Quando um dos mais respeitados diretores do Brasil se junta a uma das grandes atrizes de uma geração, o resultado só poderia ser o que é: o Teatro Nathália Timberg, que abre suas portas nessa sexta-feira, 22 em grande estilo, com a peça “33 Variações”, de Moises Kaufmann. A ideia do espetáculo de estreia foi sugerida pela própria Nathália, que também faz parte do elenco, ao lado de nomes como o de Wolf Maya – que também assina a direção – a pianista erudita Clara Sverner e os atores Tadeu Aguiar, Lu Grimaldi, Flavia Pucci, Gil Coelho, Gustavo Engracia e mais dez estudantes de arte dramática que se revezam em pequenos papéis. “Nathália quem trouxe a ideia da peça e achei apaixonante. Ela fez a tradução. Brinco que trabalhamos juntos e eu sou o peão, que construiu o teatro, e ela é a musa, que veio com a criação”, contou Wolf.
Erguer um teatro em tempos de crise, quando a cultura e a arte talvez sejam a primeira coisa a ser cortada do orçamento, é um projeto audacioso. Wolf Maya sabe disso. “Sim, é um desafio construir um teatro no Brasil no momento que estamos vivendo economicamente e culturalmente. Fazê-lo na Barra da Tijuca, que é um bairro com pouca tradição, aumenta esse desafio, e construir uma peça que fuja do padrão de comédia banal e falar das 33 variações de Bethoveen com um grande elenco de 17 atores é outro grande desafio, mas o que será da vida dos artistas sem desafios? Existe a possibilidade de vida inteligente, de uma convivência com a música que não chega através da rádio, um texto que não chega pela televisão. A proposta de abrir com esse espetáculo é porque ele tem o tamanho do nosso sonho e o que podemos fazer pelo nosso país, nessa época, se não arriscarmos?”, questionou o diretor, que sabe que os teatros são imóveis deficitários, já que atendem uma demanda de finais de semana, mas, contornando isso, construiu seu espaço ao lado da escola que comanda com pulsos firmes. “Essa estrutura associada à escola é ótima, porque saímos da limitação de sexta, sábado e domingo e ocupamos, lindamente, o palco todos os dias. Esse teatro é construído por gente de teatro! Esse é o grande ganho. Queremos trazer os jovens! Tirar da mediocridade e oferecer evolução cultural, emoção teatral”, destacou.
E ele não tem medo do desafio: “Viva a resistência. Sou dos anos 70, sempre vivi me batendo e esse passo – abrir um teatro em época de crise – talvez seja o mais importante dos momentos de resistência que já vivi. Mas só criando espaços e correndo riscos somos mais fortes. As associações de artistas de forma clara e honesta são o que transforma o mundo”, disse ele, que, completamente focado no novo projeto, está de férias da televisão. Ainda assim, a pergunta para um especialista era inevitável: em tempos de audiência difícil, será que a fórmula folhetim esgotou, Wolf? “Eu tenho convivência com a minha audiência, não sei de toda televisão brasileira, sei que a de ‘I love Paraisópolis’ foi surpreendente. Tive grandes audiências que me brindaram nos meus projetos em diversos horários. Fazer isso, para mim, é muito agradável. Eu convivo bem, adoro criar e produzir na televisão brasileira”, declarou.
O veículo das massas fascina o diretor, que gosta da possibilidade de falar com classes que tem menos acesso à cultura. “A tradução da televisão é ampla. Não tenho muita certeza do público que me assiste, tenho que atingir a todos. A televisão é uma comunicação de recursos simples para quem tem pouco acesso a outros meios, então tenho que chegar a eles, me adaptar, trazê-los para o universo da arte, informação. Adoro do processo da comunicação via televisão com as classes C, D… enfim, com essa convivência que é o grande Brasil”, afirmou. E ele tem planos de fazer o mesmo em sua nova casa, seu teatro. “Quero que também haja essa possibilidade aqui, mas isso só acontece se abrirmos mais teatros, tornarmos mais acessíveis. No Nathália Timberg nós temos um mezanino de custo barato pra quem quer conhecer, frequentar. Estamos abertos”, ressaltou.
É inegável: a televisão, com sua amplitude, ainda atua como agente esclarecedor em meio a uma sociedade conservadora. Na opinião de Wolf Maya, o papel da arte é justamente esse: falar de todo tipo de tema – mesmo os considerados polêmicos que, eventualmente, podem sofrer rejeição. “A arte é onde podemos falar de forma consistente, íntima e particular de assuntos que a sociedade contemporânea vive e convive. É ai que está a vitalidade da formação artística contemporânea e onde eu foco minha energia”, entregou. Sorte nossa.
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