*Por Brunna Condini
Estar em contato direto com a natureza foi uma válvula de escape para aqueles que sentiram na pele os efeitos da pandemia. Nunca valorizamos tanto essa experiência. E esse ensaio exclusivo com a atriz e preparadora de atores Yana Sardenberg, que estará na série ‘De volta aos 15’, com estreia em 25 de fevereiro, na Netflix – ao lado de Klara Castanho, Maisa Silva e Camila Queiroz -, nos transporta para a sensação de respiro e leveza na Praia da Joatinga, no Rio. Durante nosso bate-papo com a atriz lembramos que a TV Globo anunciou o cancelamento da novela teen Malhação, depois de 27 temporadas, e que será substituída por um novo programa que está sendo alinhavado pela emissora.
Com 20 anos de carreira – ela começou ainda criança no programa Gente Inocente, e também passou pela TV Globinho, no início dos anos 2000, foi em ‘Malhação: Seu Lugar no Mundo’ (2015), que ela viveu uma personagem do tipo inesquecível. “Ter atuado em ‘Malhação‘ foi muito importante. Interpretei Carla, mãe solo, e, com o alcance da novela, debatemos a questão da maternidade para as jovens. Uma responsabilidade gigantesca. Eu ainda não sou mãe, mas existe um desejo forte”, revela a atriz de 31 anos.
Yana comenta sobre a relevância do formato na comunicação com o público jovem: “Acho que estamos vivendo um momento de mudança tanto de formato, quanto de público no audiovisual. Representatividade é importante e o mercado precisa estar mais atento, sim, e que bom que essa questão está sendo levantada, defendida e posta em prática. Acredito que o diálogo com o público jovem ou com qualquer outro público se dá a todo momento na TV ou em qualquer outra plataforma”.
Preparação de atores
Dois lados de duas moedas bem diferentes e complementares. Para além da carreira de atriz (sua primeira paixão), ela também é preparadora de elenco, ofício que vem ganhando cada vez mais espaço em sua vida e que será transformado em livro. “Minhas aulas são todas as experiências da minha vida, da vivência como atriz. Trabalho no audiovisual desde os 8 anos, passei por muitos preparadores. Comecei a desenvolver uma visão. Não gosto de chamar de método, a não ser que se veja como modo de fazer. E o livro é sobre esse processo. Já preparei atores para séries da Netflix e novelas”, conta.
“Me iniciei na preparação com a Mareliz Rodrigues, ela dá aula para crianças, tem uma escola e até hoje é preparadora da Globo. Dei aula em sua escola durante três anos. E, aqui, em São Paulo, onde estou morando, comecei a trabalhar com adultos. Aprendo muito quando dou aula. Esse viés da preparação de elenco é forte em mim. Também estou fazendo pós-graduação em Arterapia e Psicologia Junguiana. Não paro de estudar, porque os dois ofícios pedem isso”.
Ano passado, a atriz Denise Weinberg criticou o método de Fátima Toledo, definindo-0 como abusivo. Ela é preparadora de vários atores, incluindo Wagner Moura, com quem já trabalhou em ‘Tropa de Elite‘ e, mais recentemente, em ‘Marighela‘. O depoimento gerou repercussão e estimulou a criação de um manifesto assinado por mais de 200 profissionais de audiovisual, em apoio à Denise. Além disso, suscitou um debate em torno de métodos de preparação de atores. “Fiz uma preparação com ela há muito tempo, eu era muito nova. Foi intenso, de exaustão, mas não lembro de ser abusiva. Acredito que o preparador de elenco é um condutor, um estimulador. Ele te ajuda nos caminhos. Isso é o bonito da profissão”, opina Yana.
“Mas penso o seguinte: de que adianta fazer bonito na hora e ficar seis meses mal depois? Tem muita gente que trabalha na dor, porque o resultado tende a ser mais rápido. É bom serem levantadas discussões para vermos que têm coisas que não são mais toleráveis. Hoje paramos para avaliar que nossa saúde mental é mais importante que tudo. Quando eu era criança, traziam muito a memória emotiva para a cena, por exemplo, e eu buscava as minhas experiências pessoais. Hoje, não indico, acho perigoso. Prefiro trabalhar em cima dos métodos”.
E completa: “Acho um modo de buscar que pode ser pesado, até porque o ator já envelhece mais cedo que as outras pessoas. Sério. São muitas vidas em uma vida só. Então prefiro o método. Precisamos nos estimular, mas de uma forma que não machuque o ator. Ele é importante pra contar a história”.
Yana revela ainda, que tem planos como roteirista: “Quero criar meu próprio caminho. Sempre escrevi, mas sobre coisas da minha vida, uma espécie de diário aberto. Agora tenho uma história engatilhada, para escrever profissionalmente. Minha avó era cantora de rádio, cantou com o Ary Barroso. Tem uma história linda de vida, e quero montar esse roteiro no teatro. Também posso adaptar para uma microssérie no streaming. Estou aberta. Minha avó sempre me apoiou, vai ser maravilhoso fazer essa homenagem e ver uma outra versão minha em cena”.
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