O relógio marcava 22h43min pelo horário de Brasília – “Babilônia” não havia acabado há nem 20 minutos – quando Rodrigo Lombardi e Alessandra Ambrósio protagonizaram uma cena de sexo quentíssimo no primeiro capítulo de “Verdades Secretas”, na TV Globo. Com direito a papai e mamãe, calcinha e bumbum de fora, o folhetim de Walcyr Carrasco chegou colocando o pé na porta em um momento em que a patrulha conservadora tem ligado a grande angular sob a dramaturgia. E a promessa é que o roteiro vá além: vai ter gay, muito sexo e prostituição.
Tudo bem justificado – bom citar – com o mundo da moda como plano de fundo. O submundo fashion, trazendo à tona o book rosa (aliciamento de modelos para prostituição) e o jogo de egos e glamour da cena, é um acerto de Walcyr Carrasco. O motivo? É um tema atual, inédito, e que cai como uma luva para abordar as polêmicas que ele queria para inaugurar o horário, finalmente com um material jamais visto na televisão – após uma série de remakes. E a turma que vai dar molho a essa mistura já mostrou a que veio nesta segunda-feira (dia 8).
A começar por Drica Moraes. A atriz assumiu o papel de Carolina em meio a sua segunda dança das cadeiras: primeiro deixou “Império” por conta de problemas de saúde, e, agora, entrou no lugar de Deborah Secco, que está no terceiro mês de gestação. A atuação de Drica poderia muito bem ter sido escrita neste espaço antes mesmo da novela começar. Na pele de uma mulher traída pelo marido que vai recomeçar a vida em São Paulo e precisa cuidar da única filha; a atriz comprovou que tem vocação para mulheres fortes e que, se preciso for, carrega “Verdades Secretas” nas costas.
Mas, felizmente, não será preciso. Ela tem ao lado Camila Queiroz, que expôs seu rosto em um folhetim pela primeira vez, e foi uma grata surpresa. Como a jovem Arlete/Angel, sonhou chorou, sofreu humilhação, e mostrou que não é só uma carinha bonita com manequim adequado para interpretar uma modelo. A personagem de Camila vai se prostituir e disputar o homem com a própria mãe. Não é brincadeira de tablado, babies. E a menina não deixou transparecer que é nova nessa história e que sim, mereceu a chance de estrear já como protagonista.
Numa continuidade de acertos no elenco, Rainer Cadete é um susto e uma alegria simultaneamente. Sem barba, de salto alto, cabelos raspados e afeminado até dizer chega, seu Visky foi o responsável por nos tirar as únicas gargalhas do capítulo de estreia, em uma performance daquelas: segurou no peito um olheiro de modelos afetado, com texto divertido, e mesmo com dicção vezes falha, prendeu nossos olhos em um personagem que certamente toma para si as atenções quando surge. Mesmo quando ao seu lado tem Marieta Severo, que depois de décadas, deixou a dona de casa Nenê de “A Grande Família” para nos presentear com uma vilã, agenciadora de modelos para prostituição.
Com um elenco acertado, “Verdades Secretas” não mostrou um capítulo ágil, às vezes calmo até demais. Nada que se compare ao que está por vir. Como abrimos esse texto sugerindo, de serena a trama nada tem. O que é de despertar curiosidade, já que sucede a trama de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, que foi ceifada pelos conservadores por muito sexo, beijo gay e prostituição. No caso de “Babilônia”, as garotas de programa sumiram, o sexo diminuiu e o beijo gay, coitado, se mudou para Bagdá sem passagem de volta. No de “Verdades Secretas”, o sexo e a prostituição norteiam o enredo, e, pelo que pudemos ver, não deixarão ele tão fácil. Que o digam Rodrigo Lombardi e Alessandra Ambrósio (que cena, senhores!).
A verdade é que Sodoma e Gomorra sempre estiveram por aqui, mas agora vão vestir Dior, sediar uma fashion week e mostrar que o glamour tem sim seus calabouços. Walcyr Carrasco sabe bem em que tempo vivemos, e melhor: não tem medo de grupos de discussão. Os próximos meses serão de muita verdade estampada na cara do telespectador, nem que para isso braguilhas sejam abertas, ou carteiras escancaradas após um gemido. Ui!
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