Vanessa Giácomo está na primeira novela da HBO Max, no elenco de filme sobre o narcotráfico no Rio e vai produzir longa


Nesta entrevista exclusiva, a artista que está no ar no Globoplay com a série ‘Chuva Negra’, conta que seus horizontes vem se ampliando nos últimos anos e não somente após sua saída do quadro fixo da Globo: ela vem tomando as rédeas da direção da sua vida profissional. Vanessa também acaba de ocupar a cadeira de número 55, cujo patrono foi Chico Anysio, na Academia Brasileira de Cultura. Como atriz, está no elenco de ‘O Jogo que Mudou a História’, que acompanha a ascensão do narcotráfico no Rio de Janeiro, uma parceria do Globoplay com a AfroReggae Audiovisual, prevista para 2024; e grava a primeira novela da HBO Max, ‘Beleza Fatal’, para o início do ano. Mas quer mais: vem equilibrando os ‘pratinhos’ da atriz, da empresária, em parceiras com marcas que acredita; da sua versão mãe de três (Raul, Moisés e Maria); além de estar escrevendo e produzindo: “Tenho muitas ideias e anoto tudo. Sou curiosa pela vida, pelas pessoas. É daí que vem minha matéria-prima para criar meus projetos, não deixo passar. Vou, inclusive, apresentar um para o Globoplay. Agora venho desenvolvendo mais esse lado meu. Comecei a perder a vergonha disso”

*Por Brunna Condini

Foi um ano decisivo para Vanessa Giácomo, com experiências que apontam novos rumos na trajetória da atriz. Após 20 anos como contratada da TV Globo, ela vem seguindo rumos cada vez mais autônomos desde maio. “As portas da emissora estão abertas. Mas esse é um movimento de libertação para os atores. Claro que é também um desafio enorme, estou aprendendo muito”, diz. Atualmente Vanessa tem aproveitado as oportunidades no streaming, onde revela que pretende estar ainda na versão criadora. “Estou escrevendo, produzindo, é sim, um momento mais autoral”.

Vanessa pode ser vista na série ‘Chuva Negra‘, disponível no Globoplay, está também no elenco de ‘O Jogo que Mudou a História‘, que acompanha a ascensão no narcotráfico no Rio de Janeiro, criação e produção de José Junior, direção geral de Heitor Dhalia e é uma parceria do Globoplay com a AfroReggae Audiovisual, prevista para 2024. Além disso, grava a primeira novela da HBO Max, ‘Beleza Fatal’, para o início do ano. E no combo novidades, anuncia que sua versão criadora vai se fortalecer daqui pra frente. “Comprei os direitos de um livro da Patrícia Mello para transformar em filme. Também estou com alguns projetos que escrevi, alguns em parceria com um outro autor Rafael Peixoto, e com a atriz  Isabelle Nassar. Fora isso, estou produzindo uma série baseada em um curta-metragem meu, ‘Rodízio‘ (2016), um drama, fala de questões familiares, mas com muita leveza. A escolha de um projeto pra mim é o maior desafio, é uma responsabilidade grande. Mas me cerco de pessoas talentosas, que tenham a minha vibe, sou sossegada. É assim que pretendo produzir meus projetos”.

Tenho muitas ideias e anoto tudo. Sou curiosa pela vida, pelas pessoas. É daí que vem minha matéria-prima para criar, não deixo passar. Agora venho desenvolvendo mais esse lado meu. Comecei a perder a vergonha disso – Vanessa Giácomo

Sobre os anos dedicados à TV Globo, Vanessa constata. “Tenho muito orgulho de ter trabalhado lá estes anos todos, aprendi muito com as novelas, os trabalhos que realizei. Fazer novela te dá outra bagagem como atriz, são muitas cenas por dia, é um trabalho intenso. Mas acho que o mundo está em outro movimento mesmo”.

Se eu quero fazer cinema, séries em plataformas diferentes, fica impraticável ser contratada, é um caminho natural ir para o mercado. É uma escolha natural, tanto da minha parte, quanto da parte deles. minha saída foi um movimento feito com muito respeito, tenho carinho pela emissora. Tenho, inclusive, um projeto que pretendo apresentar para eles, para o Globoplay. Seguimos juntos, de formas diferentes – Vanessa Giácomo

A atriz nos bastidores de 'Travessia' (2022), sua última novela na Globo (Reprodução/Globo)

A atriz nos bastidores de ‘Travessia’ (2022), sua última novela na Globo (Reprodução/Globo)

E revela: “Me organizei para essa saída. Via esse movimento, e ao mesmo tempo, nunca fiquei nessa segurança de que quando meu contrato estava perto de encerrar, seria renovado automaticamente. Sempre fui muito cautelosa em relação a isso. De me organizar financeiramente, de empreender fora. Tenho um lugar que alugo para outras plataformas de streaming, não alugava para a Globo porque era contratada. Agora já alugo também para eles. Ou seja, faço outras coisas além da profissão de atriz, que vão me dando mais segurança para que eu possa escolher calmamente o que quero fazer. Por isso esse momento é tão especial, estou tranquila, analisando as possibilidades sem afobação. Porque existe essa insegurança no meio artístico, de ter que emendar trabalhos, de ter que estar sendo vista, mas me preparei para o que estou vivendo e me sinto mais calma para escolher. Na verdade, eu já vinha criando a minha autonomia de gestão de carreira mesmo contratada, nunca fui obrigada a fazer nenhum trabalho na Globo, tudo sempre foi muito conversado”.

Vanessa Giácomo como embaixadora da marca de joias Farht , que lançou nova coleção recentemente (Foto: Guilherme Lima)

Vanessa Giácomo como embaixadora da marca de joias Farht , que lançou nova coleção recentemente (Foto: Guilherme Lima)

Amadurecimento

“Quando a minha mãe partiu, foi uma grande ruptura. Estava com meus meninos pequenos, sozinha e tive que ter muita força para seguir”, relembra. Ivonete morreu há 11 anos, em consequência de um câncer. “Foi muito duro, difícil, mas amadureci demais. Tive que criar uma ‘casca’ da noite para o dia, e essa foi a primeira grande transformação que veio trazendo mais maturidade na minha vida. Hoje, aos 40, vejo como os últimos anos acrescentaram camadas que eu não tinha antes. Teve também a pandemia, que fez a gente enxergar o mundo de outra forma. Me sinto em constante evolução”.

Vanessa Giácomo e sua mãe, Ivonete (Acervo pessoal/ Reprodução Instagram)

Vanessa Giácomo e sua mãe, Ivonete (Acervo pessoal/ Reprodução Instagram)

Sobre a perda da mãe, aos 55 anos, a atriz acrescenta: “Ela era uma rede de apoio muito forte, minha melhor amiga, tudo para mim. Da noite para o dia, eu não tinha mais com quem dividir o que eu estava sentindo de felicidade ou tristeza. Tenho amigos, claro, mas a relação com minha mãe era única. A partir dali, peguei as rédeas da minha vida ainda mais firmes. Queria fazer escolhas que fizessem sentido. Não me permito mais desperdiçar o tempo”.

Academia Brasileira de Cultura

Como atriz, ela pode ser vista na série ‘Chuva Negra’, disponível no Globoplay, e em novembro deste ano experimentou uma emoção diferente de tudo o que já viveu. Convidada  pela Academia Brasileira de Cultura para ocupar a  cadeira de número 55, cujo patrono foi Chico Anysio (1931-2012), ela comenta sobre sua escolha. “É difícil responder isso…têm muitos atores e atrizes com trajetórias lindas, que também poderiam ocupar essa cadeira. Trabalhei com o Chico em ‘Sinhá Moça’ (2006), tive a oportunidade de dividir camarim com ele, então estar neste lugar que foi dele se torna tudo ainda mais emocionante. O Chico  sempre foi uma inspiração, e não só para a minha geração, mas para as futuras. Seu legado é eterno”.

No dia que tomei posse passou um filme na minha cabeça. Uma retrospectiva da minha vida até aqui. Sou uma pessoa de uma cidade do interior (Volta Redonda) que nunca teve artista na família. O que tive foi uma mãe e uma avó que me deram muita força, e possivelmente teriam sido atrizes se tivessem tido apoio – Vanessa Giácomo

Vanessa Giácomo e Camila Pitanga ensaiam cena de 'Beleza Fatal' diante da diretora Giovanna Machline (Reprodução/Instagram)

Vanessa Giácomo e Camila Pitanga ensaiam cena de ‘Beleza Fatal’ diante da diretora Giovanna Machline (Reprodução/Instagram)

Versão empreendedora

A artista vem se desenvolvendo paralelamente como empresária. À frente da Amai  marca de pijamas personalizados feitos a mão, e de uma linha de óculos e esmaltes veganos da La Femme que levam o seu nome. “Sempre gostei de empreender, de apostar em algo e ir atrás. A linha de pijamas nasceu na pandemia, por essa necessidade de usar pijamas, roupas confortáveis, durante o tempo que ficamos mais em casa, que foi longo. Desenvolvi com uma amiga de Goiânia. Também estou com uma collab pela segunda vez com a Maria Valentina, uma marca do grupo Morena Rosa. Participei ativamente da coleção”. E completa: “A linha de esmaltes veganos escolhi porque se conecta ao que acredito. Como carne, mas diminui muito o consumo”.

Precisamos nos alinhar ao futuro. Podemos fazer produtos de qualidade sem envolver testes em animais ou algo com este tipo de origem em sua composição. Quando me conecto à uma marca, me envolvo em tudo e tem que ter a ver com minha essência- Vanessa Giácomo

Vanessa Giácomo e sua linha de esmaltes veganos para a marca La Femme (Divulgação)

Vanessa Giácomo e sua linha de esmaltes veganos para a marca La Femme (Divulgação)

Versão mãe

“Nasce um filho, nasce uma culpa”, afirma Vanessa, ao refletir sobre como lida com o tema em relação à sua maternidade. Ela é mãe de três: de Raul e Moisés, 15 e 13, com o ator Daniel Oliveira; e de Maria, 8, do seu casamento com o empresário Giuseppe Dioguard. “Apesar de toda culpa, inerente a esse papel de mãe, tento administrar bem o meu tempo, para que ele seja de qualidade, tanto com as pessoas que amo, quanto para o trabalho. Sou muito prática e organizada com o que preciso fazer, isso facilita. Gosto e quero participar da vida dos meus filhos. E tento não perder as coisas mais importantes que tenho para viver ao lado deles. A vida é essa tentativa de administrar tudo o melhor possível e estando presente. O mais importante é fazer de verdade, por isso não me interessa a quantidade de projetos em que estou envolvida, mas que eles façam o meu coração disparar”. Sobre as diferentes fases em que os filhos estão e suas demandas pessoais, a atriz sintetiza:

Sou uma mãe atenta. Educar é o tempo inteiro e não é tarefa fácil. Graças a Deus posso dizer que tenho três filhos maravilhosos, educados, respeitosos. Tem a ver com passar valores, empatia, é o discurso e a prática, o exemplo, que educam – Vanessa Giácomo

E finaliza. “Tenho uma relação próxima com os três, de profundo amor e amizade. Tanto, que os meninos que estão em fases de adolescência e pré-adolescência, estão passando bem por isso. Não está dolorido. Pelo menos, até agora (risos). Conversamos muito”, compartilha, sobre os herdeiros que procura preservar de qualquer exposição.

Um raro registro dos filhos de Vanessa Giácomo: Raul, Moisés e Maria (Reprodução/Instagram)

Um raro registro dos filhos de Vanessa Giácomo: Raul, Moisés e Maria (Reprodução/Instagram)

Fortalecendo a cultura

Vanessa começou a estudar teatro aos 13 anos e fez sua estreia oficial na TV já como protagonista em ‘A Cabocla’ (2004), como Zuca. “Fazia teatro desde cedo apoiada por essas mulheres maravilhosas, minha avó e minha mãe, que reconheceram em mim a vocação artística. Da primeira novela para cá, o tempo voou. Me sinto privilegiada de poder viver da minha arte. Tenho muito respeito pelo meu ofício. Minha trajetória foi sempre de muito trabalho e dedicação até aqui, talvez por isso eu tenha ocupado essa cadeira na Academia Brasileira de Cultura, criada para fomentar, fortalecer o setor cultural. É um honra grande”.

Vanessa Giácomo foi convidada, pela Academia Brasileira de Cultura, para ocupar a cadeira de número 55, cujo patrono é Chico Anysio (Reprodução/ Instagram)

Vanessa Giácomo foi convidada, pela Academia Brasileira de Cultura, para ocupar a cadeira de número 55, cujo patrono é Chico Anysio (Reprodução/ Instagram)