*Com Bell Magalhães
Múltiplo sempre, Vitor Novello está com vários projetos. No ar, como a versão jovem de Abraão na novela “Gênesis”, na Record, e, agora, com o personagem Vitor, na reprise de “Topíssima” na mesma emissora, o ator de 25 anos não parou de produzir em nenhum momento neste período de pandemia. Ano passado, lançou o livro ‘Par ou Ímpar?’, em dobradinha com o dramaturgo Herton Gustavo Gratto. A obra é uma coletânea de poemas escritos a quatro mãos, onde intercalam as vivências de ambos, como no jogo que dá nome ao livro, e propõem o resgate de uma infância coletiva: “Acredito que a maioria das pessoas sente um desejo em comum de seguir sendo crianças. Não com a parte birrenta e mimada da criança, mas com a que se permite ser e que ainda não aprendeu algumas amarras do mundo adulto. É um universo que me diverte e me anima. Essa ideia de poder ser um pouco criança durante a vida adulta e manter o lugar de brincadeira, de ser infante, no melhor sentido do termo, e de brincar na vida”, reflete.
Mas o projeto inicial não era voltado aos poemas. O ator conta que a admiração por Gratto veio dos textos teatrais que o dramaturgo havia escrito ao longo da carreira e que, inicialmente, o primeiro encontro seria para discutir esse tipo de trabalho: “Combinamos de nos encontrar para pensar o texto de teatro. Ali começou uma grande amizade artística, profissional e de vida, mas a conexão foi tanta que começamos a ler poemas e ficar encantados com os trabalhos que já tínhamos escrito e vimos que os nossos poemas conversavam muito entre si. Nesse dia mesmo, ele já veio com essa ideia de publicarmos um livro e eu fui amadurecendo a ideia e comecei a me empolgar cada vez mais”.
Como um boa cria do teatro, Vitor não levaria muito tempo para voltar a produzir sobre o tema. Outro projeto que o ator está alinhavando é uma peça infantil, escrita por ele e o amigo Tiago Herz, a partir de duas obras. A primeira, o conto ‘O Cego Estrelinho’, do escritor moçambicano Mia Couto, e, a segunda, ‘Ideias para Adiar o Fim do Mundo’, de Ailton Krenak, ambientalista e uma das mais importantes vozes de liderança indígena contemporânea.
Devido ao distanciamento social, o espetáculo foi escrito durante reuniões virtuais, em chamadas de vídeo. “A peça vai abordar a questão ambiental, sustentabilidade e de nos entendermos como parte da natureza e nos faz questionar o porquê de muitos não se sentirem parte dela. E a maior prova disso é que vivemos em um momento de emergência climática. Por isso, a peça entra com a vontade de tratar desse assunto tão importante e emergencial de uma forma lúdica e divertida com as crianças”, conta.
Segundo Vitor, o desejo mais urgente é o de transformar a criação em livro: “Temos a vontade de publicar essa dramaturgia com alterações e imagens. A nossa vontade era montar a peça logo, mas entendemos que ela merece ser mostrada presencialmente, para poder usar todos os artifícios que utilizamos no teatro e explorarmos a interação com o público, então preferimos esperar um pouco”, relata.
Outra preocupação, contudo, é como fazer para adaptar temas densos e sérios para um público de tão pouca idade. Cair na mão do alarmismo e da falta de esperança são pontos que devem ser vistos com cuidado em uma produção com essa temática. Vitor entende que são problemas reais, mas está seguro do trabalho que está por vir: “Não queremos assustar as crianças. Iremos pela via positiva, tentando aproximá-las do que entendemos por ‘natureza’. É, sem dúvidas, uma preocupação nossa, afinal, não queremos que os pequenos tenham pesadelos após terem lido o livro ou visto o espetáculo, né? (risos) A vontade é fazer com que eles se sintam convocados a participar, no sentido positivo do termo: da brincadeira de que cuidar do mundo pode ser muito divertido, e não ruim ou chato”. Ele ainda diz que espera criar uma diálogo de conhecimento com as crianças: “As novas gerações estão cada vez mais antenadas nas informações e também têm muito o que nos ensinar. A vontade com essa dramaturgia é estabelecer uma troca”.
Vitor diz ter recobrado o gosto por escrever durante a pandemia, mas é algo que o acompanha desde criança: “No colégio eu adorava redação. Era uma atividades que sempre gostei. Era quase que uma das minhas experiências preferidas, realmente, na vida escolar. E esse desejo de escrever e seguir escrevendo está cada vez mais latente em mim. Tenho estudado muito, pesquisado dramaturgia, feito cursos nesse período tão difícil que estamos vivendo”.
Durante este período, Vitor Novello, que também é músico, lançou vários singles com sua banda, Monte. Além da leitura, compõe e pesquisa nos tempos livres e diz que está praticando o chamado “recuo estratégico”: “É um momento de aprender e ouvir. Vi um artista colombiano do Mapa Teatro falando que talvez seja um momento de darmos um recuo, no sentido de pausar um pouquinho para escutar, para pesquisar. Me sinto nesse momento de coletar informações e ouvir pessoas que têm feito dramaturgia”, afirma.
Falando em recuo, a TV Record se viu obrigada a voltar atrás na decisão de continuar as gravações da novela “Gênesis“, como falamos em outra ocasião aqui no site HT. A emissora interrompeu a presença no set até o dia 13 devido ao aumento dos casos de Covid-19 entre funcionários e que, infelizmente, resultou na morte de um prestador de serviços da emissora. “Quando eu estava gravando, mesmo com os diversos protocolos, senti medo. Não vou dizer que não senti, porque estamos falando de um vírus que não conhecemos. Apesar desse medo, não posso ser injusto em dizer que não havia um protocolo. Ele existia, era aplicado pela emissora e era muito bem feito”.
Sobre a coletividade, o escritor faz uma súplica aos brasileiros em tom de desabafo: “Sabemos como estão as ocupações dos leitos de UTI. Sou a favor de ficarmos em casa sempre que pudermos, temos que tomar uma decisão pelo outro. Existem pessoas que não têm a oportunidade de parar, seja por trabalho ou por outras questões. Se tenho esse privilégio de estudar e poder trabalhar de casa, posso continuar em isolamento”, no que conclui: “É sobre cada um, sobre a empatia e solidariedade…Palavras que estão em baixa, e eu não sei o porquê. Parece que todos querem que sejam solidários e tenham empatia com eles mesmos, mas ninguém quer ter pelo próximo”.
Novos planos
Passados três meses e meio desse 2021, Vitor espera ansiosamente o reencontro com o público nos shows e no teatro: “Tenho uma saudade imensa do palco, da coxia, dos amigos e das amigas que eu fiz nessa trajetória, e de pessoas que eu ainda nem conheço e que vou conhecer nesse futuro. Podem ter certeza que estarei correndo atrás do teatro onde ele estiver”.
O ator, autor e músico diz que adora ser surpreendido pelas peripécias do destino: “Não esperava escrever um livro de poesia, um espetáculo infantil, mas fui pego de surpresa. Acredito muito nisso, em se deixar surpreender. Além disso, ele compartilha o desejo que nutre para o futuro do Brasil: “Espero que todos sejam vacinados contra Covid-19 o mais rápido possível. Que as pessoas acreditem na ciência, tomem os cuidados necessários, porque só assim vamos conseguir, enquanto corpo coletivo de uma sociedade, sair da situação horrível que nos encontramos agora”, conclui.
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