novela, do capítulo diário, o que acaba atropela o processo de concepção da obra.  A pós produção também é algo que não é muito explorado nas produções nacionais, tanto de áudio como na parte de colorir um filme”. 

“Ser atriz exige uma exposição de emoções, de atitudes e de portas que fechamos ao longo da vida e são escancaradas com a atuação” (Foto: Diego Mello)

Outra crítica da atriz é o aspecto competitivo entre produtores independentes e do público, que prefere dar atenção aos festivais internacionais do que os do próprio país. “Andei percebendo que as pessoas têm o discurso de ‘apoie o audiovisual  brasileiro, mas desde que seja o meu’. Vemos pessoas falando disso, mas estão apoiando filmes mainstream, que existe toda uma empresa por trás e que não sofrem tanto para emplacar”, pondera, no que acrescenta: “O público brasileiro não fala sobre o Kikito, a estatueta do Festival de Cinema de Gramado, mas ele fala o tempo inteiro sobre o Oscar, que é um prêmio internacional. A vontade de ser escolhido pelo festival ‘gringo’ acaba  fazendo com que o público esqueça de olhar as próprias raízes”. Apesar das críticas, Yasmin espera o melhor “Espero que paremos de competir para começar a apoiar uns aos outros. Temos que sentir mais orgulho do Brasil do que das pessoas que ficam famosas dentro do país”. 

"Temos que sentir mais orgulho do Brasil do que das pessoas que ficam famosas dentro do país” (Reprodução Instagram)

“Temos que sentir mais orgulho do Brasil do que das pessoas que ficam famosas dentro do país” (Reprodução Instagram)

A artista, que já acumula oito trabalhos como atriz em sua carreira, considera que ainda está se descobrindo na profissão e enquanto espera ‘Silencio’, Yasmin seus planos na atuação estão a todo o vapor. Ela nos revelou que tem mais uma produção a caminho e que planeja sair do Brasil mais uma vez: “Estou em um processo de pré-produção de  uma série que tem a possibilidade de ir para a Netflix, mas ainda não tem nada confirmado. Em setembro voltarei para os EUA para divulgar o filme e meus outros trabalhos, como as gravações dessa série. Vou mergulhar no audiovisual!”, brinca. Estamos ansiosos, Yasmin!

Abaixo, o trailer de ‘Silencio’: