*Por Brunna Condini
Prazer, Thayla Luz. Artista da nova geração, aos 24 anos ela vive seu segundo papel na TV, mostrando que tem personalidade e posição questionadora diante da vida. Mulher do seu tempo e consciente do poder feminino, Thayla empresta esses atributos à sua personagem em ‘Além da Ilusão‘, novela das 18h da Globo. Na pele de Silvana, uma das muitas mulheres que lutaram na Resistência Italiana – movimento armado que se deu durante a Segunda Guerra Mundial, contra o governo fascista de Benito Mussolini e a ocupação da Itália pela Alemanha nazista -, a atriz destaca que a trama faz uma grande viagem ao passado, mas em sinergia com fatos que podem muito bem estarem no nosso presente. “Infelizmente, em nosso país o presente quer repetir o passado. Aliás, tem repetido. Temos que ficar atentos, nos posicionar. Muitas lutas ainda precisam de resistência por aqui, como as pelo fim das desigualdades: social, racial, econômica, de gênero, são tantas!”, observa.
E acrescenta: “Se hoje temos uma sociedade completamente machista e desigual, naquela época existiam histórias inimagináveis. Avançamos muito. Conseguimos o sufrágio feminino, e outras vitórias, mas ainda falta muito a conquistar. Me identifico com a personagem porque estou o tempo todo pensado sobre o espaço das mulheres na sociedade, refletindo sobre interseccionalidade”.
E aponta a importância do feminismo em suas escolhas e posicionamentos. “Sou feminista e acho que isso deveria ser ensinado desde cedo para todas e todos. Senão vamos continuar reproduzindo o machismo, que é muito como fomos ensinados a enxergar o mundo e nos enxergarmos nele. A violência contra a mulher sempre vai chegando de rasteira, então precisamos continuar lutando por equidade, e contra essas violências que acontecem cotidianamente. Umas mais escancaradas e outras mais veladas”.
Thayla aborda mais pontos sobre a personagem. “Ela homenageia todas as mulheres, que com muita coragem combateram ou ajudaram de alguma forma exigindo liberdade, justiça, democracia e igualdade social. Isso por que, apesar de imprescindível, o papel dessas mulheres foi por muito tempo invizibilizado ou pouquíssimo reconhecido, algo não tão distante do que permanece acontecendo nos dias de hoje”, ressalta a atriz.
“Me inspirei em milhares de mulheres que participaram do movimento de resistência italiana, por exemplo, e só foram ter reconhecimento historiográfico 30 anos após o fim da guerra. Só em 1965 fizeram o primeiro documentário dando voz a elas dentro da resistência. Um absurdo. E foram fundamentais, algumas participaram diretamente da luta armada, outras, na retaguarda, cozinhando, fazendo roupas, obtendo informações dos inimigos”.
E frisa: “Admiro mulheres que não aceitam o lugar de submissão, não têm medo de explorar seu verdadeiros potenciais, falam o que pensam, e se preciso, vão à luta, ocupando os espaços que são delas por direito. São nossos por direito”.
Voz ativa
Sim, ela só tem 24 anos! Mas não foge da raia quando o assunto é posicionar-se. Avessa a regimes autoritários ou qualquer tipo de censura, Thayla aproveita para ressaltar a oportunidade de transformações que podem surgir a partir das eleições deste ano. “Para escolher um novo presidente precisamos realmente pensar mais no coletivo, ter mais consciência social, ambiental. É preciso parar de olhar para o nosso próprio umbigo, sair das nossas bolhas. Olhar para o outro faria votarmos diferente. Acho que deveríamos ir para as ruas nestas eleições, é uma ótima forma de resistir. Pela democracia, por paz, saúde, educação, segurança, tudo que tem sido negligenciado há tantos anos, e são necessidades essenciais”.
Vocação
Nascida em Niterói e criada no Rio de Janeiro, ela faz teatro desde os 15 anos. “Chegou um momento da minha vida em que me perguntava como não ser atriz. É só o que desejo ser”. E revela um desejo profissional: “Sonho em fazer uma biografia de uma mulher incrível que tenha passado por esse plano. E gostaria de fazer com ela ainda viva, porque acho que temos que homenagear as pessoas enquanto estão presentes”.
Thayla estreou na Globo em 2016, na novela ‘Rock Story’, e e lá para cá veio criando oportunidades e buscando novas formas de expressão do seu trabalho. “Estive em um projeto de co-criação artística produzido por mim e um amigo durante meses, e também produzi dois curtas-metragens, ambos finalistas do Lift-Off Global Network. Um deles protagonizei e no outro fiz a direção de fotografia”.
Escolhas
Pertencente à uma geração que já nasce íntima da relação com a tecnologia e com o meio digital, inclusive profissionalmente, ela fala sobre essa dinâmica. “Acho um pouco tóxica de forma geral, causa muita ansiedade nas pessoas. É como se você não postar, não existe. Eu tinha uma relação conturbada com as redes, por conta dessa pressão de se fazer presente, mas hoje consigo levar de forma mais leve. Posto quando quero e não me sinto obrigada”, divide.
“Tive muita ansiedade durante a pandemia. Acho que todo mundo teve, em diferentes níveis. Mesmo me reconhecendo em um lugar de privilégio, já que quando foi preciso, pude ficar em casa. Mas me cuido. Gosto de correr pela manhã. Acredito ser uma boa forma de começar o dia disposta para as atividades. E para a saúde mental, não fico sem terapia. Faço toda semana”.
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