Vai ter idoso na TV e chega de etarismo! Série do Multishow quebra padrões voltando os holofotes para a terceira idade


O canal estreou ‘Família Paraíso’, nova série de humor, pretendendo derrubar preconceitos em relação à terceira idade. No humorístico liderado por Leandro Hassum, com Cacau Protásio, Paulinho Serra, Viviane Araújo, e time de peso de atores veteranos, a ideia é lançar um novo olhar para essa fase da vida, mostrando através das tramas que acontecem em uma casa de convivência, que os idosos podem ter vitalidade e autoconfiança, e precisam ter seus lugares de fala preservados. “Esse tipo de produção é muito necessária. Se a série conseguir realmente quebrar estereótipos, melhor ainda. Não se pode reforçar rótulos de uma velhice tida como ‘inútil’, dependente. Abrir a pauta do envelhecimento é importante. É fundamental expandir as possibilidades temáticas que este grupo comporta”, observa Valmir Moratelli, pesquisador em teledramaturgia, roteirista e diretor do filme ‘Prateados – A vida em tempos de madureza‘. Nesta matéria, para ampliar o olhar, o site ouviu Moratelli e alguns dos experientes atores que estão na atração. Vem saber!

*Por Brunna Condini
São muitos os desafios para envelhecer com alguma dignidade no Brasil: falta respeito, acolhimento, políticas públicas, e talvez, o principal: reconhecer como valiosa a trajetória de alguém que viveu tanto. E estamos vivendo cada vez mais: segundo o IBGE, já ultrapassa 30 milhões o número de pessoas acima dos 60 anos de idade no Brasil. A expectativa é que, a partir de 2039, o país tenha mais pessoas idosas do que crianças na sua configuração populacional. E por que, apesar disso, ainda se relaciona ficar velho a tantos esteriótipos negativos? É preciso dar atenção ao tema e debater o etarismo no país. Quando pensamos no audiovisual, principalmente na TV, nem a arte de viver com longevidade passa ‘batida’ pelo padrão, que neste caso, é ter juventude ou fazer tudo para não parecer velho. De olho neste público, o Multishow estreou ‘Família Paraíso‘, nova série de humor do canal, pretendendo derrubar preconceitos em relação ao tema. No humorístico liderado por Leandro Hassum, a ideia é lançar um novo olhar para a terceira idade, mostrando através das tramas que acontecem em uma casa de convivência, que os idosos podem ter vitalidade e autoconfiança, e precisam ter seus lugares de fala preservados.
“É muito importante que a pauta do etarismo seja debatida na mídia, até porque ela é formadora de opinião. É a grande válvula compressora para gerar conteúdos, novas formas de visão, de identidade, de graus de pertencimento dentro de um país. Por conta disso, pensar o envelhecimento populacional em uma sociedade que sempre se entendeu como jovem, é necessário e urgente, principalmente no momento que atravessamos”, observa Valmir Moratelli, pesquisador em teledramaturgia, roteirista e diretor do filme ‘Prateados – A vida em tempos de madureza’. E acrescenta: “Esse tipo de produção é muito necessária. Se a série conseguir realmente quebrar estereótipos, melhor ainda. Não se pode reforçar rótulos de uma velhice tida como ‘inútil’, dependente. Abrir a pauta do envelhecimento é importante. É fundamental ampliar as possibilidades temáticas que este grupo comporta”, frisa.
O elenco da série 'Família Paraíso', no Multishow, que conta com Leandro Hassun, Cacau Protásio, Paulinho Serra e Viviane Araújo, e em maior número, com os atores veteranos (Divulgação/ Multishow)

O elenco da série ‘Família Paraíso’, no Multishow, que conta com Leandro Hassun, Cacau Protásio, Paulinho Serra e Viviane Araújo, e em maior número, com os atores veteranos (Divulgação/ Multishow)

“São pautas que carecem de maior profundidade, e a mídia, os programas de TV, produções audiovisuais, precisam estar atentos à essa visibilidade. Só assim vamos conseguir destruir preconceitos enraizados em mais de 500 anos, em um país que sempre valorizou unicamente a juventude, no sistema mais perverso que o capitalismo pode propor, de que só se é útil se você está produzindo. E essa produção mecanizada, na base da força, valoriza um corpo sempre visto como jovem. O corpo velho, que tem sabedoria, experiência, e traz contido nele suas vivências particulares ao longo de uma vida, muitas vezes é renegado à uma invisibilidade, simplesmente porque não o entendem mais útil”, completa Moratelli.
A arte de viver
O humorístico ‘Família Paraíso‘ é uma parceria do Multishow e da TV Globo, que reforça o poder de um ambiente acolhedor e pretende criar identificação com o público através de um conteúdo leve e para toda a família.  A atração é exibida de segunda a sexta, sempre às 22h30, com direção de César Rodrigues. Em outubro, o programa vai ao ar na TV Globo. O elenco, encabeçado por Leandro Hassun, que volta à emissora após o encerramento do seu contrato em 2019, conta com Cacau Protásio, Paulinho Serra e Viviane Araújo, além da time de atores veteranos: Artur Kohl, Ataíde Arcoverde, Cosme dos Santos, Flavio Bellini, Guida Vianna, Teca Pereira, e Silvio Mattos. “Existem programa infantis, adolescentes, e essa é uma oportunidade para os idosos. Não se viu ainda, um programa feito por idosos, para idosos e não-idosos. O tempo passou, mas nós não. Os jovens vão ver que não precisam nos tratar feito coitadinhos. E que o mercado veja que estamos aqui”, diz Teca Pereira, de 69 anos, que vive Perpétua na atração.
Os atores Teca Pereira, Leandro Hassun e Silvio Mattos em 'Familia Paraiso" (Divulgação/ Multishow)

Os atores Teca Pereira, Leandro Hassun e Silvio Mattos em ‘Familia Paraiso” (Divulgação/ Multishow)

Ataíde Arcoverde, intérprete de Raulzito no ‘Família‘, ficou no imaginário popular com o personagem Salsichão, o mordomo de Lady Kate (Katiuscia Canoro), no extinto ‘Zorra Total’. O ator, sempre bem-humorado, comenta: “Venho fazendo personagens em outros humorísticos como o ‘Xilindró’, ‘A Vila’, também no Multishow, que têm dado esse espaço para a terceira idade. Mas neste programa, estou fazendo eu, no meu tempo, com a minha idade, e o que estou vivendo nestes 68 anos que acabo de completar”, diz. “Essa série é simplesmente um momento mágico. É confortável porque é próximo de mim, da minha irreverência, maneira de pensar. Sou uma pessoa que tenho 25 anos no máximo, o corpo é que está despencando”, diverte-se.
O ator e humorista Ataide Arcoverde em 'Família Paraíso', no Multishow (Divulgação/ Multishow)

O ator e humorista Ataide Arcoverde em ‘Família Paraíso’, no Multishow (Divulgação/ Multishow)

E acrescenta: “Acho que a gente vai conscientizar as pessoas da nossa idade, que a possibilidade de ser feliz existe e é ímpar. Depende da gente querer viver. Acho a vida um luxo. Quero viver muito ainda, e como planejo chegar até 100 anos, quero casar mais umas quatro vezes pelo menos (risos). Olha, de verdade, é um luxo contar a história dessas pessoas que já estão em uma fase da vida, onde milhares de brasileiros já perderam a esperança, os sonhos, as alegrias de viver, seus entes queridos. A ‘Família Paraiso’, é uma casa casa de convivência onde colocam as pessoas para serem felizes. Para seguirem com prazer essa jornada que ainda estão”.

A atriz, diretora e professora de interpretação Guida Vianna, aponta a pertinência da série no momento atual. “Estamos vivendo mais, então, que tipo de envelhecimento saudável, com políticas públicas, o Brasil vai proporcionar aos idosos? Acho que o programa mostra o idoso de uma forma alegre, jovial. Cada personagem tem o seu interesse. A minha, a Rosinha, por exemplo, é uma velha que não desistiu de paquerar. Não desistiu ainda da vida”, observa. “O barato, é que mostramos idosos diferentes, não aquele bloco homogêneo, como muitos insistem em nos ver. Estamos aqui, somos ainda população ativa. Estamos no jogo, não nos coloquem no banco reserva!”.

A atriz Guida Vianna vive personagem que não desistiu de amar no humorístico 'Família Paraíso' (Divulgação/ Multishow)

A atriz Guida Vianna vive personagem que não desistiu de amar no humorístico ‘Família Paraíso’ (Divulgação/ Multishow)

Conhecida pela carreira no teatro, e pelos papéis em novelas, Guida sonhava em fazer humor na TV. “Essa série é genial, porque o Brasil é preconceituoso em relação aos idosos. Por aqui a juventude é idolatrada. O Rio de Janeiro nem se fala, é a juventude linda e bronzeada que mostra seu valor. Então, achei tão bom ter essa série que se passa na melhor idade ou na pior (risos)…seja lá como quiserem chamar. Tenho 68 anos, e o meu maior trauma, já disse para a minha filha, é um dia estar na rua, ser atropelada, e sair no jornal: “A idosa foi atropelada em tal lugar”. Não botam o nome. O idoso tem identidade, ora. Ele hoje vai à academia, faz seu esporte, tenta se manter atualizado o tempo todo, tenta entender a internet. Acho o máximo Tik Tok de avó com neto, por exemplo. É fundamental saberem que estamos produtivos e ainda queremos o que a vida tem de melhor”, completa.