Valentina Herszage vive influenciadora em trama das seis e reflete sobre tempos super conectados e a ansiedade


A atriz também está em três filmes no Festival do Rio. Na novela “Elas por Elas’, ela é uma menina vaidosa, que curte ostentar nas redes sociais. Valentina é o oposto disso e fala sobre o tema e divide com lida com a ansiedade e como cuida da saúde mental. “Tive pais muito cinéfilos, cresci vendo filmes, séries, televisão, indo a museus, então criei outros interesses. Também gosto muito de crochetar, gosto de trabalhos manuais como bordado e tapeçaria. São atividades que me ajudam a me acalmar, porque o celular gera uma ansiedade grande. Falo isso, mas uso a beça, acho que é algo que devo mesmo me policiar porque é muito presente na rotina hoje, em que você sente que precisa estar online o tempo todo, respondendo às pessoas, senão algo muito ruim vai acontecer”

*Por Brunna Condini

Em ‘Elas por Elas‘, trama das seis da Globo, Valentina Herszage está na pele de uma personagem diferente de tudo o que fez até agora na TV, experimentando a praia do humor: ela é Cris, filha de Lara (Deborah Secco) e Átila (Sergio Guizé), uma menina que curte a ostentação nas redes sociais e vai se envolver em um triângulo amoroso com Giovanni (Filipe Bragança) e Ísis (Rayssa Bratillieri). “Ela tem uma vaidade e egoísmo exacerbados, de quem quer porque quer algo. Tem uma vilaniazinha nesta disputa, mas com humor”.

Com personalidade oposta à sua personagem, aos 25 anos, Valentina pertence à geração Z, marcada pelo advento da internet, mas vai na contramão da tendência da conexão sem limites. Como fazer para não sucumbir a isso? “Tive pais muito cinéfilos, cresci vendo filmes, séries, televisão, indo a museus, então criei outros interesses. Também gosto muito de crochetar, gosto de trabalhos manuais como bordado e tapeçaria. São atividades que me ajudam a me acalmar, porque o celular gera uma ansiedade grande. Falo isso, mas uso a beça, acho que é algo que devo mesmo me policiar porque é muito presente na rotina hoje, em que você sente que precisa estar online o tempo todo, respondendo às pessoas, senão algo muito ruim vai acontecer. Mas sempre tive outros interesses e acho que isso me mantém mais longe de estar conectada o tempo todo”, avalia.

Valentina Herszage vive influenciadora-ostentação em trama das seis e reflete sobre os tempos super conectados, com a ansiedade que isso pode gerar (Foto: Maju Magalhães)

Valentina Herszage vive influenciadora-ostentação em trama das seis e reflete sobre os tempos super conectados, com a ansiedade que isso pode gerar (Foto: Maju Magalhães)

“É importante não abrir mão de uma qualidade de presença das coisas que experimentamos na vida por conta do celular. Não dividir uma vivência incrível mostrando primeiro para as pessoas, por exemplo. Hoje algumas pessoas têm muito esse pensamento de que se não postarem é como se não tivessem vivido. E essa ansiedade atinge muito os jovens. É bom tentar as vezes se afastar dessa conexão toda, porque as coisas não são tão urgentes assim. Falo isso apesar de eu mesma ser super ansiosa, mas é algo que penso sobre, já que é um tipo de labirinto que temos que ir trabalhando”, complementa.

Ser atriz é uma carreira muito angustiante, instável. Um período você tem vários trabalhos para conciliar, e em outros, fica tempos sem um teste. É uma montanha russa emocional – Valentina Herszage

Valentina é Cris em 'Elas por elas': "Tem uma vilaniazinha, mas tem humor" (Foto: Divulgação/ Globo)

Valentina é Cris em ‘Elas por elas’: “Tem uma vilaniazinha, mas tem humor” (Foto: Divulgação/ Globo)

Saúde mental como prioridade

Uma ansiedade alta é algo que Valentina conhece de perto, por isso cuida e valoriza tanto sua saúde mental. “Ser atriz é uma carreira muito angustiante, instável. Um período você tem vários trabalhos para conciliar, e em outros, fica tempos sem um teste. É uma montanha russa emocional. Quando entrei na faculdade, comecei a ter muita falta de ar, achando que eu tivesse alguma coisa de saúde mesmo. Mesmo minha mãe sendo psicanalista, acabou me levando em uma emergência no meu desespero, para olhar os pulmões. O médico que me atendeu disse que eu tinha pulmões de atleta e foi aí que entendi que o corpo responde mesmo às nossas angústias, e comecei a fazer análise. Existiam várias coisas que eu tinha físicas, que hoje não tenho mais, como amidalite, terçol, é muito interessante como o nosso corpo conversa com a gente. Faço análise desde 2016, nunca mais parei. Isso não quer dizer que nunca mais tive uma crise, já tive crise de pânico, por isso precisamos ter pessoas que confiamos para passar por essa. É importante saber pedir ajuda”, compartilha.

"Ser atriz é uma carreira muito angustiante, instável. Um período você tem vários trabalhos para conciliar, e em outros, fica sem um teste. É uma montanha russa emocional" (Foto: Maju Magalhães)

“Ser atriz é uma carreira muito angustiante, instável. Um período você tem vários trabalhos para conciliar, e em outros, fica sem um teste. É uma montanha russa emocional” (Foto: Maju Magalhães)

“Às vezes temos medo de falar sobre o assunto, como se aquilo fosse tomar uma dimensão ainda maior. Falar é muito importante, porque quando isso acontece, a gente se escuta. É importante ficar atento aos sinais e pedir auxílio. No momento que alguém está em uma crise de pânico, por exemplo, já ouvi que é importante fazer a pessoa se conectar com o que está acontecendo no presente, descrever, respirar. E procurar ajuda médica, claro”. E conclui: “Como dizem, a ansiedade é excesso de futuro mesmo, estamos muito preocupados com o que vai acontecer lá na frente. Estou nesse momento inclusive, de aprender a deixar as coisas acontecerem quando tiverem que acontecer. Porque as vezes você se preocupa muito com uma coisa e ela nem tinha chance de ter acontecido”.

Inspiração na vida

A atriz começou a carreira ainda criança e fez sua estreia em novelas em ‘Pega Pega’ (2017). Desde então, Valentina vem experimentando mais os dramas e aproveita a leveza da trama das seis. Sobre sua Cris, ela detalha:”É uma personagem que foi extremamente atualizada da versão de 1982, porque na época nem celular tinha. Ela personifica uma figura muito emblemática dessa geração de agora. Para mim é um desafio porque não sou uma pessoa muito ativa nas redes sociais. Então tenho visto muito no Instagram referências, seguido pessoas que tenham esse estilo de postar, comecei de alguma forma a acompanhá-las através das redes sociais. Fazendo também, através da minha personagem, uma brincadeira com essa figura exagerada que encontramos quando abrimos o celular”.

A humorista Castorine e Valentina Herszage são irmãs em 'Elas por Elas' (Foto: Reprodução/ Instagram)

A humorista Castorine e Valentina Herszage são irmãs em ‘Elas por Elas’ (Foto: Reprodução/ Instagram)

Está se inspirado em que tipo de influenciadoras para isso?

Acho melhor não dizer nomes, porque minha personagem não é exatamente um ótimo exemplo (risos). E na verdade, a Cris tem sido inspirada em um apanhado geral que fiz, tem um pouco o ar do momento. Tem a ver com a profissão do ator, mas também com essa profissão à parte, que é a do influencer – Valentina Herszage

E continua dissertando sobre o assunto: “Existem pessoas que trabalham com essa maior exposição da vida, criam conteúdos para compartilhar, algo que eu acho super difícil de fazer. Para mim é muito mais fácil pegar um personagem, estudar e mergulhar nele. Comecei a trabalhar muito nova, estudei para fazer isso, cursei a faculdade de Artes Cênicas. Na minha opinião, é muito mais desafiador criar um conteúdo ou até mesmo abrir a câmera ali no Instagram falando com o público. Essa é uma dificuldade que tenho”, divide. “Tem uma coisa hoje em dia das pessoas filmarem antes de viverem. Não tenho esse impulso. Quando estou vivendo uma experiência legal, não tenho o desejo de pegar um celular e registrar, mas sim, de viver. Até registro, mas gosto mais de fotografar, até para criar uma linha do tempo de memórias. Nesse sentido, e de fazer conexões, as redes são muito legais”.

"A ansiedade é excesso de futuro, estamos muito preocupados com o que vai acontecer lá na frente. Estou no momento de aprender a deixar as coisas acontecerem" (Foto: Maju Magalhães)

“A ansiedade é excesso de futuro, estamos muito preocupados com o que vai acontecer lá na frente. Estou no momento de aprender a deixar as coisas acontecerem” (Foto: Maju Magalhães)

Ela faz cinema

Valentina também está em três filmes selecionados para o Festival do Rio: ‘As Polacas’, dirigido por João Jardim. “É um filme que conta história das polcas traficadas para o Brasil no século 20. A trama acompanha a história da minha personagem, que chega no Rio de Janeiro com o filho atrás do marido, e quando chega aqui tem um baque, se vendo refém de uma rede de prostituição’, contextualiza. “Tenho descendência polonesa, isso, inclusive, foi um pré-requisito para o filme. é um filme que me orgulho muito de ter feito, e apesar de se passar em 1916 fala muito de feminismo e sororidade”.

Valentina Herszage com Caco Ciocler em 'As Polacas', de João Jardim (Divulgação)

Valentina Herszage com Caco Ciocler em ‘As Polacas’, de João Jardim (Divulgação)

A atriz também está em ‘A Batalha da Rua Maria Antonia’ de Vera Egito, e em ‘O Mensageiro’ de Lucia Murat. “O filme da Lucia, com quem sempre sonhei trabalhar, é a história de uma militante presa em 1969. A Lucia Murat foi presa na ditadura e brutalmente torturada e faz filmes sobre o tema. Estou feliz de colocarmos esse filho no mundo e podermos falar mais a respeito. quanto mais, melhor. O longa ‘A Batalha da Rua Maria Antonia’ também é sobre a ditadura, se passa em 1968, durante o movimento estudantil, e conta essa batalha que aconteceu entre os alunos de direita da faculdade Mackenzie e os de esquerda da USP. Olha, tem muito o tema ditadura neste momento nos filmes que estou envolvida. Também acabei de filmar ‘Ainda Estou Aqui“, do Walter Salles, que se passa em 1971, no ano do assassinato do ex-deputado Rubens Paiva. Precisamos falar sobre isso, até para refletir o que passamos nos últimos quatro anos e o que queremos construir agora como Brasil. No filme, minha personagem, Eunice, mulher dele, era uma dona de casa, se torna uma militante e termina a vida com Parkinson. Uma metáfora aí dessa mulher que perdeu a memória e do Brasil que faz questão de esquecer a ditadura”, conclui Valentina, que também está em ‘Fim‘, série da Globoplay que estreia em outubro.