*Por Thaissa Barzellai
No jogo da vida da atriz, cantora e escritora Yasmin Gomlevsky, as cartas que prevalecem são a do amor próprio e da liberdade. Inspirada pelos ensinamentos espirituais do tarô, uma relação que a trouxe uma nova perspectiva sobre a vida e as relações humanas, a artista encontrou na música um lugar para abrir o coração e expor para o público, que a conheceu nas telinhas em trabalhos como ‘‘Malhação: Sonhos” e ”Bonsucesso”, o que há de mais caro para ela: a sua verdade. No EP ”Jazz na 3D”, seu primeiro trabalho musical totalmente autoral lançado em dezembro com seis faixas e disponível em todas as plataformas digitais, Yasmin se desnuda em canções que exploram todas as nuances do processo de libertação, autoconhecimento e amadurecimento que viveu após um término de namoro. “Esse disco saiu direto da minha alma, onde expus minhas dores afetivas e iniciei um caminho de cura do coração”, conta a cantora que não tem medo de expor suas angústias pessoais.
Como boa sagitariana, Yasmin está em uma constante busca pelo instigante e a música era um âmbito ainda pouco explorado por ela. Apesar da experiência em teatro musical e até mesmo em bandas as quais integrou na adolescência, a vontade para mergulhar no universo musical só se materializou após a novela ”Bonsucesso”, quando a atriz sentiu que era o momento de arriscar e mesclar a sua escrita com a musicalidade. Enquanto cantora, Gomlevsky espera poder tocar as pessoas de forma íntima e fazê-las refletir sobre as letras e os sentimentos que a composição possa provocar. “Gostaria que as pessoas se abrissem e pensassem mais nelas. A música causa um transbordamento muito puro. Ela acessa o público e a mim em um lugar muito inconsciente, muito instintivo, porque é o sentimento bruto que está ali, não está passando por uma racionalização de palavras. A música, o som, tem essa capacidade de tocar o outro que é muito forte.”, diz.
Para viver essa primeira jornada, Yasmin incorpora Jazz, uma personagem que representa a convergência entre o seu aprendizado espiritual acerca dos conceitos de consciência, dimensão e vibração – que, segundo a doutrina, são essenciais para a existência humana e sua evolução -, e a sua individualidade. Em sua narrativa, Jazz é uma extraterrestre oriunda da quinta dimensão, ou seja, um estado de consciência que vem ao Planeta Terra para compartilhar as ideias dos seres mais elevados através da Yasmin. Para a intérprete, a personagem não é necessariamente um alter ego, mas sim a personificação do que se passa no seu íntimo, um espaço onde ela consiga se levar além das leis humanas. “Eu tenho vontade de me retirar das caixinhas, então decidi me dissociar de tudo de uma vez para que eu possa exercitar um pouco de cada coisa que eu faço. Criei a Jazz como uma forma de poder continuar me expressando como atriz e Yasmin. Ela permite que eu expresse os meus sentimentos em um estado muito essencial e verdadeiramente meu”, comenta a atriz que tem como referência David Bowie e seu Ziggy Stardust, e Beyoncé e sua Sasha Fierce.
Com influências do estilo groove-swing-hart, o primeiro single “Perfume do Meu Ex” traduz, em contraste com a fossa das outras faixas, a confiança e a vontade de viver novas experiências, uma fase de liberdade na qual toma-se as rédeas da própria trajetória. “Perfume é sobre uma reconexão com nós mesmos, sobre um momento onde entendemos que o nosso poder não está na mão de ninguém e que podemos cuidar da gente sem precisar projetar uma necessidade de carência afetiva no outro, de poder ficar bem em uma solitude e aproveitar o que de bom cada relação, seja como for, pode oferecer para a gente”, reflete a atriz que vive um momento de abraçar o que há de mais simples na vida. Agora, Yasmin, que está solteira há três anos, tem buscado colocar em prática todos os aprendizados e prioriza, acima de tudo, a sua integridade. O que ela quer em um relacionamento é reciprocidade e calmaria.
“Sou uma romântica e já me embolei muito por isso, mas busco hoje relações recíprocas e reais, busco ver de fato o que está se apresentando para mim. Gosto de pessoas que andam a metade do caminho para que eu possa andar também. Nós nos acostumamos a andar o caminho inteiro sem reparar se o outro está vindo junto ou se nós estamos fazendo esse movimento. Eu gosto de gente alto astral, de quem tem bom humor, que consegue trocar comigo em um lugar leve, que me permite ser eu”, reflete a atriz que faz questão também de praticar a autocrítica. “Eu ainda me deparo com situações onde preciso conversar comigo, mas isso é o que eu considero aprendizado: que é de olhar para mim mesma nas relações e tentar entender ao máximo o que é real e não me permitir criar uma história na minha cabeça”, reflete.
Embora o disco seja um veículo para a atriz expressar as suas experiências, Yasmin não deixa de usar a plataforma para expor o seu lado politizado. No clipe de Perfume, por mais sutil que seja, ela evoca o debate racial ao retratar um relacionamento inter-racial. “Sempre que eu posso, em todos os meus trabalhos, eu busco o máximo de diversidade possível. Nós, enquanto brancos, sempre tivemos espaços, então eu considero minha responsabilidade social, mais do que uma obrigação, naturalizar ao máximo essas questões”, declara. Dirigido por Saulo Segreto, Yasmin e Caio Giovani vivem um encontro sexual, cujo foco é apenas o puro prazer e a troca entre os dois. Em parceria com o diretor, a cantora priorizou igualmente o nível de exposição dos corpos em cena, a fim de evitar que, embora o ator seja um homem negro padrão, a representação caísse em um lugar de hipersexualização do corpo preto.
Para a atriz, a quebra desses estigmas e estereotipizações está mais do que tardia: é preciso, mais do que nunca, repensar não apenas essas relações como também a presença de negros em posição de destaque — neste caso, a do galã. “Até pouco tempo atrás quando pensávamos no galã, a figura que vinha era de um cara branco, padrão. É importante quebrar com essa ideia e de fato reconhecer que o cara negro é muito mais bonito do que muitos brancos que conhecemos. É preciso incluir e sempre tentar trazer para perto essa discussão depois de tanto tempo de racismo, preconceito, de exclusão”, afirma.
O que as cartas dizem sobre o futuro?
Depois do sucesso da Thaissa, em ”Bonsucesso”, Yasmin Gomlevsky está pronta para os novos rumos da sua carreira de atriz. Instigada pelo ímpeto da subversão, Gomlevsky, que já teve a oportunidade de viver uma versatilidade em termos de personagens, tanto no teatro quanto no audiovisual, quer explorar ainda mais a complexidade humana nos seus próximos trabalhos. Assim como muitas atrizes, Yasmin almeja o sonho de viver uma vilã, uma figura que, principalmente na televisão brasileira, o público ama odiar. “De uns tempos para cá, a vilã foi humanizada. Nós não vemos só o lado negativo, mas também o lado onde ela se arrepende e sofre, vemos a dor dela. Espero ter a oportunidade de fazer papéis onde eu possa explorar a vulnerabilidade, maldade e pureza, onde o público possa ver um trabalho 360. Gosto de profundidade e de entregar o máximo de camadas possível”, conta a atriz que se prepara para retornar aos palcos.
Sem poder dar ainda muitos detalhes, Yasmin Gomlevsky já está em período de ensaios para uma nova peça que consagra mais uma parceria dela com o irmão, o ator e diretor Bruce Gomlevsky. Prestes a lecionarem uma oficina teatral de verão, que acontece do dia 31 de janeiro a 4 de fevereiro, os dois já trabalharam juntos em outras ocasiões, dentre elas o espetáculo ”Tartufo”, onde Bruce dirigiu a irmã. “Admiro muito o Bruce e acho ele um dos melhores diretores com quem já trabalhei. Ele é muito bom porque ele é um bom ator e, portanto, tem um olhar genial para a cena”, diz. Para Yasmin, que foi influenciada a entrar nas artes cênicas aos 13 anos pelo irmão, a parceria vai além de um laço familiar; é um encontro profissional onde as ideias se completam e se encontram. “Nós conversamos bem no trabalho, nos respeitamos, nos admiramos, gostamos das ideias um do outro e da forma que cada um trabalha. Procuramos separar ao máximo possível a nossa relação fraterna do profissional, mesmo que a gente não seja 100% bem-sucedido (risos).”
Enquanto os novos projetos ainda estão na incubadora, Yasmin Gomlevsky está tendo a oportunidade de lembrar onde a história dela na televisão brasileira começou. Foi em ”Malhação – Sonhos”, em reprise até o fim de janeiro na Rede Globo, que Yasmin teve a oportunidade de mostrar o seu trabalho nacionalmente. Na pele de Joaquina, uma atriz aspirante, Yasmin conquistou não apenas o público como também descobriu um novo amor: a câmera. “Como eu cresci no teatro, tinha um pouco de medo do que seria fazer televisão, mas, mesmo com o meu receio, a Malhação sempre esteve no meu imaginário. Em Malhação, descobri que era um trabalho como qualquer outro, mas que me trazia outros níveis de projeção e reconhecimento. Atuar para a câmera é algo que eu gosto muito”, conta a atriz que depois atuou em folhetins como ”Liberdade, Liberdade”, ”Novo Mundo” e ”Tempo de Amar”.
Em terrenos mais pessoais, a atriz segue na saga do autoconhecimento e da constante evolução, em um exercício diário de questionamentos e descobertas sem pressa pelo que está por vir e sem qualquer pretensão de ser presciente. Sempre pensante, Yasmin não esconde a sua posição política nas redes sociais e, depois de dois anos de pandemia e na iminência das eleições presidenciais, as previsões dela para o Brasil não são definitivas, mas, definitivamente, são esperançosas. “Sempre fiquei bastante chocada com a desumanidade, principalmente do atual presidente, e acho que vamos levar muito tempo como sociedade para entender o que é estar vivo e quais as nossas responsabilidades. Não acho que nenhum político seja santo, mas espero que a maioria das pessoas que votaram mal nos últimos tempos possam ter se arrependido e escolham alguém que esteja minimamente alinhada com a ideia de cuidar do povo, de dar tudo o que precisamos para sobreviver e viver”, declara. Que as cartas lhe escutem, Yasmin!
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